Ricardo Stuckert / Instituto Lula
Os números da pesquisa Datafolha de setembro mostram que a curva do ex-presidente Lula continua a crescer. Bate, agora, em 35%. Ela cresce ininterruptamente desde a pesquisa do instituto de novembro de 2015. O tempo passou, Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro, tornou-se réu em sete processos e foi delatado por um homem de confiança, o ex-ministro Antonio Palocci.
Em abril deste ano, em projeção do segundo turno, a ex-ministra Marina Silva, intocada pela Lava Jato, batia Lula por 41% a 38%. Agora, Lula vence fora da margem de erro de 2 pontos percentuais: 44% a 36%.
Lula virou sobre Marina Silva! Como explicar este fenômeno?
Em primeiro lugar, a desesperança. De acordo com a série histórica da pesquisa CNI/Ibope, divulgada no dia 27, o número daqueles que consideram o governo Temer ruim ou péssimo saltou de 55% para 70%.
Outros dados:
Para 65% dos entrevistados, o restante do governo será ruim ou péssimo, para 22% será regular e para 9% será ótimo ou bom. Para 52% dos entrevistados, o governo Temer está sendo pior que o governo da presidente Dilma Rousseff. Em março, esse índice era de 41%. Já 11% acham que o governo Temer está sendo melhor e 35% consideram igual ao governo Dilma.
Acrescentem a isso o fato de que a mídia propagou uma recuperação econômica inexistente, ou pelo menos tão tênue que não mudou em nada a vida do grosso da população.
Marcos Coimbra, na edição desta semana de CartaCapital, põe o dedo na ferida:
“O retrato do Brasil que emerge das pesquisas quantitativas é ruim. Mas o que vem das pesquisas qualitativas é pior. Pelo que vemos através delas, a alma brasileira nunca esteve em momento mais negativo”, escreve Coimbra, afirmando em seguida que isso é mais agudo entre os mais pobres.
Sobre Lula: “De Sul a Norte, as pessoas do povo são unânimes ao dizer que ‘as coisas estavam melhor quando Lula era presidente’. Simpatizantes ou não do ex-presidente e do PT, todos concordam que havia emprego, o País crescia, existiam muitos e bons programas sociais. Comparado com os dias atuais, era outro Brasil”.
Segue Coimbra: “A narrativa que recebem da mídia corporativa, dos políticos conservadores e, muito especialmente, dos juizes e promotores de direita, de que ‘tudo era ilusão’, não as convence. Para elas, muito mais ilusória é a história que ouvem agora”.
O que nos leva ao segundo ponto importante sobre os números mais recentes: na pesquisa de abril, o juiz Sergio Moro batia Lula num projetado segundo turno por 42% a 40%.
Agora, Lula tem 44% e Moro 42%.
O que significa que, no campo político, que é onde o juiz Moro escolheu fazer a disputa — ele mesmo escreveu um artigo elogioso sobre as Mãos Limpas da Itália, dizendo que era importante ‘trabalhar’ a opinião pública –, Lula está se saindo melhor que o magistrado.
Moro, por assim dizer, bateu no teto.
Mas, como assim, se o ex-presidente agora é reu em número maior de ações e é vítima de uma incrível barragem de manchetes, marteladas dia e noite?
Nossa opinião:
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- A Lava Jato não produz empregos. Pelo contrário, é vulnerável à acusação de que está destruindo empregos;
- Falta o cofre escondido, a mansão luxuosa, os iates, as gravações de Lula prometendo matar alguém. O massacre midiático é tamanho que o eleitor acaba se perguntando: se o Lula roubou tanto quanto dizem, cadê as malas de dinheiro? As contas na Suiça? O ex-presidente acaba beneficiado pela alta octanagem da ladroagem alheia.
Finalmente, os barões da mídia acreditam tanto em seu próprio poder que estão certos de que venderam à opinião pública a ideia de que as ‘reformas’ de Temer são a única saída, independentemente do futuro dele ou do resultado das eleições de 2018.
Não contam, de novo, com a memória coletiva: Collor não foi aquele que vendeu tudo dizendo que ia botar dinheiro na saúde e na educação? Fernando Henrique não fez a mesma coisa? Mas, sendo assim, a saúde e a educação não deveriam ter melhorado? E agora vem outro ladrão propondo a mesma coisa de vender tudo, cortando inclusive na saúde e educação — só que desta vez um ladrão formalmente acusado duas de vezes de chefiar uma quadrilha?
Um indício: o Planalto encomendou uma pesquisa sobre a privatização da Eletrobras. Resultado: ela é rejeitada por 52% dos entrevistados e aprovada por 37%, mesmo depois de uma cobertura altamente favorável à privataria.
Sintonizado, o ex-presidente Lula já em sua caravana pelo Nordeste prometeu um plebiscito para “rever” as medidas de Temer.
Mantidas as coisas no rumo que estão, a curva de Lula tem tudo para continuar ascendente, até bater no teto da rejeição absoluta. No Datafolha de abril, estava em 46%. Agora, está em 42%.
A rejeição a Bolsonaro passou de 30% a 33% e a de João Doria, que se esforça para se tornar conhecido nacionalmente, saltou de 20% para 25%.
Dentre os entrevistados que apoiam Lula, 26% dizem que votam em quem ele indicar.