As mudanças na relação das pessoas com o trabalho na chamada pós-modernidade resulta em diversos conflitos. Um dos mais graves, talvez, seja a prática do assédio moral. Os modelos operacionais de gestão mais agressivos e a precariedade do trabalho visando somente o lucro e deixando de lado o ser humano estão ainda mais visíveis no trabalho bancário. As afirmações são do professor José Roberto Heloani, bacharel em Direito pela USP, mestre em Administração pela FGV-SP e doutor em Psicologia Social pela PUC-SP.

Segundo Heloani, muitos trabalhadores confundem o que é assédio moral, um assunto sério no mundo do trabalho e constantemente em pauta no Sindicato dos Bancários de São Paulo. "Assédio moral é o conjunto de práticas abusivas que atinge a personalidade e a dignidade de uma pessoa, causando muito sofrimento. Quem pratica o assédio o faz de maneira intencional", explica Heloani.

O professor lembra que casos isolados podem ser apenas mal entendidos, resolvidos com diálogo, em que a pessoa não tem intenção e muitas vezes até se desculpa. "Existe uma forte tendência em culpar o supervisor de um departamento. Esse profissional está submetido muitas vezes a uma pressão tão grande como a que ele reproduz", diz.

No entanto, o professor destaca que em muitos casos de assédio moral não é possível estabelecer uma conversa com o assediador e a saída realmente é a denúncia. "Os trabalhadores não estão sozinhos. Esse medo de denunciar pode matar. É preciso fugir da lógica da solidão. Ao ter menos medo de reivindicar seus direitos cria-se um coletivo mais maduro, com reivindicações mais maduras para alterar esta relação".

Metas abusivas

Para Roberto Heloani, o jogo do capital financeiro que invade o ambiente de trabalho da categoria bancária sai do âmbito saudável da profissão a partir do momento em que o bancário é avaliado somente pelo que vende. "São produtos que ele mesmo se sente constrangido em vender, sabendo que aquilo é inadequado para o cliente. Mas ele é obrigado a vender, e é assediado não aramente", afirma.

As conseqüências desta pressão para alcançar metas absurdas muitas vezes são doenças mentais ligadas ao estresse. E esse assunto e outros relacionados à saúde do trabalhador, principalmente em tempos de crise, serão discutidos nesta terça-feira 30, na 4ª Tarde de Aula Organizada pelo Grupo de Ação Solidária em Saúde (Gass).

O encontro será na sede do Sindicato (Rua São Bento, 413, Centro). A médica psiquiatra Edith Seligmann é convidada do encontro. Informações e inscrições pelo 3188-5270.

Fonte: Gisele Coutinho – Seeb São Paulo