Depois de o Banco Central (BC) cortar a taxa básica de juros em 2,5 pontos porcentuais (para 11,25% ao ano) nas duas últimas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), o governo prepara nova ofensiva para forçar bancos a reduzir o spread, diferença entre os juros que pagam na captação do dinheiro e cobram nos empréstimos.
Um dos caminhos para forçar a queda do spread passa pelos bancos pequenos. A ideia, ainda em estudo, ressalta uma fonte, é usar o BB, a Caixa e o BNDESPar, braço de participações do BNDES, para comprar fatias de bancos pequenos e médios, capitalizá-los e fazer com que voltem a emprestar.
No ano passado, o BC já havia liberado recursos do compulsório para os grandes bancos comprarem as carteiras de crédito dos pequenos e médios que passavam por sérias dificuldades. A asfixia das linhas internacionais de crédito deixou as instituições de pequeno e médio porte sem fontes para se financiar.
Agora, o governo pode até capitalizá-los para facilitar uma eventual venda para fundos estrangeiros. Essas instituições, que respondiam em setembro por quase 20% do crédito da economia, foram as mais afetadas pela crise. "Essa injeção de capital fortaleceria os bancos pequenos e médios, facilitaria a consolidação entre eles e poderia aumentar sua capacidade de conceder crédito", diz Rodolfo Riechert, diretor do UBS Pactual.
"Os bancos pequenos estão com o pé atrás para emprestar porque temem o risco de liquidez e o risco de crédito", diz o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu. No caso da liquidez, o temor é o descasamento de prazos entre os empréstimos e o capital ao qual têm acesso. O risco de crédito diz respeito à possibilidade cada vez maior de calote, que cresce com a economia em desaceleração.
Segundo Santacreu, isso tem prejudicado especialmente pequenas e médias empresas, principais clientes dos bancos menores. O governo quer atuar justamente nessa cadeia. O objetivo é evitar que elas quebrem por falta de crédito. Autoridades acreditam que, quando esse canal estiver desentupido, contribuirá para a redução das taxas de juros e do spread.
O spread bancário disparou com a crise. Saiu de 37,6 pontos porcentuais em agosto para 43,6 pontos em janeiro. As taxas de juros nos empréstimos para pessoas físicas também saltaram de 52,1% para 55,1%.
Nas contas do sócio da Integral Trust, Roberto Troster, a situação é mais grave. O ex-economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) fez um cálculo que considera os juros e o spread apenas das novas concessões de crédito depois da crise.
Segundo Troster, o spread médio dos empréstimos para pessoa física foi de 111,85 pontos porcentuais em janeiro. Em agosto, era de 101,2 pontos. No caso dos juros, o estudo aponta para 123,35% ao ano em janeiro (ante 115,7% em agosto). "Esses dados revelam qual é o custo do dinheiro novo que entra na economia", explica Troster.
Fonte: O Estado de São Paulo / Leandro Modé e Ricardo Grinbaum Colaboração de Rui Nogueira