O leilão do prédio da sede do Banco do Brasil no Rio de Janeiro, conhecido como Sedan, que estava previsto para ocorrer nesta terça (20), segue suspenso. A retirada do imóvel do site de lances ocorreu há cerca de uma semana, logo após o Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro levar denúncias de possíveis irregularidades no processo ao deputado federal eleito Reimont Luiz Otoni (PT-RJ) e à Comissão de Empresa dos Funcionários (CEBB).
“Existem suspeitas de irregularidades em todo o trâmite. Por exemplo, constava do edital, que agora não está mais disponível no site, que a avaliação em valores do imóvel era zero. Outra questão importante é que, para realocar os trabalhadores retirados do Sedan, o BB alugou um imóvel no Condomínio Ventura, que pertence ao BTG Pactual, empresa que foi fundada pelo atual ministro da Economia, Paulo Guedes”, destacou o coordenador da CEBB, João Fukunaga.
Na última quinta-feira (15), a bancada do PT na Câmara dos Deputados apresentou uma nota em repúdio à venda do edifício de 45 andares, um dos mais altos do Rio, e avaliado em R$ 311 milhões. No documento, os parlamentares destacam a necessidade de transparência e lisura no processo, para evitar prejuízos ao patrimônio público e ainda frisam rumores da ligação entre a venda do prédio e a locação de um novo espaço que pertence ao BTG Pactual.
Outro destaque da carta é que o BTG já teria participado de outra operação duvidosa envolvendo o BB, que está sendo investigada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Corregedoria Geral da União (CGU): a compra de uma carteira de crédito do banco público avaliada em R$ 2,9 bilhões por somente R$ 371 milhões.
Haddad: governo eleito deveria ser consultado
Durante coletiva à imprensa, no dia 13 de dezembro, o futuro ministro da Economia, Fernando Haddad, se manifestou contra a venda do prédio da sede do Banco do Brasil no Rio. “Como princípio, eu acho que o governo atual deveria consultar o governo eleito sobre qualquer decisão, sobretudo decisões importantes, não as ordinárias, como a manutenção da máquina funcionando, mas estas questões mais cruciais, como licitações, venda de patrimônio, tudo isto poderia ser objeto de uma discussão”, disse.
Haddad também mostrou preocupação pela forma acelerada em que o processo de leilão estava ocorrendo e pontuou que, num regime democrático esse tipo de transação deveria ocorrer sem pressa. “É o que eu faria. Acho que o governo tem que consultar, este é o procedimento democrático e aquilo que tiver acordo, toca. Acho errado não seguir este protocolo”, pontuou.
Entenda
As notícias sobre a venda do Sedan começaram em 2020, quando o banco público alegou que a medida fazia parte de um programa de modernização e corte de custos. Apesar disso, somente no dia 28 de novembro deste ano, portanto logo após o resultado das urnas em que Bolsonaro saiu derrotado, o edital sobre o prédio foi divulgado no site de leilão.
Durante o processo para preparar o Sedan à venda, o BB alugou um imóvel no Condomínio Ventura Corporate, onde passariam a funcionar as dependências do Sedan e da BB Asset Manegement.
Ainda em 2020, a deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) solicitou explicações para Guedes, “acerca da venda da sede do Banco do Brasil” e também sobre “posterior locação, supostamente antieconômica de outro espaço”, pertencente ao BTG Pactual.
As respostas enviadas de volta à Câmara, pelo ministro e também pela administração do BB, se resumiram a defender as transações como sendo medidas para manter a “competitividade em condições de igualdade” do BB no mercado. Mas, ambas às respostas, “não trouxeram subsídios técnicos e econômicos”, destacou a diretora do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro, Rita Mota, que também integra a CEBB.