Pesquisa da Associação das Empresas de Benefício ao Trabalhador (ABBT), feita em 51 municípios de todas as regiões do Brasil, comprova o que Sheila vive no seu dia a dia: o custo médio de uma refeição com prato principal, bebida, sobremesa e cafezinho está custando mais de R$ 34,00 em média. Isso significa que, em 22 dias de trabalho por mês, o trabalhador gastaria 80% de um salário mínimo, ou R$ 763,00.
FONTE: ABBT(ASSOCIAÇÃO DAS EMPRESAS DE BENEFÍCIO AO TRABALHADOR)
Situações como essa deixam os trabalhadores e trabalhadoras confusos. Por que a inflação oficial não é a mesma que a inflação em seus bolsos? A inflação oficial do ano de 2017, medida pelo IPCA foi de 2,95%. Se o preço da refeição paga pela servidora pública fosse reajustado pelo índice, hoje custaria R$ 14,95.
A técnica do Dieese, Adriana Marcolino, explica porque a inflação no bolso do trabalhador é diferente do que a inflação média divulgada pelo governo. Um dos motivos, diz ela, é que método utilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para determinar a inflação usa como base a chamada “cesta”, uma relação de produtos mais consumidos pelas famílias pesquisadas. Essa cesta pode não refletir a realidade de cada família.
“É uma média, uma construção, mas na verdade, cada pessoa, cada família tem uma cesta diferente. Cada família usa produtos de acordo com suas necessidades e isso tem impacto diferente no orçamento familiar”.
Para as famílias que não têm carro, por exemplo, o preço da gasolina não é sentido diretamente; mas para quem tem, o orçamento ficou mais apertado porque os combustíveis tiveram uma grande alta em 2017, explica a técnica do Dieese.
O segundo fator é que a inflação subiu muito em 2015 e 2016 e ainda que alguns preços tenham caído, continuam num patamar elevado. Já no salário, se houve reajuste, na maioria dos casos foi com base no índice da inflação. Não houve aumento real, como os preços altos que os trabalhadores estão sendo obrigados a arcar quando vão comer fora. Soma-se a isso, o aumento do desemprego – mais de 12 milhões de brasileiros estão desempregados, segundo o IBGE – e rotatividade que tem impacto negativo na renda das famílias.
Adriana Marcolino esclarece também que alguns preços que aumentaram em 2015 e 2016, e tiveram retração em 2017, continuam altos porque não caíram tanto quanto deveriam.
“Alguns preços continuam altos e acima do orçamento familiar”
“Vamos supor que o quilo do arroz custava R$ 5,00 no começo de 2015. Durante 2015 e em 2016 foi reajustado em 23% mas, mesmo com a queda da inflação em 2017, o preço do produto baixou apenas 6%. Portanto, continua alto e acima do orçamento familiar”.
Comida mais cara
De acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) do IBGE, para os produtos que envolvem a alimentação, a variação do índice geral foi de queda de 1,87%.
Mas, em um recorte sobre a alimentação fora de casa, o IBGE mostra que houve aumento de 3,25%.
A técnica do Dieese, Adriana Marcolino, explica que os preços nos restaurantes estão mais caros porque os proprietários devem estar computando em suas tabelas os gastos com pagamento de contas de água, gás e energia elétrica, que foram reajustados bem acima da inflação.
E isso faz com que o trabalhador que come fora de casa tenha que se reorganizar, economizar, trazer marmita, enfim, se virar para conseguir comer o mês inteiro.
O vendedor e estudante de jornalismo Hector Vinícius, é um exemplo dessa ginástica que o trabalhador precisa fazer para conseguir comer fora de casa durante a semana. Apesar de receber ticket-refeição, ele leva a própria comida, feita em casa, para o trabalho, onde há um pequeno espaço para os funcionários.
“Eu guardo parte dos meus tickets para comprar no supermercado porque fica mais barato. O que sobra, gasto à noite, na faculdade. Só que não tem sido suficiente. Em dezembro, antes das férias, eu pagava R$ 4,00 em um salgado. Hoje custa R$ 6,00”, diz Hector.
A farmacêutica Roseli Chaves também prefere levar sua própria comida ao trabalho. “Sai mais barato e eu não corro o risco ter uma alimentação de baixa qualidade já que, por economia, muitos estabelecimentos acabam aproveitando a sobra de um dia para o outro”.
“Só compro o necessário, para não ter desperdício”
Roseli também conta que no supermercado os preços estão mais altos, o que fez com que ela mudasse o hábito na hora das compras.
“Antes eu fazia compra para o mês. Agora, compro só o necessário para não ter desperdício. E do mais barato”.
E os preços podem variar de região para região. Em locais onde se encontram classes de poder aquisitivo maior, os preços são mais elevados.
O programador Thomas Kapp trabalha na região da Avenida Paulista e a empresa onde trabalha não tem refeitório. A média do valor de ticket dele é de R$ 18,00 por dia. Mas, na região, uma refeição simples, segundo ele, custa em média R$ 22,00.
Renda menor, orçamento mais apertado
A perda de renda é outro fator determinante na diminuição do poder de compra. Adriana Marcolino, do Dieese explica que, para o trabalhador que tem menores salários, alguns produtos pesam mais do bolso do que para quem tem salários maiores.
“Alta no transporte, nos alimentos, nos serviços públicos, tudo isso têm peso gigantesco para quem tem renda até dois salários. Quem tem ganhos mais altos consegue diluir no orçamento.”
Dessa forma, Adriana diz que a média de inflação que o governo anuncia, nunca será de fato a que povo sente. “É média, é um indicador, mas a realidade para cada família é diferente”, afirma Adriana. Além das diferentes realidades e da queda na renda das famílias, a “cesta” pode não refletir exatamente as necessidades e hábitos de consumo.
“Você continua tentando comprar as mesmas coisas, mas elas não cabem no orçamento”
A sensação de perda do poder de compra, do efeito da inflação, para ela, está diretamente relacionada com a renda do trabalho e a renda das famílias, que diminuiu. “Você continua tentando comprar as mesmas coisas, mas elas não cabem no orçamento”.