A FETEC, entidade sindical nascida dentro da Central Única dos Trabalhadores, representa 80% dos 48 mil trabalhadores no ramo financeiro no Estado, a maioria formada por trabalhadores bancários.
O primeiro presidente da FETEC foi Natal Pires Cardoso, trabalhador bancário na Caixa. À época, sete sindicatos de bancários do interior do Estado fundaram a entidade (Apucarana, Assis Chateaubriand, Campo Mourão, Cornélio Procópio, Londrina, Toledo e Umuarama, e respectivas regiões).
No mesmo ano de fundação da FETEC foi assinada a primeira Convenção Coletiva de Trabalho (CCT) dos bancários com abrangência para todo o Brasil. A luta unificada conquistou e garante direitos iguais para todos os trabalhadores da categoria no país.
Até o segundo Congresso da entidade, realizado em 1994, a FETEC conquistou mais três sindicatos (Arapoti, Curitiba, Paranavaí e respectivas regiões). Em 1995, foi a vez da conquista do Sindicato dos Bancários de Guarapuava e Região.
E são esses 20 anos de história de lutas e conquistas que serão resgatados numa série de entrevistas com alguns de seus integrantes, trabalhadoras e trabalhadores do interior e da capital, líderes que não deixaram as lutas serem oprimidas por tantos anos de governos contrários às lutas da classe trabalhadora.
A primeira das entrevistas resgata as memórias do atual presidente da FETEC. Em 2011, o trabalhador bancário no Bradesco em Curitiba, Elias Hennemann Jordão, foi reconduzido à presidência da entidade. Ele assumiu o cargo em junho de 2009 durante a gestão 2008/2011, que teve início sob a presidência de Roberto Von der Osten, Betão, trabalhador bancário no Itaú desde a época do Banestado, que foi eleito para representar os paranaenses na direção da Contraf-CUT, a Confederação dos Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro.
Elias é bancário há 25 anos e sempre se interessou pela luta dos trabalhadores. A aproximação com o movimento sindical foi através do diálogo com dirigentes do Sindicato que faziam o roteiro para entrega de jornais e de outros informativos da entidade na sua agência, nos tempos de banco Econômico. Foi eleito para a direção do Sindicato dos Bancários e Financiários de Curitiba e Região no ano de 1996.
Confira a seguir, a entrevista com o presidente da FETEC-CUT-PR sobre os 20 anos da entidade sindical que defende os interesses de todos os trabalhadores no ramo financeiro no Estado do Paraná, apoia e está engajada na luta de classes no Brasil:
Como era o momento político no Paraná e no Brasil quando você assumiu a presidência da FETEC?
Elias Jordão – Eu diria que o pior já tinha ficado para trás. Tivemos árduos enfrentamentos nos anos 1990, no auge do governo neoliberal de Fernando Henrique Cardoso, o FHC. Não havia diálogo com os trabalhadores e os movimentos sociais. Aqui no Paraná não era diferente, pois o governo de Jaime Lerner tinha muita afinidade com o governo federal, contexto que perdurou até 2002 e que gerava dificuldades em nossas lutas aqui no Estado.
Então, em 2009, já estávamos vivendo um momento de um governo democrático e popular eleito pelos trabalhadores, no segundo mandato do Presidente Lula. Se não houve avanços em tudo o que queríamos, minimamente se iniciou um processo de diálogo e com certeza muita coisa avançou.
Na sua avaliação, em quais momentos históricos a FETEC atuou na defesa do povo paranaense e dos interesses da categoria bancária?
Elias Jordão – A FETEC está presente em todos os momentos que são colocados em risco os interesses da sociedade paranaense e dos trabalhadores, tanto com a presença da própria entidade quanto representada por seus sindicatos, afinal a maioria das lutas de nossas entidades filiadas são articuladas dentro de nossa Federação. São entidades cidadãs e classistas.
Entendemos que nossas lutas não se resumem apenas em nossa categoria, mas sim em solidariedade com os demais trabalhadores e levantando as bandeiras da defesa dos interesses de toda a sociedade. Todos, bancários e demais categorias, são cidadãos, e tudo que acontece na cidade, no estado e no país reflete diretamente na vida desses trabalhadores. Porém, sem sombra de dúvidas os momentos mais relevantes da história de lutas da FETEC foram contra a privatização do Banestado (o banco estadual) e da Copel (a companhia elétrica estatal).
A Federação atua como unificadora das lutas regionais e se preocupa com as peculiaridades vividas pelos bancários do Paraná, que são levadas para a mesa de negociação nacional com a sua participação, como presidente, durante a campanha salarial. A entidade representa os interesses de seus sindicatos filiados, mas essencialmente dos trabalhadores. Como os bancários podem contribuir com a FETEC nessa missão?
Elias Jordão – Dando respaldo aos nossos sindicatos. É um circulo virtuoso: os trabalhadores apoiam e fortalecem os nossos sindicatos, que consequentemente fortalecem a FETEC. A Federação unifica os debates com nossos sindicatos, com o objetivo de fortalecer nossas lutas no Estado. É esta receita que tem feito da FETEC representante de mais de 80% dos trabalhadores bancários no Estado.
Na sua avaliação, quais são as características dos bancários aqui do Paraná que os diferenciam do resto do país?
Elias Jordão – Apesar dos bancários do Paraná serem trabalhadores de empresas com políticas e atuação nacionais, com os mesmos problemas e dificuldades enfrentados por todos os trabalhadores do país, temos percebido no bancário paranaense uma reação muito forte aos chamamentos de nossos sindicatos, inclusive sendo referência nas nossas campanhas salariais. Isso demonstra um grau muito grande de conscientização dos bancários paranaenses e deixa claro que nossos sindicatos estão dialogando muito bem com os trabalhadores.
Qual a importância da manutenção de uma campanha nacional unificada, defendida por todas as entidades filiadas à Contraf-CUT?
Elias Jordão – Esta é uma bandeira que defendemos há décadas. É uma questão de lógica: trabalhador unido conquista muito mais. Trabalhador dividido, quem ganha são os patrões. Um exemplo clássico: num momento que os trabalhadores nos bancos públicos estavam com dificuldades de reação, os bancos privados sustentaram as lutas por manutenção e por novas conquistas.
Num segundo momento, com os trabalhadores nos bancos públicos reagindo, foram eles que deram suporte para manutenção de nossas lutas. Não podemos esquecer esta lição de unidade dos trabalhadores, e basta lembrar que do outro lado os banqueiros estão unificados em torno de seus interesses.
Em 2012 a FETEC completa 20 anos de atuação em defesa dos trabalhadores no ramo financeiro em todo o Estado, valorizando a unidade entre os sindicatos que representa. Qual a contribuição dos sindicatos filiados, na construção da luta dos trabalhadores do ramo financeiro?
Elias Jordão – Todos os nossos sindicatos têm a maior importância para nossa Federação, independente do tamanho e da distância. A maior contribuição que nossos sindicatos podem dar é continuar valorizando os debates dentro da FETEC e conduzindo suas linhas de atuação dentro do que for discutido e construído conjuntamente, o que felizmente tem acontecido e nos fortalecido enquanto trabalhadores.
Quais são as principais conquistas da categoria bancária com as greves nesses 20 anos de Convenção Coletiva válida para todo o país?
Elias Jordão – Se fizermos uma rápida retrospectiva dos últimos 20 anos, podemos observar que tivemos várias conquistas nestas duas décadas. Poderíamos destacar a conquista da cláusula de combate ao assédio moral, em 2010, que no mínimo fez com que os bancos reconhecessem este problema dentro das unidades.
Outra conquista tem sido a recomposição salarial com ganho real nos últimos oito anos. Em 1992, ano de criação da FETEC, conquistamos a Convenção Coletiva Nacional. Em 1995 conquistamos a Participação nos Lucros e Resultados, em 2004 o reajuste salarial acima da inflação. Em 2007 foi agregado à CCT a 13ª cesta alimentação, entre tantas outras conquistas.
A FETEC entra, a partir deste ano, na sua terceira década de existência. Quais são as prioridades da entidade para esse ano?
Elias Jordão – No início de fevereiro, faremos o nosso planejamento da atual gestão. Como este planejamento contará com a presença de representantes de todas as nossas entidades filiadas, vamos propor que eles nos tragam as demandas que são prioritárias para eles. Em resumo, nossa prioridade é ampliar cada vez mais a unidade entre nossas entidades, consolidando e fortalecendo cada vez mais nossas lutas dentro do Estado.
Quais as lutas históricas que nunca serão deixadas para trás e que estão sempre em destaque na entidade?
Elias Jordão – Remuneração digna, emprego, saúde e condições de trabalho, segurança. São bandeiras que sempre defendemos com muita determinação e sempre estarão em nossas pautas. Outra demanda que sempre esteve presente em nossa categoria e combatemos veementemente é o tema do assédio moral, um problema que destrói a saúde e a dignidade do trabalhador. Não podemos aceitar que os bancos fiquem com os lucros, e que o trabalhador e a sociedade fiquem com o adoecimento e o descaso.
Já existe um calendário comemorativo de atividades para 2012?
Elias Jordão – Este ano estaremos em todas as instâncias e eventos de alguma forma sempre trazendo à lembrança dos trabalhadores e das diversas entidades as duas décadas de existência da FETEC. Entendo que não existe comemoração melhor que estarmos sempre presentes em todas as lutas de nossos sindicatos e dos trabalhadores.
Você assumiu a presidência da FETEC no meio de uma gestão, em junho de 2009, quando o então presidente, Roberto von der Osten, o Betão, teve a missão de representar o Paraná na Contraf-CUT. Qual foi sua primeira reação quando foi escolhido?
Elias Jordão – Foi uma decisão difícil para mim, tive que maturar muito a ideia. Não seria uma tarefa nada fácil substituir um companheiro com o acúmulo de experiência que tem o companheiro Betão. Apesar de participar sempre de todos os debates e estar inteirado dos temas, eu sempre atuava mais nos bastidores e no suporte, raramente na linha de frente.
Quando os companheiros de nossas entidades me propuseram o desafio, a minha maior preocupação era o peso da responsabilidade a ser assumida. Somente aceitei após ter a certeza e o compromisso destes companheiros e de nossas entidades que teria o apoio e a solidariedade de todos para tocar esta empreitada.
Em que momento você se interessou pela luta sindical para atuar na melhoria das condições de trabalho da categoria bancária?
Elias Jordão – Sou bancário há 25 anos. Muito tempo antes de atuar diretamente no movimento sindical, eu sempre procurava dialogar com um diretor do sindicato que fazia o roteiro do jornal da entidade na agência. Sempre debatíamos os problemas da categoria e como deveríamos reagir para enfrentar as situações adversas que os bancários enfrentavam.
Isso, com o tempo, o fez perceber que eu era uma pessoa preocupada com a situação vivida pelos trabalhadores e me convidou para participar da direção do Sindicato de Curitiba e Região em 1996.
Fonte: Paula Padilha – Fetec-CUT-PR