Não levou nem 48 horas para o bancário Roberto Domingos, que retornava de afastamento por doença, voltar a ser assediado por seu superior. A situação aconteceu na agência do Bradesco em Duque de Caxias, onde Irineu Degasperi é gerente-geral e Roberto, Gerente de Pessoa Jurídica. Ao retornar de sua licença, o bancário esperava reassumir suas funções, mas isso não aconteceu. Ao saber que Roberto havia entrado para a chapa única que se candidatou às eleições no Sindicato dos Bancários da Baixada Fluminense, Irineu ficou revoltado. "Só quem entra para o sindicato é lesionado ou incompetente", provocou o gestor.

Daí em diante, o dia foi uma batalha. Roberto se apresentou para trabalhar no horário de costume, pouco depois das 8h. Irineu impediu sua entrada e disse que o bancário deveria esperar do lado de fora da agência até que os outros gerentes entrassem. Depois que um dos outros gerentes entrou, Roberto passou pela porta. Quando Irineu o viu dentro da unidade, ameaçou enviar queixa dos vigias à empresa de segurança, exigindo que fossem devolvidos à sede da firma, já que os guardas tinham descumprido a ordem de não deixar Roberto entrar antes das 9h30. "Você é moleque, não confio mais em você. Vai botar o colete e ficar aí fora", ordenou Degasperi, referindo-se à peça de vestuário que identifica os funcionários do banco aptos a prestar assistência no autoatendimento. "Como ele não confia mais em mim, tenho 20 anos de banco?", questiona Roberto.

Mas não foi só a designação para o autoatendimento. Todas as contas de clientes de Roberto foram passadas para outro bancário durante seu afastamento, mas ele esperava receber de volta sua carteira de clientes. Entretanto, o bancário foi reclassificado como Chefe de Serviço ao retornar, perdendo seu posto. Enquanto atendia o público no hall eletrônico, Roberto viu entrarem na agência muitos de seus clientes, que estranharam vê-lo ali. "Nenhum trabalho é indigno, e eu não me importo em trabalhar no autoatendimento. Mas ele fez isso para me humilhar, me rebaixar. Acho que é um desrespeito não só a mim, mas ao sindicato, já que ele passou a me tratar dessa maneira quando soube que eu estava na chapa", avalia Roberto.

Muitos problemas

O afastamento de Roberto por síndrome do pânico e depressão aconteceu em meados do ano e ele recebeu o benefício previdenciário até setembro. Com a burocracia do INSS, a perícia custou a ser marcada e o bancário chegou a ficar dois meses sem benefício, nem salário. Depois da perícia, que foi realizada na última semana, ele se reapresentou ao banco para trabalhar. Mas sua recuperação não é plena e este tipo de situação traz riscos à sua condição. "Vim de licença de psiquiatria e o médico do trabalho disse que eu tive melhora, mas preciso ter acompanhamento. Cheguei a perguntar ao Irineu, quando a discussão começou, se ele estava mesmo disposto a me pressionar daquela maneira, sabendo que eu estava retornando do afastamento", relata o bancário. Roberto já foi atingido por uma bala perdida em 2001, em frente à agência em que trabalhava, e sofreu uma tentativa de sequestro em 2007.

Como, além dos transtornos mentais, Roberto também é portador de LER/DORT, a designação para um trabalho diferente de sua função original poderia ser encarada como reabilitação profissional. Mas não há nenhum plano para reinserção de Roberto na rotina da agência. "Ele poderia ter sido designado para outras funções, que não envolvessem digitação, como visitas a clientes e cobranças, por exemplo. Mas não houve reabilitação, o gerente-geral agiu por conta própria, para humilhar o subordinado", relata Marcelo Silva, dirigente do Sindicato da Baixada Fluminense.

História longa

A perseguição de Irineu a Roberto não é novidade. Em dezembro de 2008, fraudadores deram um golpe milionário na agência e o gestor designou Roberto para ir em busca dos criminosos para recuperar o dinheiro. "Tenho documentos que comprovam a perseguição dele em vários momentos", informa Roberto. Mas o bancário, que pela primeira vez em duas décadas na categoria, vai integrar a direção de seu sindicato, não está disposto a desistir. "Acho que ele tem alguma coisa contra o sindicato. Ele quer me desqualificar para que, se alguém precisar fazer uma denúncia, vai olhar o meu caso e pensar que eu não consigo resolver nem meus próprios problemas", especula o bancário. Roberto também sabe, por outro lado, que a pressão deverá ser constante, mas que não deverá ir além do nível atual. "Estão querendo me transferir para tirar a pedra do sapato", interpreta.

Fonte: Feeb RJ-ES

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