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Insegurança: onda de explosões exige mais investimentos dos bancos

Em um tipo de ação cada vez mais comum no Rio Grande do Sul, uma quadrilha invadiu e sitiou o município de Ipê, de 6 mil habitantes, para arrombar uma agência do Banco do Brasil. Em cerca de 15 minutos, na madrugada de domingo (4), um bando de pelo menos oito criminosos aterrorizou a comunidade com tiros e detonações de dinamite, fez um morador refém e deixou um jovem baleado de raspão. Nos últimos três anos, os arrombamentos bancários vêm aumentando no Estado.

Em 2009, foram registrados 76 assaltos (modalidade de crime em que a vítima é ameaçada) contra 52 arrombamentos (quando a vítima não está presente). Desde então, a tendência se inverteu. A Polícia Civil informou que não teria como fornecer dados atualizados ontem, mas uma combinação de registros policiais até outubro do ano passado com um monitoramento realizado pelo Sindicato dos Bancários de Porto Alegre e Região (SindBancários) demonstra que, em 2011, houve pelo menos 43 assaltos e 87 arrombamentos fora do horário comercial. Isso representa um crescimento de 67% nos furtos a banco.

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Essa tática foi seguida em Ipê. Pouco depois das 2h30min, o comboio dos criminosos, formado por um Astra, um Golf e um Focus, chegou à cidade. Tiros de fuzil e escopeta anunciaram o início da ação. Um trabalhador rural, que havia colidido seu veículo em um poste, a menos de 50 metros do banco, foi rendido e feito refém pela quadrilha enquanto esperava pela Brigada Militar para registrar o acidente.

Surpreendido pelos bandidos, PM tornou-se alvo dos tiros

Outro morador, que seguia para casa em um Voyage, teve o para-brisa estourado com um tiro ao se aproximar. Ele abandonou o carro e fugiu a pé. Enquanto parte do bando instalava explosivos nos caixas eletrônicos e no cofre do banco, um PM que seguia para atender a ocorrência de trânsito foi surpreendido pelos bandidos, que atiraram na direção dele. Sozinho e com apenas um revólver, pouco pôde fazer.

– Nunca escutei tanto tiro na minha vida. Eles não paravam de atirar. Era tiro para todo lado – conta um morador que assistiu à ação de longe.

Prédios e casas tremem com série de detonações

Com o centro do pequeno município dos Campos de Cima da Serra dominado, o bando deu início a uma série de três explosões. A primeira delas, de acordo com relatos de moradores, foi a mais forte. Estourou as vidraças do banco e fez prédios e casas do Centro tremerem.

– Eles colocavam a dinamite, corriam para fora do banco e se deitavam em frente à agência – lembra um vizinho da agência.

Nesse instante, um casal de namorados e um amigo, todos moradores de Antônio Prado, que participavam de uma festa em Ipê, também foram surpreendidos pelo bando quando retornavam para casa.

– Os vidros do carro estavam embaçados e não conseguia ver direito o que estava acontecendo. Só parei quando acertaram um tiro no carro. Vi que estava todo mundo sangrando e fugi com o carro, um Ka, em direção à zona rural – contou o motorista do veículo, ferido com estilhaços de vidro.

Um amigo dele que estava no banco traseiro foi ferido de raspão. Mais tarde, foram medicados e liberados.

– Depois das explosões, dava para escutar eles gritando: "recolhe, recolhe tudo" – conta um vizinho.

Os bandidos fugiram levando malotes e dinheiro. O Banco do Brasil não informou o prejuízo causado pela ação dos criminosos.

Crime explora brechas na segurança

Conforme o diretor do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), Guilherme Wondracek, a disparada na quantidade de arrombamentos e tentativas de furto a banco reflete uma adaptação de estratégia das quadrilhas em busca de maior facilidade de ação:

– Arrombamentos realizados fora do horário comercial, principalmente em cidades pequenas, onde o efetivo policial é mais reduzido, representam uma facilidade maior. Temos de investir em investigação e no reforço da segurança das próprias agências.

A onda de ataques a bancos também aflige Santa Catarina, onde até o começo deste mês já haviam sido explodidos 53 equipamentos. Na madrugada de ontem, foi registrado novo ataque em Mafra. Para Ademir Wiederkehr, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro, uma saída para refrear o ímpeto das quadrilhas é reforçar a estrutura dos bancos.

– Uma das nossas reivindicações é o uso de vidros blindados nas agências. Sem isso, o acesso fica muito facilitado para os bandidos.

Fonte: Zero Hora