O governo tem uma fonte disponível de recursos para injetar capital no Bankia, por meio do emprego do fundo estatal Frob de reestruturação de bancos, e estuda a possibilidade de usar bônus conversíveis contingenciais, informou uma fonte do Ministério da Economia, sem comentar a quantia que o banco necessita.
Rato, ex-ministro da Fazenda da Espanha que foi nomeado para encabeçar o Bankia apesar de ter pouca experiência como dirigente de banco comercial, disse que deixaria o cargo logo depois da divulgação da notícia da intervenção. Rato informou em comunicado que tinha proposto José Goirigolzarri, ex-principal executivo do concorrente BBVA, como seu sucessor. Goirigolzarri foi recomendado após consultas com o governo espanhol, disse uma pessoa próxima ao Bankia.
O Bankia se formou a partir de uma fusão de sete bancos de poupança espanhóis, ou "cajas", entre os quais o Caja Madrid e a Bancaja de Valência, ambos com fortes laços com o partido Popular de centro-direita, situacionista, de Rato.
Várias reportagens da imprensa espanhola indicaram que o Bankia poderá receber entre 7 bilhões de euros e 10 bilhões de euros em capital adicional. O Bankia preferiu não comentar.
O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, disse ontem em entrevista a uma rádio que o governo estudará a possibilidade de injetar recursos governamentais no setor bancário, caso necessário, mas não mencionou qualquer instituição em particular. "Se for necessário para reativar o crédito, para salvar o sistema financeiro espanhol, eu não descartaria a injeção de recursos públicos, a exemplo do que fizeram todos os países europeus", afirmou Rajoy.
O FMI destacou o Bankia no mês passado como o maior risco à estabilidade do setor bancário espanhol. O fundo recomendou, por exemplo, que o Bankia e outros bancos adotassem "medidas rápidas e decisivas para fortalecer suas demonstrações de resultados e melhorar as práticas de direção e governança".
Parte do banco teve ações registradas na Bolsa de Madri no ano passado, levantando 3,3 bilhões de euros junto a poupadores privados e a instituições espanholas – iniciativa criticada por muitos analistas e investidores por ser, em grande medida, cosmética e por não recapitalizar suficientemente o Bankia.
As ações do Bankia caíram ontem mais de 3% na bolsa de Madri, acumulando recuo de 36,5% desde seu registro no mercado acionário no terceiro trimestre de 2011.
Alguns dirigentes de bancos e analistas argumentaram que o BFA, a empresa mantenedora do Bankia que controla a instituição registrada em bolsa e abriga o conjunto dos ativos de pior qualidade do grupo, precisa de um capital significativamente maior.
O BFA disse na última semana que tinha renegociado 9,9 bilhões de euros em ativos no ano passado para evitar que eles fossem classificados como empréstimos não quitados, equivalentes a 5% da carteira de crédito do banco, de 188 bilhões de euros.
Um dos assessores aos bancos e departamentos do governo espanhóis disse que, se a soma injetada por Madri no Bankia não for suficiente e não envolver um bom aprimoramento da administração de seus ativos de quitação duvidosa, o plano corre o risco de ter pouco resultado.
"Apenas injetar capital será o equivalente a redistribuir as poltronas no deque do Titanic", disse a pessoa. "Acho que a Espanha não admitiu para si mesma o grau de fraqueza de seus bancos e o nível de gravidade da situação."
Fonte: Valor Econômico / Miles Johnson / Financial Times, de Madri