Crédito: Fábio Nunes/Seeb ES
Com a temática "Nosso Trabalho Sustenta o Mundo", o II Encontro Estadual da Mulher Bancária, realizado nos dias 12 e 13 de agosto (sexta e sábado) pelo Sindicato dos Bancários/ES, contou com a presença de mais de 110 participantes, entre homens e mulheres. Dentre as principais propostas sugeridas no evento estão a promoção de um encontro nacional de mulheres bancárias em 2012; a realização de um trabalho direcionado às bancárias jovens para envolvê-las na construção da política de gênero do Sindicato, o estudo e o mapeamento das bancárias sindicalizadas no ES e no Brasil e discussões permanentes sobre a valorização do trabalho feminino.
De acordo com Deise Recoaro, secretária de Políticas Sociais da Contraf-CUT, que esteve presente durante todo o evento, um encontro nacional de mulheres não é uma meta impossível. "Eu saio daqui inspiradíssima. Sem dúvida esse encontro realizado em Vitória foi um marco para nós começarmos a pensar um encontro nacional", disse.
Para Deise, o encontro reuniu vários elementos e conteúdos essenciais para refletir, mobilizar e avançar na luta por uma sociedade mais justa igualitária. "Da exposição de fotos à decoração com fuxicos, da performance cultural à oficina de bio-dança, da reflexão política à formulação de propostas. A mistura destes ingredientes, formam uma massa crítica capaz de revolucionar as relações humanas e de poder estabelecidos, pois desperta para uma consciência do ‘quem somos’ e ‘de quê lado estamos’, tão temida e rechaçada por quem detém o poder econômico, político e social deste país", afirma.
A diretora da Federação dos Bancários RJ/ES Iracini Soares da Veiga também participou do evento e ressaltou que o debate de gênero tem que estar no dia a dia das mulheres, nos locais de trabalho e no espaço sindical.
Renata Garcia, bancária da Caixa Econômica Federal, saiu do Encontro apostando na construção coletiva das mulheres. "Debater essa temática é uma oportunidade de a gente descobrir que nossas experiências e nossas frustrações não são individuais. Pelo contrário, são partilhadas por outras mulheres. Quando descobrimos isso, a gente se fortalece e vê que nossa vida tem uma dimensão política. Isso contribui para nos darmos conta do nosso papel político, para nos transformar em sujeito de ação, tomar a história nas mãos e ter forças para mudar as coisas".
Mas não foram apenas as mulheres bancárias que participaram do debate. O diretor do Sindicato Paulo Soares foi um dos homens que participou dos dois dias do II Encontro. "Levo a conscientização para acabar de vez com a discriminação contra a mulher e contra as pessoas que tem a orientação sexual diferente da nossa. Hoje as pessoas estão sendo desrespeitadas em seus direitos e na sua forma de ser e é preciso dar um basta nessa violência e nessa falta de respeito", declarou.
Paulo Sacramento concorda. "Quando você ouve as mulheres, você assimila de outra forma. Eu acho que deveriam ter vindo mais casais, inclusive. A partir do momento em que o homem participa do debate, ele entende melhor como é dura essa dupla jornada que a mulher tem no dia a dia", afirma o diretor do Sindicato, que trouxe sua esposa para participar do encontro.
Exposição e palestras
O evento foi aberto na sexta-feira à noite com a exposição de fotos feitas por bancárias e outras mulheres, retratando cenas do cotidiano feminino: em casa, nas agências bancárias e em outros locais de trabalho.
Em seguida, a historiadora e doutora em Filosofia Virgínia Fontes fez uma palestra destacando que a luta pela superação do capitalismo é o caminho para a construção de uma sociedade de iguais com respeito às diferenças.
"A análise histórica feita pela professora sobre a mulher no mundo trabalho e sua inserção no atual estágio do capitalismo nos deu a oportunidade de fazer um paralelo com a grande ameaça que a ampliação do correspondente bancário representa, não só para a categoria, mas também para a população em geral", avalia Deise.
A professora defende que as entidades de classe devem denunciar as mazelas e as consequências para a sociedade. "Ela comparou a situação ao trabalhador rural que joga veneno nas plantações. É preciso dizer que aquilo mata, não só quem consome o alimento, como também ele próprio", sustenta.
Na manhã do segundo dia do evento, as bancárias e convidadas participaram de uma vivência através da biodança, um momento de reflexão e desconstrução dos padrões de rigidez e cobranças impostos socialmente às mulheres.
A palestrante Liliane Segnini não pôde comparecer ao evento devido a problemas de saúde. A discussão foi feita a partir de um vídeo sobre a mulher e a reestruturação produtiva produzido pelo CFEMEA.
No período da tarde, homens e mulheres discutiram a necessária luta pela igualdade de oportunidades e o respeito à diversidade, em um painel com a participação de Antônio Lopes, coordenador do Fórum Estadual LGBT, e Lídia Campos Cordeiro, integrante do Coletivo Santa Sapataria e diretora de Combate às Opressões do DCE da UFES.
O encontro foi marcado também por performances poéticas e apresentação da atriz Sueli Bispo.
Conscientização da mulher sobre o seu espaço
Apesar do sucesso do Encontro, Lucimar Barbosa ressalta um dado importante. Mesmo com a realização de um debate para mulheres, com, inclusive, a disponibilidade de creche para os filhos das bancárias, muitas delas alegaram dificuldade em participar devido às atividades da sua segunda jornada de trabalho, com a casa e com os filhos.
"Essa é uma questão cultural que precisa ser mudada. A mulher deve se conscientizar sobre o espaço que tem de ocupar e entender que pode deixar a sua casa, sem ser dominada pelas atividades domésticas e da família. Além do mais, o Sindicato está aberto, preparado para garantir o cuidado com os filhos durante as atividades e espera esse movimento das bancárias", disse.
Fonte: Seeb ES