A Espanha está elaborando um plano de salvamento para o Bankia que provavelmente envolverá a injeção de bilhões de euros em dinheiro público na problemática instituição. A formulação do socorro se inicia num momento em que Rodrigo Rato, o então presidente executivo do banco e ex-diretor-gerente do FMI, anunciou sua renúncia ao cargo.

Em uma rápida reversão de política econômica por parte do governo da Espanha, que até agora insistia que nenhum volume adicional de dinheiro público seria usado para sanear o setor bancário do país, o Ministério da Economia confirmou que um plano de intervenção no Bankia, o terceiro maior banco espanhol em termos de ativos, está em fase de formulação.

O governo tem uma fonte disponível de recursos para injetar capital no Bankia, por meio do emprego do fundo estatal Frob de reestruturação de bancos, e estuda a possibilidade de usar bônus conversíveis contingenciais, informou uma fonte do Ministério da Economia, sem comentar a quantia que o banco necessita.

Rato, ex-ministro da Fazenda da Espanha que foi nomeado para encabeçar o Bankia apesar de ter pouca experiência como dirigente de banco comercial, disse que deixaria o cargo logo depois da divulgação da notícia da intervenção. Rato informou em comunicado que tinha proposto José Goirigolzarri, ex-principal executivo do concorrente BBVA, como seu sucessor. Goirigolzarri foi recomendado após consultas com o governo espanhol, disse uma pessoa próxima ao Bankia.

O Bankia se formou a partir de uma fusão de sete bancos de poupança espanhóis, ou "cajas", entre os quais o Caja Madrid e a Bancaja de Valência, ambos com fortes laços com o partido Popular de centro-direita, situacionista, de Rato.

Várias reportagens da imprensa espanhola indicaram que o Bankia poderá receber entre 7 bilhões de euros e 10 bilhões de euros em capital adicional. O Bankia preferiu não comentar.

O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, disse ontem em entrevista a uma rádio que o governo estudará a possibilidade de injetar recursos governamentais no setor bancário, caso necessário, mas não mencionou qualquer instituição em particular. "Se for necessário para reativar o crédito, para salvar o sistema financeiro espanhol, eu não descartaria a injeção de recursos públicos, a exemplo do que fizeram todos os países europeus", afirmou Rajoy.

O FMI destacou o Bankia no mês passado como o maior risco à estabilidade do setor bancário espanhol. O fundo recomendou, por exemplo, que o Bankia e outros bancos adotassem "medidas rápidas e decisivas para fortalecer suas demonstrações de resultados e melhorar as práticas de direção e governança".

Parte do banco teve ações registradas na Bolsa de Madri no ano passado, levantando 3,3 bilhões de euros junto a poupadores privados e a instituições espanholas – iniciativa criticada por muitos analistas e investidores por ser, em grande medida, cosmética e por não recapitalizar suficientemente o Bankia.

As ações do Bankia caíram ontem mais de 3% na bolsa de Madri, acumulando recuo de 36,5% desde seu registro no mercado acionário no terceiro trimestre de 2011.

Alguns dirigentes de bancos e analistas argumentaram que o BFA, a empresa mantenedora do Bankia que controla a instituição registrada em bolsa e abriga o conjunto dos ativos de pior qualidade do grupo, precisa de um capital significativamente maior.

O BFA disse na última semana que tinha renegociado 9,9 bilhões de euros em ativos no ano passado para evitar que eles fossem classificados como empréstimos não quitados, equivalentes a 5% da carteira de crédito do banco, de 188 bilhões de euros.

Um dos assessores aos bancos e departamentos do governo espanhóis disse que, se a soma injetada por Madri no Bankia não for suficiente e não envolver um bom aprimoramento da administração de seus ativos de quitação duvidosa, o plano corre o risco de ter pouco resultado.

"Apenas injetar capital será o equivalente a redistribuir as poltronas no deque do Titanic", disse a pessoa. "Acho que a Espanha não admitiu para si mesma o grau de fraqueza de seus bancos e o nível de gravidade da situação."

Fonte: Valor Econômico / Miles Johnson / Financial Times, de Madri

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