Mesmo mergulhada em dívidas e à beira da falência, a empresa de vigilância do novo corregedor da Câmara, deputado Edmar Moreira (DEM-MG), conseguiu um empréstimo de R$ 1,9 milhão no Banco do Brasil em setembro de 2006.

Dias depois, a F. Moreira Empresa de Segurança e Vigilância doou R$ 72 mil para as campanhas à reeleição do congressista e de seu filho, o deputado estadual Leonardo Moreira (DEM-MG). O empréstimo não foi pago e a empresa é executada judicialmente na 21ª Vara Cível de São Paulo.

Não é só o Banco do Brasil que afirma ser vítima de calote do novo corregedor da Câmara. Documentos obtidos pela Folha mostram que a F. Moreira é alvo de 123 protestos em cartórios de São Paulo, que cobram um valor total de R$ 551 mil.

Além disso, a empresa é alvo de inquérito aberto no STF (Supremo Tribunal Federal) contra o congressista. Ele é acusado de descontar o INSS de seus empregados e não repassar o dinheiro à Previdência, como a Folha revelou ontem. A dívida cobrada em apenas um processo supera R$ 1 milhão.

Por essa acusação, o corregedor-geral foi denunciado pela Procuradoria ao STF. Caso a denúncia seja aceita pelo ministro Eros Grau, Moreira se transformará em réu em processo por apropriação indébita.

O processo de quebra da F. Moreira é cheio de contradições. Em 2006, já em sérias dificuldades e alvo de execuções judiciais para a cobrança de dívidas, a empresa conseguiu o empréstimo do BB no dia 6 de setembro. Naquele mês, véspera da eleição e com o caixa revigorado, repassou R$ 36 mil para a campanha de Edmar e R$ 36 mil para a de Leonardo.

Desde 2002, a F. Moreira doou R$ 800 mil a candidatos. Em 2007, o deputado solicitou a recuperação judicial e, em janeiro de 2008, a falência foi decretada. Mas a empresa continuou a ser usada para movimentar dinheiro. No ano passado, prestadores de serviço, como operadoras de telefonia, cobraram R$ 360 mil em supostas dívidas. Em 21 de maio, o BB acusou um cheque sem fundo da F. Moreira. O banco não comenta o caso.

Ao todo, a Previdência cobra cerca de R$ 10 milhões da empresa, com sede em São Paulo, por INSS devido. Outra firma de segurança da família, a Ronda, é alvo de 79 protestos em cartório, nos quais são cobrados cerca de R$ 275 mil.

A Folha enviou perguntas específicas sobre as empresas à assessoria de Edmar, que não respondeu. Leonardo Moreira, herdeiro do castelo construído pelo pai no interior de Minas, confirmou ontem que, endividadas, as empresas da família encerraram suas as atividades entre 2006 e 2007.

Contou ainda que elas contraíram empréstimos em diferentes instituições financeiras enquanto agonizavam. "Somos vítimas do mal que sofre a maioria dos empresários: negócios que não dão certo. O ramo de segurança ficou competitivo demais, com excesso de empresas pouco qualificadas."

Leonardo disse que no último ano intensificou as ações para vender o castelo de 36 suítes da família na zona rural de São João Nepomuceno, a 40 quilômetros de Juiz de Fora (MG). "Estou vendendo porque preciso de dinheiro. Mais de 30 empresas avaliaram que ele vale R$ 25 milhões."

Segundo Leonardo, há 16 anos o pai transferiu o castelo para que eles tentassem vendê-lo. "É um castelo oco, dentro tem alvenaria, mas não tem pintura nem móveis."

Sobre as doações eleitorais, o deputado disse que a família tem o hábito de financiar a maior parte das próprias campanhas e que "receber doação de uma empresa que tem empréstimo não é crime".

Fonte: Folha de São Paulo / Marta Salomon, Alan Gripp e Fernanda Odilla