Bendine afirma que o banco tem de recuperar o seu "papel histórico" como agente do desenvolvimento econômico, aumentando a concessão de crédito e liderando um movimento de redução das taxas de juros bancários praticadas no país. O executivo afirma, porém, que não haverá prejuízos ao Tesouro Nacional com essa nova política.

FOLHA – No início da semana passada, o Banco do Brasil reduziu as taxas de juros para as pessoas físicas. Foi uma resposta aos dados do Banco Central que mostraram aumento nos juros do banco em maio?
ALDEMIR BENDINE – O banco não fez nenhuma elevação de taxas. O ranking do Banco Central mede um outro tipo de situação. Não reflete as taxas de juros máxima e mínima de um banco. A redução anunciada na semana passada é uma ação de destravamento do crédito e de melhores condições em taxas de juros para incrementar na nossa base de clientes.

FOLHA – Se o ranking do Banco Central não mostra que banco tem a taxa mais elevada, para que serve?
BENDINE – O que o Banco Central quer mostrar é como é o comportamento do "spread" bancário num determinado momento. Não está procurando responder quem está cobrando mais nem menos. Os bancos estão sugerindo ao Banco Central que, além dessa taxa média, também divulgue uma tabela que mostre as taxas máximas e mínimas de cada instituição. Acredito que devem aceitar.

FOLHA – Há espaço para novos cortes nas taxas de juros do Banco do Brasil?
BENDINE – Há. Estamos finalizando os estudos para ajustes nas taxas para pequenas e médias empresas. Nessas linhas [para as pessoas físicas], dado o cenário atual, estamos com uma taxa bastante adequada e com o "spread" relativamente ajustado.

FOLHA – O setor financeiro é bastante concentrado no Brasil. Há concorrência entre os bancos?
BENDINE – Bastante. O Bradesco, por exemplo, está fazendo ampliação de prazos, financiamento de veículos por até 80 meses. A vida é dura aí fora [risos].

FOLHA – O sr. credita essas reações do mercado ao movimento do Banco do Brasil?
BENDINE – Você tem dúvida? [risos]

FOLHA – Mas, no fim de 2008, o Banco do Brasil elevou os juros em resposta à crise econômica.
BENDINE – Olhando para trás, não foi um movimento correto. Mas também é preciso admitir que, à época, os dados não estavam muito claros para quem tinha que tomar a decisão. Não critico.

FOLHA – O sr. teria tomado essa decisão?
BENDINE – Olhando hoje, não.

FOLHA – Qual seria a sua decisão?
BENDINE – Observar um pouco a inadimplência, mas sem grandes solavancos na taxa de juros. Nas linhas de financiamento internas não havia necessidade de um movimento tão abrupto.

FOLHA – O contrato de gestão com o Ministério da Fazenda está sendo cumprido?
BENDINE – Não existe contrato formal. Existe um compromisso moral da administração do banco nesse resgate do papel do banco público como agente de desenvolvimento. Não tenho nenhuma meta fixada em números.

FOLHA – O sr. concorda com a crítica da ministra Dilma Rousseff de que os bancos públicos se comportam como se fossem privados?
BENDINE – Num cenário econômico favorável, atuar como banco comercial atendia às necessidades do controlador. O que esteve amortecido ao longo dos últimos anos era a vocação do Banco do Brasil como agente do desenvolvimento e de cumprir, sim, uma política econômica do país.

FOLHA – Os bancos públicos devem ter o papel de atuar para destravar o crédito?
BENDINE – Num momento de incerteza e instabilidade, os bancos procuram menores riscos. Nessa hora eu acho que, sim, vale a pena o papel do banco público, desde que haja segurança. Os indicadores macroeconômicos do Brasil mostravam [no final do ano passado] que não estávamos sendo afetados de uma forma tão dura como outros mercados. É importante nessa hora que o banco público, respeitados os limites de segurança, passe a liderar esse movimento.

FOLHA – Isso quer dizer que um banco público pode assumir mais riscos, uma vez que há sempre a garantia da União?
BENDINE – Quando o investidor compra uma ação do Banco do Brasil, ele tem uma segurança maior porque é um banco que nunca vai quebrar. Esse investidor corre menos risco. Por isso, é natural que se pague um deságio em relação ao preço. Então, normalmente, não se espera uma rentabilidade tão grande quanto o investimento num banco privado. Mas o Banco do Brasil, além de ter essa garantia [da União], tem conseguido mostrar eficiência nos seus resultados.

FOLHA – Como evitar os rombos do passado, quando essa atuação de banco público fez o Banco do Brasil acumular desequilíbrios que exigiram aportes do governo?
BENDINE – Hoje, mesmo que se quisesse fazer movimentos fora da boa prática, não haveria como. O nosso sistema de governança não permite situações ousadas ou arriscadas que vivenciamos no passado.

FOLHA – A compra da Nossa Caixa e do banco Votorantim foi vantajosa para o Banco do Brasil ou foi uma operação de socorro?
BENDINE – O Banco do Brasil tinha uma presença extremamente tímida em São Paulo. A aquisição da Nossa Caixa permitiu corrigir essa deficiência. Foi um dos nossos melhores negócios. No caso do Votorantim, não foi nenhuma operação de socorro. Ali se casaram dois interesses: o do Banco do Brasil de ter uma solução para a questão de financiamento de veículos, e o do banco Votorantim, por outro lado, por ser um banco de médio porte, que naquele momento vivenciava uma nova realidade na sua estrutura de captação, que ficou mais cara.

FOLHA – Como está o processo de integração entre o Banco do Brasil e a Nossa Caixa? A marca será mantida?
BENDINE – Estimamos até dois anos para fazer a absorção total da Nossa Caixa. Não temos posição definida em relação à marca.

FOLHA – O sr. fala em aumentar volume de crédito, mas o Banco do Brasil está perto do limite estabelecido pelo Banco Central para novas operações. Será necessária uma injeção de recursos do Tesouro?
BENDINE – Por nossas projeções, teríamos folga até o início de 2011.

FOLHA – E depois?
BENDINE – Nós vamos ter de, a partir do início do próximo ano, abrir uma discussão. Capitalização não é a única solução.

FOLHA – Quando o sr. assumiu, trocou cinco dos nove vice-presidentes do banco. Por quê?
BENDINE – Porque eu queria um time mais aliado à minha forma de atuação.

FOLHA – Houve indicações políticas?
BENDINE – Nenhuma.

FOLHA – O sr. é uma indicação política?
BENDINE – Também não. Sou uma pessoa extremamente técnica. Comecei como menor aprendiz e já tenho 30 anos de casa.

FOLHA – O sr. tem algum vínculo com o PT?
BENDINE – Nunca tive nenhum tipo de filiação partidária ao longo da minha vida.

FOLHA – O sr. conhecia o ministro Guido Mantega?
BENDINE – Do relacionamento nos dois anos e meio em que fui vice-presidente do banco. Apesar de ser o presidente da República quem me indica, a minha prestação de contas se dá por meio do Ministério da Fazenda. Eu tenho um excelente relacionamento com o ministro da Fazenda.

Ele vinha acompanhando os movimentos que o banco já começava a fazer naquele momento [quando o ranking do Banco Central apontou aumento nas taxas de juros do Banco do Brasil], logo no início da minha gestão, e eu acho que ele está satisfeito com a gestão do banco neste momento.

Fonte: Folha de São Paulo / Leandra Peres e Ney Hayashi, da sucursal de Brasília