O Banco do Brasil irá atuar no financiamento de imóveis para baixa renda. Apesar de esse segmento não ser o foco do banco, que entrou no segmento habitacional recentemente, o presidente Lula deu ordem à instituição para participar como financiador do pacote de habitação popular que deverá ser anunciado após o Carnaval.
A decisão foi tomada depois de Lula ouvir da Caixa Econômica Federal que ela teria dificuldade para, sozinha, levar o mercado a atingir a meta de financiamentos do plano: 500 mil unidades neste ano e 500 mil até o final do ano que vem.
A Folha apurou que a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho, disse a Lula que seria possível financiar algo entre 300 mil e 350 mil unidades. Mas, para chegar aos 500 mil, seria necessário reforço do BB, que começou a financiar imóveis em julho, mas não atua com dinheiro do FGTS, principal fonte de recursos nas operações para a baixa renda.
Isso porque não há garantia do interesse dos bancos privados no início do processo. A ideia do governo é fazer com que pessoas que hoje não têm acesso a financiamentos habitacionais sejam incluídas no sistema bancário. Eles são o pilar do pacote do governo. Os maiores benefícios estão sendo direcionados para trabalhadores com renda até dez salários mínimos (R$ 4.650), que terá parte do custo subsidiada.
É nessa camada da população que estará a maior parte da demanda por imóveis nos próximos 15 anos -mais de 70%, segundo estimativas do governo- e onde Lula quer reforçar sua base eleitoral para fazer seu sucessor no ano que vem.
O problema é que os bancos não têm tradição de operar com esse público, e, como a rentabilidade do investimento é menor, preferem focar nas classes mais ricas usando principalmente recursos da caderneta de poupança.
O próprio BB tem, desde o final de 2008, aprovado limite de R$ 1 bilhão no FGTS para fazer financiamentos direcionados ao público do fundo. A previsão é que o dinheiro seja usado neste ano, e o BB já mostrou interesse em utilizar ao menos R$ 300 milhões.
Apesar da falta de experiência do BB na habitação, o banco vê o setor como oportunidade de expansão na crise.
Auxiliar direto de Lula disse à Folha que, após ouvir Maria Fernanda, o presidente conversou com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e com o presidente do BB, Antonio Lima Neto, para que o BB fosse parceiro da Caixa no pacote.
O BB confirma só que usará os recursos aprovados pelo FGTS e diz que está em fase de "operacionalização", adaptando os sistemas para o setor.
O pacote habitacional é visto por Lula como uma das medidas mais importantes contra a crise. Como a construção emprega mão-de-obra intensivamente, o pacote pode reduzir o impacto do desemprego maior.
O interesse do BB em expandir sua atuação à habitação é antigo. Mas o banco pretendia, ao menos no início, atuar com famílias de maior renda como seus concorrentes privados.
Hoje o crédito habitacional médio do BB é de R$ 124 mil, e o pacote do governo quer financiar imóveis entre R$ 50 mil e R$ 60 mil.
Desde o início das conversas no governo para começar uma carteira imobiliária, o BB sempre deixou claro que não pretendia ocupar o espaço da Caixa, líder no setor e com larga experiência com a baixa renda.
A experiência do BB com o público de menor renda no governo Lula foi desastrosa. O Banco Popular, criado no início do primeiro mandato lulista para promover inclusão bancária de trabalhadores informais sem renda comprovada, teve que ser absorvido pelo BB depois de sucessivos prejuízos.
Fonte: Folha de São Paulo