Um dos maiores investidores do País em capital de empresas, a Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, viu seu superávit se reduzir à metade em 2008, na esteira da crise financeira. O saldo positivo de R$ 52 bilhões de 2007 caiu para R$ 26,3 bilhões em função principalmente das fortes perdas na Bolsa de Valores de São Paulo. Sérgio Rosa, presidente do fundo, acredita que 2009 será um ano ainda mais "difícil" para a tomada de decisão de investir ou desinvestir, por causa do alto grau de incerteza sobre o rumo da economia mundial.

"A queda, depois da quebra do Lehman Brothers, foi tão abrupta que você não tinha o que fazer. Podia se descabelar e tentar entender porque (a Bolsa) subia 5% em um dia e caía 8% no outro. Mas não tinha muito o que fazer", disse Rosa, que ontem apresentou o balanço de 2008 do fundo. Os investimentos em ações representam 57% do patrimônio da Previ. No ano passado, chegaram a 66% de participação. Só as perdas nessas participações somaram R$ 21 bilhões em 2008, quase todo o resultado negativo apurado no período, que ficou em R$ 26,6 bilhões. Em 2007, a Previ ganhou mais de R$ 30 bilhões nesse segmento.

Antes da crise, a Previ chegou a acumular um patrimônio de quase R$ 140 bilhões. Hoje, o saldo é de R$ 116 bilhões. Para Sérgio Rosa, não há como afirmar que a crise e seus efeitos serão passageiros. Por isso, prevê um 2009 mais difícil. "É pior porque a gente passa o tempo todo se questionando se deveria fazer um movimento estratégico mais significativo. É pior porque temos de tomar alguma decisão, seja ela um movimento mais significativa ou mesmo ficar parado. E isso implica uma dose de risco, mesmo que seja ficar mais parado."

Com uma carteira de participação em mais de 70 empresas, a Previ participa do bloco de controle de importantes grupos nacionais. A Vale e a Embraer (que teve o controle pulverizado) estão entre as maiores. As duas demitiram em massa para reduzir custos e enfrentar a crise: ao todo, 5,3 mil trabalhadores foram dispensados nos dois grupos. Rosa, que iniciou sua carreira pública como presidente do Sindicato dos Bancários, em São Paulo, justificou as demissões como "ajustes necessários" para lidar com a nova realidade da economia.

O executivo admite que, como representante de um fundo de empregados, não vê com bons olhos o caminho da demissão para o equilíbrio financeiro da companhia. Mas ressalta que, na mudança do cenário internacional, houve queda expressiva e abrupta da demanda por minério e jatos, o que obrigou a ajustes nas empresas.

"De fato, o mercado dessas empresas sofreram violentamente com a crise", disse, comentando que, no caso da Vale, a mineradora se preparava para um crescimento na demanda por minério de 10% ao ano na China. "Quando essa curva inverte, evidente que você está com uma capacidade de produção muito acima do que será realizado como venda", disse.

Ele declarou que a empresa vinha se preparando para ampliar minas e melhorar a logística. "A hora que essa projeção acaba, você fica com capacidade ociosa. Se não fizer um ajuste nessa capacidade ociosa, vai se consumir dinheiro que não irá gerar receita", completou.

Rosa disse ainda que o resultado da Previ em 2008 foi amortizado pelo desempenho dos ativos contabilizados por valor econômico, como é o caso das participações acionárias na Vale e na 521, holding que engloba ações no controle da CPFL e Neoenergia. Mas a rentabilidade total das aplicações da Previ foram negativas em 11,49%, abaixo da meta atuarial que era de 12,60%. Porém, melhor que os 41,12% de perdas registrados pelo Ibovespa no mesmo período em 2008.

Fonte: O Estado de São Paulo / Mônica Ciarelli