O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem ter ficado "indignado" com as 4.200 demissões anunciadas pela Embraer e anunciou que vai convocar o presidente da empresa para uma reunião, em Brasília, o mais rápido possível, para pedir explicações. O relato sobre a reação do presidente foi feito aos jornalistas pelo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique, que esteve ontem à noite com Lula no Palácio do Planalto.

Segundo Artur Henrique, a indignação de Lula é enorme porque a Embraer, nos últimos anos, foi "amplamente capitalizada" com recursos do BNDES. "É um absurdo que uma empresa que recebeu recursos do BNDES, ao longo dos últimos anos, ao primeiro sinal de problemas promova este enorme corte, sem uma única conversa com ninguém do governo, sem nos procurar. Isso é um absurdo", desabafou Lula, conforme relato do presidente da CUT. "Eles preferiram o fato consumado. Eles não poderiam tem feito isso sem falar antes com a gente."

Os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e da Comunicação Social, Franklin Martins, também participaram da reunião. José Lopez Feijoó, da Executiva da CUT, que também esteve no encontro no Planalto, contou que a Embraer havia marcado para ontem uma reunião com o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Marcaram e não apareceram."

De acordo com os sindicalistas, na conversa com a direção da empresa Lula quer analisar a situação. "A conversa será dura", afirmou Feijoó, dizendo não saber se a convocação dos dirigentes da Embraer pelo presidente pode levar a empresa a voltar atrás nas demissões.

Ontem, em São José dos Campos, onde estão concentradas praticamente todas as demissões, cada funcionário dispensado recebeu uma carta informando a demissão. O aviso foi feito entre 15 horas e 16 horas e provocou choradeira. Cada um que recebia a carta ficava perplexo, sem entender o que estava passando. Alguns choravam, outros passavam mal. "Fui surpreendido com essa demissão, não esperava que isso fosse acontecer", disse o funileiro Silvano Batista.

Nos murais da empresa, uma carta do presidente Frederico Curado, tentava dar uma explicação: "Estamos diante de uma redução significativa nas cadências de produção de todos os produtos da empresa, apesar de todos os esforços com os clientes". De acordo com a Embraer, as demissões se concentraram "na mão de obra operacional, administrativa e lideranças, com a eliminação de um nível hierárquico", e não afetam a "expressiva maioria da mão de obra de engenheiros"

Rumores de que a empresa demitiria 4 mil funcionários circulam desde dezembro, mas vinham sendo negados. Na quarta-feira, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, Adilson dos Santos, enviou uma carta ao presidente da Embraer, solicitando uma reunião para discutir alternativas. Ontem, Santos reclamava do fato de não ter sido sequer comunicado oficialmente das demissões.

O prefeito de São José dos Campo, Eduardo Cury (PSDB), pretende anunciar hoje um plano de apoio aos demitidos da Embraer.

Fonte: O Estado de São Paulo / Tânia Monteiro e Simone Menocchi