Ações também buscam iniciar mobilização para 2ª Marcha das Mulheres Negras, que ocorre em 2025
Neste ano, com o tema “Mulheres Negras em Marcha por Reparação e Bem Viver”, o Julho das Pretas está realizando pelo menos 446 atividades, organizadas por 230 entidades em 20 estados e o Distrito Federal. O movimento busca promover o debate sobre a necessária reparação para a população negra, vítima de injustiças desde a origem de sua trajetória histórica, com comunidades inteiras sequestradas em sua terra de origem, a África, para serem escravizadas nas Américas. Outro ponto é a difusão e organização da 2ª Marcha Nacional das Mulheres Negras, que será em 2025. A 1ª Marcha ocorreu em 2015, em Brasília.
“O Julho das Pretas é importante porque reforça que nossas vozes devem ser escutadas. E, nesse processo de diálogo de gerações, vamos, cada vez mais, abrindo as portas para que as mulheres negras das gerações futuras continuem o processo iniciado por tantas de nós, na construção de um mundo melhor. Como a gente sempre fala: quando uma mulher negra se movimenta, toda a sociedade se movimenta com ela”, explica a Anaide Silva (Nãna), mulher preta e secretaria de políticas sociais da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito de São Paulo (Fetec-SP).
Ela destaca também a importância do mês de luta no fortalecimento das companheiras pretas, pelo reconhecimento de sua atuação para alcançar espaços de poder. “Quando eu conheci o movimento sindical, não sabia que mulheres negras também poderiam ocupar espaços de poder, porque, para nós, historicamente, sempre foram delegados os lugares mais hostis da sociedade. Mas, graças a essa luta incansável, hoje assistimos mulheres, como tantas de nós, como grande referência na sociedade, como ponta de lança para mudar a realidade da nossa gente”, completa.
Desigualdade é evidente
Como reforça o secretário de Combate ao Racismo da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Almir Aguiar, “essa data remete à luta e resistência internacional da mulher negra contra o racismo e o sexismo, à discriminação de gênero e raça e à falta de oportunidades no mercado de trabalho”. Como pontua Almir, “as estatísticas mostram as desigualdades contra as mulheres negras, como as mais de 40% das mulheres negras que hoje estão subutilizadas no mercado de trabalho”.
Além das profundas distorções no mercado de trabalho, o secretário também aponta problemas arraigados na sociedade brasileira, que afetam a mulher negra em decorrência do racismo estrutural. “É o caso da política de encarceramento em massa, que levou às prisões brasileiras a quarta maior população carcerária feminina do mundo, e 62% delas são negras; e do feminicídio, que atinge muito mais as mulheres negras no país”, ressalta.
Diante desse quadro, Almir adverte que “a sociedade brasileira precisa estar atenta à luta contra a discriminação à mulher”. Para o secretário, “é hora de a sociedade refletir e criar mecanismos para pôr fim nessa desigualdade, que atinge toda população negra, mas é ainda mais incisiva contra as mulheres negras”.
Números da violência
Segundo relatório divulgado recentemente pela Anistia Internacional, com dados de 150 países, no primeiro semestre de 2022, quatro mulheres foram mortas por dia no Brasil, totalizando 699 feminicídios, sendo que as mulheres negras representam 62% do total de vítimas. “Esse cenário, que infelizmente comprova que o Brasil está longe de exterminar o racismo estrutural, reforça a razão do Julho das Pretas, que é dar visibilidade às pautas e políticas públicas necessárias para uma sociedade livre de violência contra todas as mulheres”, destaca a secretária da Mulher da Contraf-CUT, Fernanda Lopes.
No setor bancário, a mulher preta representa somente 1,1% das que estão em cargos de liderança. Além disso, a remuneração média da mulher preta bancária é, em média, 40,6% inferior à remuneração do homem bancário branco. “Essa tamanha desigualdade é outro tipo de violência contra a mulher negra”, complementa Naña.
Origem
Em 2023 está sendo realizada a 11ª edição do Julho das Pretas. Lançado em 2013, pelo Odara – Instituto da Mulher Negra, o período de celebração, conscientização e fortalecimento da luta de combate ao racismo voltado para as causas da mulher tem seu ponto alto no dia 25, o Dia de Tereza de Benguela e da Mulher Negra. Instituída em 2014, por decreto da presidenta Dilma Rousseff, a data coincide com o Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1992.
Tereza de Benguela foi líder do quilombo de Quariterê, violentamente destruído em junho de 1770 (conheça mais sobre ela no Portal Geledés e na reportagem Comemorar o Julho das Pretas é questão de resistência). Acesse a Agenda 2023 do Julho das Pretas para se informar das atividades em todo o Brasil.
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