O Banco Central brasileiro foi um dos raros que não usaram as linhas de swap de moedas abertas pelo Fed (Federal Reserve, o BC dos Estados Unidos) para as suas contrapartes em 14 das mais importantes economias do mundo durante a recente crise financeira mundial. Mas o banco Itaú aproveitou para contratar operações, algumas com valores superiores a US$ 1 bilhão, em linhas criadas pelo Fed para injetar liquidez no mercado financeiro e para estimular a volta do crédito bancário.

É o que mostram os registros das 21 mil operações fechadas pelo Fed entre 2007 e 2009 para evitar o colapso do sistema financeiro global, divulgados anteontem por ordem do Congresso americano.

O banco Itaú, por meio de sua filial em Nova York, contratou 22 operações com valores entre US$ 10 milhões e US$ 1,145 bilhão em duas das linhas criadas pelo Fed que exigiam como garantia títulos e empréstimos feitos pelos bancos. Entre novembro de 2008 e março de 2010, o Itaú captou junto ao Fed US$ 7,11 bilhões.

Uma das linhas criada pelo Fed, conhecida pela sigla TAF, era voltada a injetar liquidez no mercado e foi a mais usada pelo banco brasileiro. Foram 17 operações que totalizaram US$ 6,920 bilhões. A outra modalidade, conhecida como Talf, visava a estimular a volta dos empréstimos bancários a pequenas empresas e pessoas físicas. O Itaú fez cinco operações que somaram US$ 191,9 milhões.

O diretor de tesouraria externa do Itaú BBA, Marco Antonio Sudano, afirma que o banco tem uma atuação internacional em países como o Chile e Portugal e identificou uma oportunidade para captar recursos mais baratos para repassar aos clientes. "Faz parte de nossa estratégia acessar linhas mais convenientes para ter competitividade para emprestar para nossas clientes", afirmou ele.

Para acessar as linhas disponibilizadas pelo Fed foram exigidas garantias colaterais dos tomadores de empréstimos concedidos pela instituição financeira. A contrapartida é uma forma de assegurar que os recursos captados pelos bancos sejam direcionados a empréstimos, e não usadas para operações de arbitragem, por exemplo.

A primeira operação feita pelo Itaú, de US$ 10 milhões, foi contratada em novembro de 2008, quando era forte o aperto de liquidez no mercado global. Mas os volumes mais expressivos tomados pelo Itau ocorreram entre fins de 2009 e início de 2010, quando já havia liquidez mais farta.

Numa linha, o Fed concedeu financiamentos para quem adquiriu papéis lastreados em empréstimos de varejo, como financiamentos para a aquisição de veículos e de cartão de crédito. O Itaú apresentou como garantia operações da Nissan, Ford, Chrysler e pela empresa de cartões de crédito emitidos pela Discover Card. Essas operações foram contratadas junto ao Fed em junho e julho de 2009 e quitadas em setembro do mesmo ano.

Em fins de 2008, quando a quebra do banco Lehman Brothers desencadeou a crise econômica mundial mais grave desde a Grande Depressão, o Fed passou a promover injeções de liquidez por meio de programas de crédito que somaram US$ 3,3 trilhões. O BC brasileiro chegou a fechar um acordo de swap de moedas com o Fed.

Ele previa que, se necessário, o Brasil poderia sacar até US$ 30 bilhões junto ao Fed, depositando reais em garantia, para socorrer eventuais bancos brasileiros que enfrentassem problemas de liquidez.

Os dados recém-divulgados pelo Fed mostram que o Brasil foi um dos únicos a não usar a linha de swap, ao lado do Canadá, Cingapura e Nova Zelândia. Outros dez bancos centrais sacaram dinheiro do Fed, incluindo o México e a Coreia do Sul, duas economias emergentes que assinaram acordos com o Fed no mesmo dia que o Brasil. O Banco Central Europeu foi uma dos principais usuários da linha de swap. O BC brasileiro usou dinheiro das suas próprias reservas internacionais para socorrer o mercado financeiro.

O Fed também divulgou informações sobre os empréstimos nas suas diversas linhas de emergências abertas a instituições financeiras e empresas para evitar o colapso do sistema financeiro global. Entre os tomadores de recursos há instituições que enfrentavam problemas de liquidez, mas a lista também inclui bancos e empresas que enxergaram uma oportunidade para fazer bons negócios.

Fonte: Valor Econômico /  Alex Ribeiro e Aline Lima, de Washington e São Paulo

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