Na sua avaliação, o avanço da parcela dos juros em detrimento do valor principal emprestado mostra uma piora na qualidade da dívida. Isto é, o brasileiro está se endividando mais, não necessariamente porque está indo às compras, mas por causa dos encargos financeiros cobrados nos empréstimos.
Cheque especial
Outra informação, segundo o economista da LCA, que confirma que o aumento do endividamento do consumidor está sendo impulsionado pelos juros aparece nas estatísticas do BC. As duas únicas linhas de crédito que registraram crescimento na média diária de concessões entre dezembro de 2010 e abril deste ano foram o cheque especial e o cartão de crédito, as linhas de financiamento que têm os juros mais elevados e que normalmente são usadas de forma emergencial, isto é, para pagar outras dívidas.
Entre dezembro de 2010 e abril deste ano, a média diária real de concessões no cheque especial aumentou 6,2% e, no cartão de crédito, o acréscimo foi de 17%. Já no caso do crédito pessoal, houve um recuo de 3,7% nas concessões nesse período, e nos veículos e aquisição de outros bens, a retração foi ainda maior, de 10,6% e de 11%, respectivamente.
Altamiro Carvalho, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio-SP), relata que os consumidores estão fazendo novos financiamentos para quitar dívidas antigas. Tanto é que, no ano até abril, os dados de vendas da Fecomercio-SP mostram que o faturamento cresceu apenas 0,73%, sustentado pelos supermercados – cujas vendas praticamente não são influenciadas pelo crédito e que aumentaram 3,02% no período. Nos demais segmentos, como eletrônicos, móveis e veículos, que são movidos a financiamentos, houve queda.
Risco
O aumento do endividamento, com maior peso dos juros pode levar a uma piora da inadimplência neste ano. "Não vai ser nada explosivo, mas a inadimplência vai mudar de patamar", alerta França, da LCA.
Em 2010, a inadimplência do consumidor encerrou o ano em 5,7% e em abril, último dado do BC, tinha subido para 6,1%. Até dezembro, deve atingir 7,2%, prevê o economista. Ele pondera que o resultado deste ano deve ficar abaixo do de 2009, o ano do rescaldo da crise financeira, quando o calote chegou a 7,7%.
Fonte: O Estado de São Paulo