Com a avaliação de que a crise elevou o risco de calote, o Banco do Brasil aumentou a margem cobrada nos empréstimos para empresas e agricultores no último trimestre de 2008. A alta ocorreu a despeito da pressão feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que o banco baixasse as taxas e garantiu um aumento da lucratividade do banco.

Nos financiamentos para as pessoas jurídicas, o spread do BB – diferença entre a taxa de captação e o juro cobrado do cliente – subiu 10,6% na comparação com o 3º trimestre. Com isso, a rentabilidade do banco cresceu: enquanto o volume de crédito aumentou 11,2%, o ganho do BB com o crédito avançou 14,2%.

O balanço anual do BB divulgado na semana passada revela que o spread médio cobrado nos empréstimos para empresas passou de 6,6 para 7,3 pontos porcentuais do terceiro para o quarto trimestre de 2008. O banco explica a alta pela "necessidade de maiores despesas com provisões para fazer frente a uma possível deterioração do cenário econômico". Com o mesmo argumento, o BB aumentou o spread dos financiamentos agrícolas em 7,6%, de 5,2 para 5,6 pontos.

Diante da mudança do cenário gerada pela crise, o BB aumentou a reserva em caixa para fazer frente a uma eventual onda de inadimplência. Mas isso aconteceu no fim de janeiro de 2009 – após o período usado para o cálculo do balanço de 2008, portanto.

No dia 23 de janeiro, o banco anunciou provisão extra de R$ 1,7 bilhão. Consultado pelo Estado, o BB informou que o aumento dos spreads foi gerado também pelo aumento da demanda por crédito, num momento em que as fontes de financiamento se retraíram. "Em outubro e novembro, quando as fontes de financiamento externo se reduziram dramaticamente, a demanda por empréstimos subiu muito nas operações em dólar e em real", informa a instituição.

"Como havia insegurança a respeito da crise externa, houve momentaneamente elevação das taxas, até em função do aumento das taxas de juros futuras, que também estavam subindo", acrescentou a assessoria.

O BB informou, no entanto, que esse movimento foi "pontual” e que vem reduzindo as taxas desde novembro. O balanço mostra, ainda, que o spread nas operações para as pessoas físicas seguiu tendência contrária, caiu 1,8% entre os dois trimestres e ficou em 21,6 pontos.

Apesar da ligeira redução, o spread cobrado pelo BB nos financiamentos às famílias ainda é três vezes maior que o das operações feitas com empresas.

Fonte: O Estado de São Paulo / Fernando Nakagawa