Crédito: William Pedreira

William Pedreira
Uma delegação de jovens da central sindical norte-americana AFL-CIO participa desde segunda-feira (21) de um intercâmbio com a juventude da CUT.

Esta é a primeira vez que há um intercâmbio formal de jovens na AFL-CIO e a escolha do Brasil foi, conforme relato dos próprios dirigentes, devido a experiência de organização da juventude brasileira, em especial a organização dos jovens na CUT.

Para Rosana Sousa, secretária de Juventude da CUT, "é muito importante o reconhecimento legal da Central como referência na organização da juventude a ponto de uma entidade internacional vir conhecer a nossa realidade para extrair e agregar valores levando esta rica experiência para seu país, o que ajudará na consolidação e nos avanços das políticas voltadas aos jovens."

"É gratificante poder contribuir para a organização de jovens num país como os Estados Unidos, que tem hoje altos índices de desemprego, com a juventude trabalhadora sendo a grande prejudicada. A ideia é mostrar a nossa experiência e reivindicar políticas públicas que combatam a precarização e a pobreza juvenil", destaca Rosana.

Realidade norte-americana

Nesta terça-feira (22), os dirigentes da entidade fizeram uma pequena apresentação sobre a estrutura e a participação dos jovens no movimento sindical norte-americano.

Segundo relata Gladys Cisneros, membro da juventude da AFL-CIO, os dirigentes possuem grande dificuldade em promover o sindicalismo no país, uma vez que o reconhecimento dos sindicatos é voluntário por parte dos trabalhadores e muitas vezes boicotado pelas empresas.

Ela falou também sobre o relatório "Jovens Trabalhadores: uma década perdida", produzido pela entidade em 2009, sendo o primeiro estudo sobre a juventude trabalhadora.

Nesta pesquisa constatou-se que 24% dos jovens não conseguem pagar as suas contas. Já o poder aquisitivo do jovem norte-americano é 30% maior quando está no sindicato. Mas no total de sindicalizados, apenas 4,3% tem entre 16 a 24 anos.

Gladys lembra que no mesmo ano foi aprovada uma resolução da AFL-CIO onde ficou definido que as entidades deveriam investir na juventude em todos os estados, principalmente em formação. Já em 2010, a entidade realizou a sua 1ª Conferência Nacional de Jovens, que contou com a participação de mais de 400 jovens de 26 estados.

Tahir Duckett, membro da Working America, entidade filiada a AFL-CIO, afirmou que os jovens norte-americanos estão hoje em uma situação pior que as dos seus pais, lembrando que não há hoje perspectiva para novos empregos, planos de saúde, e outros direitos sociais e econômicos.

"É aí que eu faço uma comparação entre a nossa realidade com a dos jovens tunisianos e egípcios que ajudaram a derrubar os regimes ditatoriais instalados em seus países. Ambos são jovens, sem empregos e oportunidades. Em todos esses países, a economia não consegue gerar empregos suficientes para absorver a mão de obra jovem, o que gera uma mobilização nacional e a luta por melhores condições de vida."

Ele destacou que a AFL-CIO vem lutando para mudar essa realidade com ações como a criação de um conselho consultivo dos diretores jovens que tirou uma estratégia de organização baseada em quatro eixos:

– Construção de um grupo para organizar jovens no local de trabalho e no sindicato;

– Treinamentos para formar novas lideranças sindicais;

– Montagem de uma estratégia de comunicação que se identifique com a linguagem dos jovens;

– Trabalhar na construção de novas formas de organização de jovens.

Experiência dos bancários e dos químicos no Brasil

Durante o encontro, Adriana Magalhães, dirigente do Sindicato dos Bancários de São Paulo e Rodrigo Franco Leite, do Sindicato dos Bancários de Bragança Paulista, expuseram as formas de organização da categoria.

Os dirigentes ressaltaram que os bancários são a única categoria no Brasil a ter um acordo coletivo nacional que representa tanto o setor público como privado. Falaram também sobre as conquistas para os jovens instituídas na convenção coletiva, como a clausula para abono de falta do estudante.

Já Alex Fonseca e Carlos Brito (Carioca), do Sindicato dos Químicos e Plásticos de São Paulo e Márcio Cruz (Bob), do Sindicato dos Papeleiros de Mogi falaram sobre a realidade no setor químico, um dos ramos pioneiros no que tange a organização da juventude, trazendo dados de pesquisas para mostrar a atual distribuição da juventude.

Semana de atividades

A partir desta quarta (23), os dirigentes da AFL-CIO estarão em Recife, onde a juventude da CUT apresentará algumas experiências de organização, com destaque para a Plataforma por políticas públicas para a juventude a e recente constituição da Secretaria Nacional.

A delegação norte-americana conhecerá também a experiência da Escola Sindical Nordeste, a política de formação da juventude e a relação estabelecida entre a juventude da CUT e os movimentos sociais juvenis.

Fonte: William Pedreira – CUT