Sem capital para cumprir regras internacionais de proteção e mais interessados na privatização do que em fortalecer o papel social do banco estatal, os gestores da Caixa Econômica Federal reduziram os financiamentos e aumentaram os juros para a compra de imóveis.
“O principal objetivo do governo é privatizar a Caixa e, para isso, é preciso reduzir sua atuação, impedir que ela faça o seu papel de financiar a habitação, o saneamento básico e o transporte público, necessários para as melhorias das cidades e da população”, diz Cláudio da Silva Gomes, presidente da Confederação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores nas Indústrias da Construção e das Madeireiras (Conticom-CUT).
Segundo ele, mesmo com os lucros altíssimos obtidos com as altas taxas de juros cobradas, o banco não consegue atingir índices mínimos para dar suporte às operações de habitação e uma das razões disso é o recorde de desempregados.
“As linhas para a casa própria eram oriundas do Fundo de Garantia. Com essa política de Temer de desemprego, a arrecadação do FGTS diminuiu. Há mais saques do que depósitos no principal fundo da habitação”.
Nos governos Lula e Dilma, que tinham políticas econômicas claramente voltadas para o desenvolvimento com justiça e inclusão social, com geração de emprego e distribuição de renda, não faltavam recursos para a habitação, diz Cláudio Gomes, lembrando que os golpistas não têm políticas para o país, só têm interesses pessoais.
A política habitacional pós-golpe de 2016 não existe
“Assim como não existe nenhuma política econômica. O que ainda temos na área de habitação hoje são sobras dos governos Lula e Dilma, como o Minha Casa, Minha Vida,” afirma o dirigente.
Essa tese é corroborada pela economista Ana Luiza Matos de Oliveira, consultora da Fundação Perseu Abramo e doutoranda no Instituto de Economia da Unicamp.
Para ela, além da questão dos saques do FGTS, existe uma política deliberada desse governo de reduzir o montante disponível para o BNDES e Caixa, o que afeta a oferta de crédito no Brasil.
Há uma política de descapitalização de bancos. São manobras que têm a ver com a redução do papel do Estado
Segundo ela, nos anos 2000, havia políticas positivas que retroalimentaram a renda e o emprego e que foram importantes para o mercado de consumo e alta da arrecadação.
“Hoje, há poucos mecanismos que mantêm a roda girando. Esse governo não tem política para o desenvolvimento, especialmente pelo engessamento dos investimentos públicos com o teto dos gastos”, avalia.
“A economia está num nível muito baixo. A gente está se movendo no fundo do poço”.
Sem luz no fim do túnel
O desemprego é apontado como um dos fatores que mais atrapalham a alta do crédito. A desaceleração do financiamento acompanhou a alta do desemprego, que subiu de 6% para mais de 13%.
O Brasil tem hoje 33 milhões de trabalhadores com carteira assinada, o ponto mais baixo da série histórica desde 2012. A taxa de desocupação é de 12,6% e 13,1milhões de trabalhadores estão desempregados.
“Desde o golpe de 2016, a construção civil perdeu 1,2 milhão de vagas. Se pensarmos que a cada vaga a menos, outras cinco também são perdidas em setores que giram em torno da construção, como materiais, madeiras e mobiliários, temos uma noção da destruição da indústria da construção”, analisa Cláudio da Silva Gomes, da Conticom-CUT.
“Houve uma pequena queda nos últimos meses na taxa de desocupação devido ao aumento da informalidade. É por isso que discordo do otimismo de economistas ligados ao mercado financeiro, que apostam num crescimento do PIB de cerca de 3%, baseados unicamente num possível aumento de consumo”, analisa a economista Ana Luiza.
Com essa ampliação da informalidade, os trabalhadores não têm a mesma condição de consumo. Sem salário fixo e com a insegurança de que sua renda pode cair, eles reveem sua proposta de se endividar e consumir.
“Essa visão otimista dos analistas mais ligados ao mercado precisa ser ‘problematizada’, porque o que temos visto quando se trata de economia é uma tentativa de passar imagem positiva por meio da mídia. Só que os números desmentem essas análises”, diz a doutoranda da Unicamp.
“Essa retomada do consumo e do emprego pode não vir como eles esperam”.
Ana Luiza alerta para um dado que reflete a precarização do trabalho e a diminuição da renda dos trabalhadores e trabalhadoras que impactam na análise errônea de recuperação da economia: o aumento das ocupações em trabalhos domésticos.
“Nos anos 2000 as domésticas puderam migrar pra outro tipo de trabalho. Elas foram para o telemarketing, para vendas, secretariado, entre outras atividades. Hoje o movimento é contrário. O Brasil é o país que tem mais empregadas domésticas do mundo. Isso é um reflexo da desigualdade social”, finaliza a economista da Fundação Perseu Abramo.