A concessão de crédito teve forte recuperação em março, mas já esbarra na resistência de consumidores e empresas de assumirem novas dívidas.

O aumento da concorrência dos bancos públicos, pressionados pelo governo a expandir a oferta de crédito, e a demanda fraca por novos financiamentos têm forçado instituições privadas como Itaú-Unibanco, Bradesco e Santander-Real a reverem suas estratégias de atuação, investindo mais em marketing, reduzindo taxas e aumentando prazos, especialmente no financiamento de veículos, imóveis e consumo.

Segundo especialistas, a maior parte do consumo represado pela crise – e a demanda por crédito – já se materializou. Daqui em diante, bancos e redes de varejo terão de lidar com os efeitos da crise na confiança de empresas e consumidores, até agora estimulados por políticas como redução de IPI para carros e outros produtos.

A boa notícia é que a disponibilidade de crédito parece ter voltado ao normal, inclusive com o retorno de alguns bancos pequenos ao mercado. "O problema está na demanda. A Selic [taxa básica de juros determinada pelo Banco Central] em queda induz a uma oferta maior de crédito. Os bancos criaram um colchão de provisionamento para enfrentar a inadimplência. Quem partir primeiro [para o crédito] vai conseguir recuperar os resultados, que foram fracos no primeiro trimestre", disse João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho.

"Não temos mais um problema de oferta, tanto que os bancos estão reduzindo juros e aumentando prazos", disse Bruno Rocha, da Tendências.

Dados do BC mostraram retração de 8,1% de março para abril (mês com menos dias úteis) das novas concessões de financiamento de carros, segmento em que os bancos privados têm elevado prazos para até 80 meses. Em abril, as novas concessões para outros bens duráveis (móveis e eletrodomésticos) tiveram retração de 4,7%; para imóveis, de 17,1%, segundo o BC.

Para Fabio Barbosa, presidente da Febraban (associação dos bancos) e do Santander, a oferta de crédito "está se normalizando" e os bancos "estão indo atrás do cliente", que segue rediscutindo planos de consumo e de investimento. "Já existe uma oferta bem maior [de crédito]. Obviamente, as empresas estão reprogramando seus investimentos, e as pessoas se retraíram. Agora que o cenário se apresenta um pouco melhor, a concorrência volta. A hora é agora de mostrar ao cliente a condição que você tem de apoiá-lo no seu plano de investimento ou de consumo."

Segundo Marcio Percival, vice-presidente da Caixa Econômica Federal, a maioria dos bancos privados perdeu espaço ao reduzir a oferta de crédito na crise. Para Percival, essas instituições buscam agora retomar o mercado perdido. "A gente cresceu porque nossas taxas ficaram estáveis. O desafio agora é fidelizar o novo cliente. A concorrência vai se acirrar", disse.

"A crise já está no retrovisor. A perspectiva de aumento da demanda para o crédito é positiva, e as taxas de inadimplência estão sob controle", disse ontem Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco.

Os bancos argumentam que o alongamento de prazos decorre da expectativa de melhora na economia e de uma certa estabilidade na inadimplência – cresceu de 5% para 5,2% de março para abril.

Segundo analistas, a extensão dos prazos dos financiamentos de veículos pode ter mais efeito de marketing do que estimular a expansão dos empréstimos. A maioria dos financiamentos tem prazos de 36 a 40 meses, sendo marginal os prazos acima de 60 meses.

"É emblemático que essas instituições estejam oferecendo prazos longos para veículos. É uma estratégia de marketing para ganhar espaço. Sendo agressivos agora, adiantam-se na recuperação prevista para o segundo semestre. É importante dizer que, além do marketing, há espaço para queda nos juros e um quadro de mais normalidade na conjuntura", disse Bruno Rocha.

Fonte: Folha de São Paulo / Toni Sciarretta