Belém – Milhares de pessoas participaram da marcha de abertura do Fórum Social Mundial, nesta terça em Belém (PA): 60 mil para a Polícia Militar e 90 mil segundo os organizadores do evento. O fato é que os 4 km do percurso foram tomados por cidadãos de várias regiões do Brasil e do mundo que caminharam pelas ruas de Belém com a expectativa de participar da tão desejada transformação social.

O professor da Universidade de Barcelona, Jose Antonio Esteves, veio por conta própria da Espanha para o FSM. O interesse de participar surgiu quando fez um curso no ano passado sobre o movimento altermundista (alternativo à globalização) e a racionalidade. Com amigos em Belém, veio para conhecer a dinâmica e acompanhar as discussões na nona edição do encontro.

Esteves participou do Fórum da Educação e está interessado em acompanhar os debates desta quarta-feira, 28, dia da programação voltada à pan-amazônica. Ele também quer participar das mesas sindicais dos países latino-americanos sobre saídas para a crise econômica.

"A crise está muito dura. Na Espanha, houve também muita especulação imobiliária. E agora a construção (civil) parou e demitiram muita gente, sobretudo estrangeiros latino-americanos e africanos que trabalham lá. Agora o nível de desempregados está em mais de dois milhões", disse Esteves.

Ele acredita que o FSM é um mecanismo que ajuda a trazer mudanças. Ele citou a Taxa Tobin como exemplo. "Veio do movimento altermundista e foi assumido pelo FSM. Acho que poderia ser uma boa solução contra a especulação financeira. Há muitas propostas", destacou. A Taxa Tobin visa controlar a livre mobilidade de capitais. Ou seja, a entrada e saída de capitais passa a ter regulamentação que busca proteger o desenvolvimento da economia nacional.

Na avaliação do sociólogo Ivo Lesbaupin, carioca que trabalha com formação de lideranças populares, as mudanças estão acontecendo entre o último FSM que participou em 2005, o de Porto Alegre, e este que acaba de começar. Para ele a grande diferença é o surgimento em outros países na América Latina de governos que estão tentando fazer uma política alternativa ao que já existia, o neoliberalismo. Ele destaca que outras políticas estão sendo praticadas na Bolívia, Equador, Venezuela e Paraguai. "Até 2005 eram idéias, utopias, hoje já se realiza em vários países uma política e uma economia diferentes", afirmou.

Lesbaupin destaca que o diferencial desse FSM é o fato de acontecer na Amazônia, puxando naturalmente a temática da ecologia para primeiro plano. "Vivemos uma crise ecológica e econômica ao mesmo tempo. O papel deste Fórum é pensar alternativas a esse modelo que foi construído nos últimos 30 anos e colocado em questão nesta crise. A grande chance desse fórum é pensar uma alternativa que seja ao mesmo tempo econômica, ecológica, energética e alimentar", ressaltou.

O catalão Perepetit, que mora em Belém desde 1991, e que está na organização do Fórum pela Secretária do Meio Ambiente, também está com suas expectativas voltadas ao estabelecimento ade lternativas ao capitalismo e ao aquecimento global, como foco prioritário para a questão da Amazônia.

Para ele, no geral, a sociedade está sempre à frente dos governos nos assuntos mais importantes. Perepetit vê que as pessoas estão mais preocupadas em relação às mudanças climáticas, à deterioração do ambiente e que os governos estão adotando algumas medidas ainda que paliativas. "É verdade que no caso da Amazônia ainda predominam as idéias desenvolvimentistas, que são contraditórias à preservação da natureza. E isso, nós que moramos e trabalhamos aqui, questionamos, porque o modelo da Amazônia tem que ser, inclusive no âmbito econômico, para preservar as reservas naturais. É uma disputa que ainda está na sociedade e o fórum vai ajudar nisso", completou.

Fonte: Elisângela Cordeiro – Seeb/SP