RIBEIRÃO PRETO – O presidente da Câmara dos Deputados, Arlindo Chinaglia (PT-SP), criticou, nesta quinta-feira, 15, a postura de grandes empresas, que, por meio da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), apoiam a proposta de corte de salários e da jornada de trabalho, sem dar garantias de emprego.
Chinaglia defendeu o fortalecimento do mercado interno e lembrou que as empresas, principalmente do setor automotivo, já foram beneficiadas pelo governo com medidas contra a crise, entre elas a redução de impostos e o aumento da liquidez na concessão de crédito.
"Penso que a Fiesp poderia ampliar o seu leque de opções, porque batalhar apenas por redução de impostos em uma primeira fase e depois, quando vem a crise, não manter mercado interno fortalecido, isso joga contra o Brasil. Joga contra os trabalhadores que pagam a conta, imediatamente, mas joga também contra a indústria", disse Chinaglia, que participa de um evento na Associação de Engenharia, Arquitetura e Agronomia de Ribeirão Preto (SP).
Segundo o presidente da Câmara, o crescimento no mercado interno nos últimos quatro anos criou condições de compra e melhorou e economia. "Isso levou o empresariado brasileiro a ganhar muito dinheiro, com o setor da indústria batendo recordes. Penso que os sindicalistas, tanto patronais e trabalhadores, busquem o entendimento", afirmou Chinaglia. Ele lembrou ainda da ação da Câmara, considerada rápida pelo deputado, na aprovação de medidas do governo contra a crise, como a da compra de bancos privados pelos públicos.
Reunião – Na quarta, representantes de 17 das maiores empresas do Brasil se reuniram na Fiesp e decidiram apoiar a proposta de redução dos salários e da jornada de trabalho. Para o grupo de pesos pesados, é o caminho para evitar demissões da indústria, comércio e setor financeiro. Não se cogita no meio empresarial, porém, dar garantias de que as demissões serão interrompidas.
A sugestão foi feita na semana passada por Paulo Skaf, presidente da Fiesp. Estiveram na entidade alguns dos presidentes das maiores companhias do País, como Vale, Fiat, Siemens, Telefônica, Embraer, AmBev, Grupo Martins, Moinho Pacífico e Unipar, para a reunião do Conselho Superior Estratégico da Fiesp. Juntas, elas empregam no Brasil cerca de 250 mil pessoas. A entidade já havia conseguido dias atrás o apoio da Força Sindical, cuja base no Estado abrange 4,8 milhões de trabalhadores e 612 sindicatos.
Skaf, como representante do grupo, afirmou que o apoio à redução de salário e de horas trabalhadas foi unânime. Para os empregadores, é a melhor maneira de não demitir no curto prazo. O presidente da Fiesp não economizou nas alfinetadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT). "Quem é contra redução de salário e de jornada num momento atípico desses está a favor do desemprego. Negociaremos com a CUT ou sem ela", avisou.
A CUT é contra a sugestão da federação paulista, mas admite aprovar outras medidas de contenção de cortes. Quintino Severo, secretário-geral da central, avaliou que a discussão deva ser de âmbito nacional, e não se restringir ao universo da Fiesp. "Em nenhum momento a Fiesp concordou em garantir o emprego e nós não abrimos mão dos direitos dos trabalhadores. As discussões não podem ser unilaterais, por isso temos procurado dialogar com todos os lados", explicou Severo.
Fonte: O Estado de São Paulo / Gustavo Porto, da Agência Estado