Após quase três meses de negociações, o Banco do Brasil deve anunciar nos próximos dias a compra de 49% do Banco Votorantim, braço financeiro do grupo da família Ermírio de Moraes. O BB deve pagar até R$ 7 bilhões pela participação, devendo injetar um volume que pode chegar a R$ 6 bilhões em dinheiro novo para capitalizar o banco.

As negociações avançaram no final do ano passado, e ambos os bancos acertam agora detalhes sobre o cronograma de desembolsos. O BB também aguarda a conclusão do último balancete do Votorantim, que trará uma posição atualizada sobre a carteira de crédito e demais ativos do banco.

Motivo de resistência dentro do governo no ano passado, o controle do Votorantim deve seguir com a família Ermírio de Moraes. O Banco do Brasil, no entanto, conseguiu incluir no acordo de acionistas uma participação mais ativa, possivelmente compartilhada, na gestão do banco.

Com uma participação minoritária no Votorantim, o BB não poderá consolidar seus ativos em seu balanço, ou seja, a aquisição não muda o ranking dos maiores bancos brasileiros, que seguirá liderado por Itaú-Unibanco, que soma R$ 575 bilhões em ativos com a fusão anunciada no final do ano passado. Se pudesse somar integralmente os ativos, o BB alcançaria R$ 594 bilhões, contando a posição do Votorantim até setembro, segundo o BC.

Carro usado

O maior interesse do BB no Votorantim é a carteira de veículos, segmento em que o banco estatal está atrasado em relação aos concorrentes privados. O Votorantim investiu pesado nos últimos anos para ganhar mercado no financiamento de automóveis, especialmente o de carros usados.

Com presença nas principais concessionárias do país, o Votorantim tinha uma carteira de R$ 17,9 bilhões em financiamento de veículos em junho. À época, os empréstimos cresciam em ritmo de 40% ao ano.
Uma das ideias em discussão é focar o financiamento de veículos na BV, a financeira do Votorantim. O negócio seguiria o modelo da parceria acertada em meados do ano passado com os sul-africanos do FirstRand, que depois foi desfeita.

Apesar de entrar com a maior parte do dinheiro na parceria com os sul-africanos, o BB permanecia como minoritário no negócio. De natureza privada, a vantagem é que o banco ganha agilidade e fica livre de limitações e amarras das instituições do setor público na tomada de decisão. O modelo foi adotado pelo BB em parcerias nas áreas de seguro e previdência.

Procurados, o BB não confirmou a negociação, e o Votorantim afirmou que não comenta rumores de mercado.
Braço financeiro do grupo industrial da família Ermírio de Moraes, o Banco Votorantim foi fundado em 1988 e figura entre as dez maiores instituições financeiras do país. O grupo está presente nos setores de cimento, metalurgia e papel e celulose.

De acordo com o BC, o Votorantim empregava em setembro 990 funcionários e tinha 16 agências em São Paulo, Rio, Porto Alegre, Curitiba e Campinas. O patrimônio líquido do banco estava em R$ 6,454 bilhões em setembro.

Além do financiamento de veículos, o Votorantim também tem uma presença importante no atacado bancário e na gestão de recursos.

Fonte: Folha de São Paulo / Toni Sciarretta