Ainda tem que se caminhar muito em direção à criação de uma taxa de juros de países civilizados. A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária), de reduzir a Selic em 1 ponto, traz a taxa para a faixa de um dígito pela primeira vez na história.

Mesmo assim, continua uma taxa extremamente elevada, ainda mais em função das demais taxas internacionais. Continua permitindo as arbitragens em cima do real. Além disso, na ponta o dinheiro continua extremamente caro.

***

Tem que se avançar urgentemente em duas linhas:

1. Pacto com o mercado, de reduzir a tributação sobre as operações financeiras e exigir a ferro e fogo a redução do spread. Inclusive com o uso intensivo do Código de Defesa do Consumidor e das leis de direito econômico.

Como se sabe, o mercado financeiro passou a ser regido pelo Código de Defesa do Consumidor. Pode ser enquadrado pela prática de taxas abusivas, por exemplo, como maneira de contornar a absoluta inação do Banco Central. Também está sujeito ao CADE (Conselho Administrativo de Direito Econômico), caso se comprove que as taxas praticadas são previamente acertadas.

Não se deve recorrer a práticas drásticas, mas utilizar para um pacto de redução de taxas com o setor, cada qual dando sua contribuição.

2. Estabelecer taxações para a livre entrada de capitais.

Hoje em dia há uma dinheirama de brasileiros entrando e saindo do país, não ajudando a consolidar um nível estável de poupança. Esse dinheiro era da mesma natureza dos capitais voláteis do início dos anos 30.

Agora, tem-se um combate gradativo aos paraísos fiscais, escassas possibilidades de investimento em outras economias. E parte desse capital começa a ser despejado na economia real. É o momento de aumentar o custo dessa volatilidade e induzir a vinda de mais capital para a economia real.

Há um chavão reiterado contra essa medida, de que atropelaria direitos adquiridos. Conversa. A proposta é para novas entradas de capitais, não para aqueles que já estão por aqui.

***

Quem leu meu "Os Cabeças de Planilha" sabe que, na análise comparativa do então ciclo especulativo, com o que ocorreu nos anos 20 e 30 no país, previ os seguintes pontos:

* Fim do ciclo especulativo internacional, pela ampla disfuncionalidade dos mercados.

* Ampliação do combate dos estados nacionais ao crime organizado, o que resultaria em cerco cada vez maior aos paraísos fiscais.

* Esses capitais brasileiros internacionalizados regressando ao país, indo irrigar a economia real.

Ainda não chegamos, mas estamos perto do início do terceiro ciclo.

***

Entrando no terceiro ciclo, o jogo se inverte. O mercado financeiro já possui know-how e tradição de precificação (análise de preço) de empresas, de fusões, aquisições, alguma experiência em empresas emergentes.

Em um primeiro momento, esse potencial está sendo canalizado para a compra de empresas em dificuldades, descapitalizadas mas com bom potencial. Em um segundo momento, será para grandes investimentos em infraestrutura, em novas empresas de setores que estão sendo impulsionados pelas mudanças tecnológicas.

Fonte: Luis Nassif Online