O ex-Ministro Antônio Delfim Netto sempre foi um sábio cético, conhecedor profundo dos meandros da economia e da cabeça de políticos, empresários e economistas.

Na presidência do Conselho de Economia da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), convidou diversos "cabeças de planilha" para integrar o órgão e abriu amplo espaço para suas apresentações. A intenção era uma discussão aberta que permitisse diluir os chavões do pensamento de merado.

Nas últimas semanas, parece ter caído a ficha do velho mago. Não existe a chamada teoria econômica científica, neutra. Primeiro, definem-se os interesses de grupos. Depois, adota-se a teoria que melhor atendam a esses interesses.

É o caso agora da pressão pelo aumento de juros.

Há dois enormes desafios pela frente, frutos da conjuntura internacional e da interna.

Internacionalmente, um enorme aumento da liquidez internacional – consequência da decisão norte-americana de inundar o mercado de dólares, que provocou dois movimentos simultâneos. De um lado, um choque de preços das principais commodities internacionais, com reflexos sobre a inflação mundial – e a brasileira. De outro, uma invasão de dólares especulativos, provocando apreciação perigosa do real.

Quanto mais aumenta o diferencial de juros, maior a valorização do real, com todas as consequências conhecidas: destruição gradativa do parque industrial brasileiro, aumento do rombo nas contas externas, necessidade de ampliação dos custos financeiros de carregamento de reservas cambiais etc.

O aumento de juros tem uma função única: reduzir a demanda interna.

Há outras maneiras de se atuar sobre a demanda, redução de prazos de financiamento, cobrança de IOF sobre crédito, aumento no compulsório, enfim um conjunto de medidas – denominadas de "prudenciais"- que reduzem a atividade econômica, sem pressionar o câmbio.

Há um porém. Quando aumentam os juros, há ganhadores – os investidores em renda fixa e, mais que isso, o capital externo que ganha com juros e com a apreciação cambial. É isso o que define o tom das críticas

Há sinais claros de queda da atividade econômica.

Os principais focos de alta de preços até agora – alimentos – deverão entrar em franca desaceleração com a nova safra. No momento, os índices anualizados de inflação devem-se exclusivamente a efeitos sazonais.

Por exemplo, os preços agrícolas no IPA (Índice de Preços no Atacado) subiram 18,7% apenas entre agosto e novembro do ano passado. De janeiro a abril, vieram se somar mais 7,3%.

À medida que da contagem do acumulado de 12 meses os meses do segundo semestre do ano passado forem sendo substituídos por índices menores nos mesmos meses de 2011, cairá o IPA agrícola e o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Ampliado).

Se a inflação média de alimentos no atacado se fixar em 0,18% de maio em diante, a inflação anual de alimentos cairá dos 28,24% do ano passado para 8,83% este ano.

É uma questão de meses para começar a haver a redução da inflação acumulada do IPCA. Mas, enquanto não vem, há o jogo pesado para aumentar os juros.

Fonte: Luis Nassif Online