Quando se pergunta a um banqueiro brasileiro por que o spread bancário (diferença entre o que a instituição paga ao captar o dinheiro e o que cobra ao repassá-lo aos clientes) no País é o mais alto do planeta, a resposta, de cara, incluirá entre as justificativas a inadimplência. Segundo eles, o nível de calote, no Brasil, é superior ao de qualquer outra nação que tenha um sistema financeiro organizado. No entanto, um levantamento do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostra que a relação entre empréstimos em atraso e crédito total, aqui, está dentro da média internacional.

Os dados do Fundo revelam que essa taxa era de 2,9% no último trimestre do ano passado – período mais recente disponível, uma vez que esse tipo de pesquisa não tem divulgação periódica. Na Argentina, o índice era de 2,5%, no México, também 2,5% e, na Venezuela, 2,3%.

O resultado não é muito diferente quando se consideram os países conhecidos como Brics. Na Rússia, a taxa era de 2,5%, na Índia, de 2,3% e, na China, também 2,5%. Por fim, levando-se em conta países desenvolvidos, os números tampouco diferem substancialmente: EUA, 2,3%, Japão, 1,5%, França, 2,7% e Itália, 4,6%.

"A inadimplência e a insolvência no Brasil estão dentro do padrão mundial e não justificam o juro e o spread que temos aqui", disse Alberto Borges Matias, professor do campus de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), especialista em análise de bancos. "Das duas, uma: ou o cálculo do Banco Central para a inadimplência (usado pelo FMI) não reflete o que ocorre no País ou a parcela da inadimplência no cálculo do spread não condiz com a realidade", completa o analista de instituições financeiras da Austin Rating, Luís Miguel Santacreu.

Ele refere-se a uma estimativa elaborada pelo Banco Central em 2007. Principal referência para discussões sobre o assunto, essa conta atribui à inadimplência o maior peso no spread total: 37,4%. O restante é dividido entre custo administrativo dos bancos (13,6%), impostos (18,5%), depósitos compulsórios (3,6%) e resíduo líquido (lucro das instituições, que chega a 26,9%).

Dados compilados pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também com base em estatísticas do FMI, mostram que o spread no Brasil encerrou 2008 em 26,6 pontos porcentuais. O distante segundo colocado do ranking era a Argentina, com 8,4 pontos. Entre os Brics, a Rússia registrava 6,5 pontos, a Índia, 3,8, e a China, 3,1 pontos. Nos EUA, eram 2 pontos e, no Reino Unido, 1,2 ponto.

SEIS VEZES MAIOR

A Fiesp também tem números mais recentes de spread, relativos à média do primeiro trimestre de 2009, mas o Estado preferiu publicar os dados de 2008, que coincidem com o período do levantamento do FMI.

"Os bancos não têm argumento (para justificar o alto spread)", afirmou diretor do Departamento de Tecnologia e Competitividade da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho. "Vamos ter spread alto enquanto os bancos conseguirem."

Segundo ele, o spread brasileiro é seis vezes maior do que a média dos 42 países que estão no levantamento do FMI. "Se considerarmos o cálculo de spread da Febraban (que inclui os recursos direcionados, como o crédito à produção agrícola), o spread aqui é 4,2 vezes maior. Ainda que fossem duas vezes, seria um absurdo."

O economista-chefe da Febraban, a entidade que reúne os bancos, Rubens Sardenberg, contesta o levantamento da Fiesp. "Não acho correto colocar os dados dessa forma. Precisamos ter certeza de estarmos comparando as mesmas coisas", argumentou. Ele observou que a rentabilidade do sistema bancário brasileiro, comparada a outros países, mostra números parecidos.

Além disso, citando números da empresa de informações financeiras Economática, Sardenberg diz que, no ano passado, a rentabilidade média dos cinco maiores bancos brasileiros ficou na média de seus pares latino-americanos.

"Não dá para imaginar que os bancos desses países sejam tão mais eficientes do que os nossos", afirmou. "Como os bancos de um país com spread tão mais baixo do que o brasileiro conseguem uma rentabilidade maior?"

Aqui, diz ele, a rentabilidade foi de 19% (para um spread de 26,6 pontos), ante 28% da Venezuela (spread de 6,2 pontos), 21% da Colômbia (spread de 7,4), 17% do Chile (spread de 5,8), 15% na Argentina (spread de 8,4) e 13% no México (spread de 5,7).

Fonte: O Estado de São Paulo / Leandro Modé

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