Relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado ontem, estima que mais US$ 2 trilhões de ativos de bancos europeus serão vendidos nos próximos dois anos, para levantar colchões de capital e reduzir as necessidades de funding do setor, diante da fragilidade causada pela crise da dívida soberana na zona do euro.
"De uma certa maneira, os sistemas bancários estão se tornando mais nacionais, menos globais", afirmou Douglas Flint, presidente global do HSBC e agora também do IIF. "O resultado é maior fragmentação e balcanização do sistema financeiro global."
Frederic Oudea, executivo-chefe do Société Générale, disse em debate que os bancos enfrentam escassez de fundos privados, na luta para elevar mais capital, e que a resposta é a desalavancagem.
De acordo com o Royal Bank of Canadá, bancos, sobretudo da zona do euro, reduziram em US$ 300 bilhões sua exposição nos emergentes no segundo trimestre de 2011, em parte com a venda operações para transferir dinheiro para as matrizes.
Pesquisas feitas pelo IIF sugerem que o tamanho da desalavancagem tem sido significativo e, junto com outros fatores, está contribuindo em vários mercados para reduzir o crédito bancário.
Ao apresentar novas tendências de fluxos de capitais para os emergentes, como vice-chairman do IIF, Setubal disse que "sem dúvida a desalavancagem nas instituições europeias pesará nas perspectivas de crescimento dos emergentes, especialmente na Europa".
Indagado sobre se, com a tendência de rápido crescimento nos ativos de bancos nos emergentes, é possível que a geração interna de capital seja insuficiente para gerar capital de base ele respondeu que no caso do Brasil isso não ocorre.
O banqueiro acrescentou que as instituições têm capacidade de expandir os ativos, exemplificando a tendência de crescimento de crédito imobiliário, com menos demanda de capital do que outros ativos. "É uma área pouco desenvolvida, com um grande potencial."
Setubal mostrou-se otimista com a economia brasileira. Questionado se a euforia com o Brasil acabou, ele disse que o que está em curso é um cuidado maior, por causa das situação na zona do euro e dos Estados Unidos.
Ele considera que o Brasil passa por um momento de recuperação da economia. Acha que a política monetária vai fazer efeito e enxerga reduções adicionais de juros. E considera muito possível que o país termine o quarto trimestre com expansão de 1%, recuperando o ritmo de 4% do PIB ao ano.
Apesar de inadimplência elevada nas carteiras de financiamento de veículos, Setubal reiterou que vai continuar nesse segmento. "O governo tomou uma série de medidas para esse mercado se recuperar", assinalou.
O presidente do Itaú Unibanco vê também uma tendência de baixa dos spreads bancários "na medida em que forem criadas as condições, como queda da inadimplência, taxas de juros mais baixas de forma sustentável e crescimento econômico". Estima que sugestões pontuais podem reduzir os spreads em vários tipos de produtos, como o caso de regulamentação do cadastro positivo, que depende do governo.
Fonte: Valor Econômico / Assis Moreira