Na saída, os senadores falaram com a imprensa no Acampamento Lula Livre, instalado nas proximidades da PF, onde milhares de acampados aguardavam noticias de Lula.
Eles disseram que é adequada a estrutura da sala onde Lula é mantido – não tem grades e tem um banheiro privativo–, mas reclamaram do que classificaram como “confinamento em solitária” sofrido por Lula, já que não pode receber a visita de amigos – somente da família uma vez por semana e de advogados.
“Lula tem 72 anos e é hiperativo. Ele passava os dias conversando e esse isolamento, esse impedimento de ter visitas nos preocupa”, disse senador João Capiberibe (PSB-AP), porta-voz da Comissão.
A senadora pelo Paraná, Gleisi Hoffman, presidenta do PT, considera uma barbaridade a Justiça negar os pedidos de visitas a Lula, que tem muitos amigos querendo ir até a PF prestar solidariedade.
”O que é isso? É regime de exceção?” questionou a senadora.
“É flagrante desrespeito aos direitos humanos. Se ele fosse um bandido não viriam aqui nove governadores, três senadores, além dos pedidos de visitas do ex-presidente do Uruguai e o Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel”.
Já para a senadora Regina Sousa (PT-PI), o fato de Lula estar isolado, num último andar do prédio caracteriza o regime de solitária. “O local tem condições físicas e sanitárias razoáveis, mas ninguém está totalmente bem, preso, solitário”, disse.
Humberto Costa (PT-CE) disse que Lula está sereno, forte, mas é preciso denunciar que ele está submetido à solitária.
“Ele está sereno, forte, animado o tempo inteiro, mas preocupado com a situação do povo, com o futuro da democracia. Ele tem a expectativa e esperança de darmos continuidade a essa luta [por Lula Livre] e que ele ganhe a liberdade a tempo de disputar as eleições e possa ser presidente novamente.”
Segundo o senador Paulo Paim (PT-RS), apesar do isolamento, o ex-presidente pode ouvir o que o povo diz Acampamento Lula Livre, instalado nas proximidades da Polícia Federal, e demonstrou estar confiante.
“Foi uma visita impressionante e gratificante pela tranquilidade que demonstra o presidente, mostrando preocupação com o povo brasileiro, com as instituições e a liberdade de todos, não com a sua própria”, contou.
João Capiberibe também falou sobre a tranquilidade de Lula, mas ressaltou que “ele está indignado com as distorções de informações que chegam à população, e que sua única arma é sua inocência. Por isso, ele não pediu asilo político em outro país, pois acredita na democracia e na justiça”.
Segundo a senadora Regina Sousa, assim que a Comissão chegou todos se emocionaram, mas Lula disse que não queria ver o choro de ninguém.
“Nós o atualizamos sobre o que acontece aqui fora. Ele está menos preocupado consigo mesmo e mais com o estado de direito, com o futuro da democracia nesse país. Lula pediu para não desistirmos da democracia”, contou a senadora, que junto com a comissão visitou outros presos pela operação Lava Jato que se dividem em celas para duas ou quatro pessoas e estão em condições razoáveis.
Todos os senadores e senadoras da comissão afirmaram que Lula está bem fisicamente; que recebe cartas, que lê todas e ouve o “Bom Dia Presidente”. Disseram ainda que a palavra que Lula mais usou, segundo eles, foi resistência.
“Meu sentimento é que Lula é um gigante. Numa situação dessas e foi ele quem pegou a gente no braço e disse ‘vocês tem de continuar a luta, ter força, resistir’. Por isso, o acampamento e vigília têm de continuar e ir até as últimas consequências”, contou o senador Lindbergh Farias ( PT-RJ).
Lindbergh completou que o presidente disse “eu sei que fui preso porque eu fiz a ascensão do pobre nesse país”.
Segundo os senadores e senadoras, a Comissão de Direitos Humanos do Senado fará um relatório que será lido no plenário, para depois tomar medidas, que ainda serão estudadas.
João Capiberibe, que redigirá o relatório da diligência, afirmou que seu texto indicará que Lula não está tendo direito às visitas previstas na Lei de Execuções Penais.
“É um preso político ou não é? Um homem que tem hoje 30%, 35% da preferência do eleitorado brasileiro. Ou seja, um caso raríssimo na história do Brasil. A nossa visita hoje foi uma determinação da Comissão de Direitos Humanos do Senado, mas não deixa de ser uma visita política, porque Lula é um preso político”.
“Se Lula não estivesse na frente nas pesquisas, estaria preso? Temos convicção de que não. Hoje completam-se dois anos do golpe, e o golpe segue em curso com a prisão de Lula”, afirmou a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).
Fazem parte da comissão Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Humberto Costa (PT-PE), João Capiberibe (PSB-AP), José Pimentel (PT-CE), Lídice da Mata (PSB-BA), Lindbergh Farias (PT- RJ), Paulo Paim (PT-RS), Paulo Rocha (PT-PA), Regina Sousa (PT-PI) e Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM).