O peso dos impostos e do lucro dos bancos sobre as taxas de juros atingiu em 2008 o maior nível da década, de acordo com estudo divulgado ontem pelo Banco Central. O "Relatório de Economia Bancária e Crédito" mostra ainda que a inadimplência dos consumidores, apontada muitas vezes como a "vilã" dos juros altos, perdeu espaço nessa conta nos últimos dois anos.
De acordo com o BC, quase 70% da taxa média de juros praticada pelos bancos é composta pelo chamado "spread" bancário, que é a diferença entre o juro que a instituição financeira cobra dos seus clientes e o que paga para captar o dinheiro. No ano passado, a crise financeira provocou uma elevação desse custo, que subiu 40% e atingiu o maior nível no período 2001-2008.
Procurada pela reportagem, a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos) informou que não vai se pronunciar até analisar os dados do relatório.
O principal componente dessa conta ainda é a inadimplência, cuja participação subiu no ano passado, mas ainda está abaixo da verificada há dois anos. Hoje, ela responde por 33,6% do "spread".
Mas os componentes que também subiram e estão no maior nível verificado nos últimos oito anos são o lucro dos bancos, que representam quase 30% do "spread", e os tributos e encargos, com participação de 23%. Outros fatores, como custos administrativos e de direcionamento obrigatório do dinheiro dos bancos, perderam importância nessas contas.
O Banco Central assume também a sua responsabilidade sobre o aumento dos juros aos tomadores no ano passado, período em que a taxa básica (Selic) foi elevada até as vésperas da quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers, em setembro. Aumento que, aliás, chegou a ameaçar a permanência da atual diretoria do BC no cargo, devido às pressões do governo.
"A evolução do custo médio das operações no âmbito do crédito referencial refletiu a ampliação das incertezas e da aversão ao risco, consubstanciada na elevação do "spread" bancário, bem como a elevação da taxa Selic", diz a instituição.
As pesquisas mensais do BC mostram que já houve um recuo das taxas de juros e dos "spreads" no segundo semestre de 2009, devido à normalização do mercado de crédito verificada após o momento mais agudo da crise financeira.
Para o economista João Augusto Salles, da Consultoria Lopes Filho, a estabilidade da inadimplência é um fator que deve contribuir para isso também no próximo ano.
"A inadimplência deve se estabilizar em 2010, com a melhoria do emprego, e os bancos vão aproveitar para diminuir o "spread". Não vejo muito espaço para os bancos incorporarem [ao lucro] essa redução, por causa da concorrência."
Fonte: Folha de São Paulo / Eduardo Cucolo