O primeiro painel do II Fórum da Igualdade, ocorrido na noite de segunda-feira (16), em Porto Alegre, focou o tema "Modelo de desenvolvimento e sustentabilidade". Os debatedores trataram das alternativas ao modelo econômico atual, na busca de um desenvolvimento justo, que seja capaz de garantir a inclusão social e de atender às necessidades da geração presente, preservando as condições para o atendimento às gerações futuras.
A política salvou o Brasil
O economista comparou a economia brasileira até 2003 com uma galinha, que tentava voar, mas nunca saia do chão. A partir do governo Lula, o país passou a ter uma margem maior de crescimento, onde ricos e pobres aumentaram o padrão de vida.
"O Brasil adotou uma política inversa da maioria dos países: a de distribuir para crescer. O nosso país é o que é hoje por causa da política. Foi a política que nos salvou", afirmou.
Para Pochmann, a atual crise do capitalismo é a pior dos últimos 70 anos e isso está gerando uma mudança no centro dinâmico do mundo, dos Estados Unidos para os países asiáticos. E isso automaticamente, reposiciona o Brasil no mundo.
"Temos que encarar os desafios de frente. O país está envelhecendo e diminuindo a taxa de fecundidade. Até 2030 haverá uma redução no número de brasileiros. Como vamos financiar esse envelhecimento? Precisamos buscar alternativas ou estamos caminhando para sermos um país de velhos miseráveis", disse.
As transformações no mundo do trabalho, que atualmente geram mais postos imateriais (que não resultam em nada concreto, palpável) do que materiais (que resultam em algo concreto), é devido em grande parte ao advento das novas tecnologias. "São postos de alienação, pois o trabalhador realiza suas tarefas em qualquer lugar sem ter vínculo com entidades de classe", apontou.
Outro desafio salientado por ele é a necessidade de conhecimento, pois estamos presos ao sistema educacional do século passado que considera aceitável que apenas as crianças e os jovens estudem. "Não temos noção e políticas públicas que incentivem a educação para toda a vida".
Por fim, o painelista afirmou que um desenvolvimento sustentável não é um desejo, é uma necessidade. "Eventos como este, onde pensamos a igualdade, nos anima a romper com o medo e a combater as situações de desigualdades", concluiu Pochmann.
Desigualdade histórica e na agricultura
Após a explanação do economista, o presidente da Fetraf Sul, Celso Ludwig, questionou o tratamento que os agricultores, que produzem os alimentos, recebem dos governos. "Transformaram a comida num negócio quando deveria ser soberania alimentar. Presenciamos grandes empresas de grupos privados disputarem recursos públicos e ganham porque estão mais preparadas para essa disputa que nós", comparou.
Ludwig contou que atualmente, mesmo com a seca, se produzem toneladas de grãos a mais do que há alguns anos atrás, mas mesmo assim os jovens não querem continuar no campo. "O governo não investe em políticas públicas que tornem atrativa a vida fora dos centros urbanos", disse.
Segundo Helena Bonumá, do Guayi, para pensar alternativas para o futuro é necessário se debruçar sobre o passado, a fim de entender o presente. "Há uma desigualdade histórica no Brasil, que nos caracteriza desde a colonização portuguesa", ressaltou.
Para ela, essa desigualdade pode ser vista na distorção que o país vive. "Se por um lado atingimos níveis de pleno emprego, por outro enfrentamos a falta de mão de obra qualificada. Estamos com falta de recursos humanos na construção civil, porém aumentou o número de acidentes de trabalho neste setor", frisou.
"Parece que nos perdemos na busca de pensar um projeto estratégico, pois ainda temos o mesmo Estado que se constituiu com a coroa portuguesa. A sociedade tem que fazer um grande e rigoroso movimento e a nossa construção nos credencializa para pensarmos e realizarmos a mudança que queremos", finalizou Helena.
O presidente do Sindicato dos Economistas, Rafael Cunha, foi o mediador do debate.
Abertura
Antes do primeiro painel, foi realizada a abertura do II Fórum da Igualdade. O presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowski, explicou que o evento é um contraponto ao Fórum da Liberdade, que está acontecendo na capital gaúcha, e que tem como objetivo dialogar sobre os novos paradigmas e o desenvolvimento com justiça social e ambiental.
"Estamos muito orgulhosos de receber todos os participantes deste evento, nós que fomos pioneiros, ano passado, ao criar esse contraponto porque vimos a necessidade de dizer que sem igualdade não há liberdade. Aqui serão feitos debates de grande contribuição para a Rio+20", declarou Woyciechowski.
Representante das pastorais sociais, Irmão Cecchin lembrou os catadores de lixo que somam mais de um milhão e meio apenas no Brasil. "Essas pessoas têm o direito de serem cidadãs, mesmo no meio do lixo e eventos como este Fórum, em que se debate o Estatuto da Igualdade, são oportunidades de dar mais dignidade para os catadores", projetou.
O vice-governador do Rio Grande do Sul, Beto Grill, parabenizou a iniciativa da CUT-RS por promover o debate sobre o desenvolvimento sustentável. Ele também relatou os programas e projetos do governo que utilizam a sustentabilidade como mote.
"Ano passado, representei o governo no outro Fórum, ouvi todas as falas que enalteciam o capitalismo. Quando fiz a minha intervenção, fui vaiado durante todo o tempo, mas confesso que nunca uma vaia me reconfortou tanto", contou.
Também participaram da cerimônia de abertura o representante do IDHES, Mauri Cruz, o técnico do Incra, Leonardo Melgarejo, o economista do Dieese, Ricardo Franzoi, o diretor da CUT-RS, Vilson Alba, e representantes das demais entidades que promovem o evento.
Oficinas
Durante a tarde foram realizadas três oficinas: A reforma agrária e os alimentos de qualidade, A contaminação genética do milho e Ecofeminismo como crítica à perspectiva capitalista patriarcal.
Durante todo o dia, cerca de 600 pessoas participaram do II Fórum da Igualdade.
Fonte: Contraf-CUT com CUT-RS