Um estudo do BankTrack lançado na terça-feira, 27, chamado "Close the Gap", avaliou a qualidade políticas de crédito e de investimento, desenvolvidas por 49 bancos de 17 países, indicando lacunas que devem ser preenchidas pelo setor bancário para que o segmento se torne mais responsável social e ambientalmente.

O relatório, produzido pela rede internacional da sociedade civil de monitoramento do setor bancário, BankTrack, indica que houve aumento do número de bancos que possuem políticas de crédito e investimento nos último três anos. Porém, conclui que essas ações possuem lacunas.

"Uma delas se dá entre o que está geralmente na mesa e o que é exigido como política adequada para tratar de temas de sustentabilidade ou setores específicos de negócios. E a outra se encontra entre ter políticas e colocá-las em prática, num caminho que traz reais benefícios de sustentabilidade", afirma Johan Frijns, coordenador da rede BankTrack.

Também de acordo com ele, outro problema é que, em geral, as considerações dos empresários ainda prevalecem sobre os direitos das comunidades locais ou a necessidade de preservar o meio ambiente.

Foram analisadas no estudo políticas voltadas a sete setores econômicos com posição-chave na economia, como mineração, petróleo e gás, florestas e silvicultura e geração de energia. Também foram consideradas iniciativas referentes a nove temas de sustentabilidade, dentre os quais, mudanças climáticas, povos indígenas e biodiversidade.

Resultados

Em geral, muitas das políticas analisadas não apresentaram critérios para serem consideradas adequadas. Todas as iniciativas dos bancos foram avaliadas numa escala de 0 a 5, usando índices de referência desenvolvidos pela rede BankTrack, em cooperação com a consultoria em pesquisa econômica Profundo.

A maioria das políticas obteve apenas 1 ponto. Os bancos que tiveram essa pontuação geralmente adotaram um dos padrões voluntários de iniciativas desenvolvidos pelo setor, como os Princípios do Equador ou o Pacto Global das Nações Unidas. Já as políticas próprias dos bancos, quando existentes, eram vagamente definidas, sem a inclusão de qualquer compromisso claro.

Com isso, a pontuação média por política foi muito baixa, chegando a 0,83 para iniciativas voltadas aos setores de Mineração, Petróleo e Gás, e 0,94 em relação ao tema Povos Indígenas. A média em outras áreas/políticas é ainda mais baixa.

Somente em alguns casos os bancos apresentaram mais que o necessário para uma boa política. São exemplos: a política florestal do HSBC e a política para agricultura do Rabobank, ambas avaliadas com 3 pontos.

Analisando detalhadamente o status atual das políticas, o estudo também aponta que os bancos avaliados têm desenvolvido mais políticas setoriais e temáticas.

Por exemplo, as mudanças climáticas estão firmemente incluídas como um tema que precisa de uma política responsável dos bancos. 28 bancos dos 49 analisados têm adotado políticas com relação ao assunto.

Entretanto, a qualidade dessas iniciativas é baixa, faltando compromissos claros, comensurados com o tamanho dos desafios. Nesse quesito, nenhum banco recebeu 2 pontos ou mais, com 45 bancos obtendo apenas um ponto.

Do total de bancos incluídos no estudo, apenas seis não têm políticas na área: Banco Bangkok, Banco da China, Banco de Construção da China, DekaBank, Banco Industrial e Comercial da China e Kasikornbank. Nenhum banco avaliado adotou políticas para todos os setores e assuntos abordados no relatório.

Brasil

Olhando para a performance de bancos de mercados emergentes, os brasileiros têm melhor pontuação quando comparados aos bancos de outros países do BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), especialmente quanto à transparência, em que obtiveram 2,3 pontos, em média. Os bancos tailandeses tiveram desempenho relativamente ruim, enquanto os chineses melhoraram suas políticas e seu nível de transparência, nos últimos anos.

Segundo Roland Widmer, coordenador do Programa Eco-Finanças da Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, e representante do BankTrack no Brasil, dos três bancos brasileiros que foram analisados no relatório – Banco do Brasil, Bradesco e Itaú Unibanco – "apenas o Bradesco apresentou abertamente todas as suas políticas, o que tornou possível analisá-las em detalhes e oferecer pontos adicionais onde fosse relevante", afirmou.

"Em geral, os bancos brasileiros carecem de políticas próprias capazes de orientar firmemente a atuação do banco rumo à sustentabilidade. Diante disso, vale destacar que o relatório Close the Gap oferece não só comparações entre bancos, mas pode servir como guia fundamental para o desenvolvimento de políticas."

Relatório

Close The Gap é o terceiro estudo sobre o tema realizado pelo Bank Track para estimular o desenvolvimento de políticas de crédito e investimento "world class" no setor bancário. As publicações anteriores, Shaping the Future of Sustainable Finance e Mind The Gap, foram lançadas em 2006 e 2007, respectivamente.

Fonte: Eco-Finanças

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