Para Bruna, a flexibilização do trabalho promovida pela Reforma Trabalhista de 2017 “prometeu um sonho, do aumento da capacidade de trabalho, do salário maior com jornada melhor”, e nada disso aconteceu. “O sistema financeiro não para, gira 24 horas. A nossa jornada de trabalho aumentou, o nosso tempo de vida fora do trabalho diminuiu drasticamente e as nossas relações de trabalho foram precarizadas de uma forma absurda”, pontuou a parlamentar, que estuda Administração Pública e Social na UFRGS.
Segundo a deputada, não há como falar do sistema financeiro e dos desafios de negros e negras nesse setor, “sem olhar para o papel que nós temos para a correlação de forças e que estrutura a política”. Por isso, ela defende o fortalecimento dos sindicatos. “A perspectiva do individualismo ganha força nesse sistema. Nós não somos seres individuais, somos coletivos. Acredito num outro sistema financeiro, que pense na coletividade, nas saídas coletivas”, destacou.
Dados confirmam racismo
Tudo o que foi pontuado pela deputada se reflete nos dados apresentados por Vivian Machado, técnica da subseção do Dieese na Contraf-CUT. Sua palestra antecipou pontos do relatório sobre os negros e negras no mercado de trabalho que será lançado no dia 20 de novembro pelo Dieese.
Segundo a economista, a forma como o mercado de trabalho está estruturado impacta principalmente os negros, e em especial as mulheres negras. “Os negros e negras estão mais desprotegidos no mercado de trabalho, pois atuam sem carteira, por conta própria, em trabalhos familiares ou como auxiliares. Temos aí 45,8% de homens negros e 46,5% de mulheres negras em trabalhos desprotegidos”, pontuou Vivian.
Vivian Machado e André Brandão, no segundo painel do Fórum. Foto: Eduardo Seidl/SindBancários
Na categoria bancária, as negras e os negros autodeclarados somam apenas 110 mil trabalhadores, e destes, 11,4% são mulheres. Essa parte da população é também a que recebe os menores salários, evidenciando ainda mais a desigualdade. Enquanto a média salarial das mulheres da categoria em 2021 era de R$ 8.812,11, a das mulheres pretas era de R$ 7.023,55 – em média 40,6% inferior à remuneração do bancário branco do sexo masculino. Nos cargos de liderança, o recorte de raça e gênero mostra uma realidade ainda mais absurda: brancos representavam, em 2021, 75,5% dos cargos, contra 20,3% da população preta e parda nessas posições. As mulheres pretas e pardas são apenas 8,8% desse universo.
Na educação
Professor da Universidade Federal Fluminense e doutor em Ciências Sociais, André Brandão, finalizou as participações da mesa e falou sobre as desigualdades educacionais no ensino superior e as políticas afirmativas de cotas. “Houve um conjunto de articulações no período dos governos populares que proporcionou a incorporação de negros no ensino superior”, lembrou, “Mas isso obviamente não equacionou as ocupações dentro da universidade, ainda temos no Brasil uma universidade majoritariamente branca, porém com um aumento consistente de pretos e pardos”. Segundo o professor, houve um “gap” entre 2020 e 2022, com um retrocesso nas matrículas de pretos e pardos. “Mas a gente espera que haja uma retomada neste governo”, completou.
Para Brandão, as políticas de acesso à universidade são importantes, mas por si só não são suficientes para resolver a desigualdade racial no Brasil. “É absolutamente necessária. Vamos continuar lutando por isso, mas elas não vão resolver sozinhas esse problema”, afirmou, citando dados que demonstram que a média de pessoas negras com ensino superior ainda é muito menor do que a de brancos.
Fonte: SindBancários / Contraf – CUT