A chantagem dos bancos para subir os juros
Carlos Cordeiro
O fim de ano é um tempo fértil para fazer previsões. Nos últimos dias, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) divulgou que o crescimento de 2011 será bem menor (4,5%) do que o deste ano, que o fantasma da inflação é uma ameaça e que os juros, inevitavelmente, terão de subir. A profecia foi logo endossada por vários colunistas de plantão. É um coro muito bem ensaiado.
O que, na verdade, está ocorrendo é que os bancos e seus porta-vozes estão fazendo chantagem com a sociedade para tentar emparedar o governo, a fim de tirar mais uma lasquinha e aumentar ainda mais os seus lucros astronômicos. Só nos primeiros nove meses deste ano, eles lucraram cerca de R$ 32 bilhões. Nenhum outro setor da economia ganhou tanto dinheiro.
O mito da inflação ameaçadora não resiste aos fatos. Segundo relatório do Dieese, a inflação dos últimos meses está relacionada à elevação dos preços de poucos produtos agrícolas, que tiveram problemas de oferta em razão de fatores climáticos e sazonais. Análise idêntica foi feita pelo Banco Central. Não houve explosão do consumo acima da capacidade da economia. Os produtos consumidos não tiveram elevação significativa. Alguns deles até tiveram deflação nos últimos 12 meses.
É importante frisar que tanto os bancos quanto seus formadores de opinião são experts em fazer previsões erradas. Só para recordar: a Febraban previu taxa Selic de 10,84% no final de 2009, mas ficou em 8,75%. Apostou no crescimento do PIB de 4,15% no ano passado. Foi de -0,64%.
Quanto à inflação, os bancos prognosticaram índice de 4,48% para 2008. Chegou a 5,90%. Ainda mais gritante: a Febraban apostou em fevereiro deste ano que o PIB de 2010 cresceria 5,3%. Tudo indica que será superior a 7%.
A taxa Selic é um componente importante no lucro dos bancos. Eles querem ganhar ainda mais de maneira fácil, às custas do desenvolvimento econômico e social do País. O Brasil precisa de outro sistema financeiro, com as pessoas em primeiro lugar.
Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro/Contraf-CUT
Fonte: Contraf-CUT com Jornal do Comércio