Segundo o Censo Escolar, em 2020, 81% das 2,2 milhões de pessoas que exercem a profissão na educação básica são professoras

A formação da sociedade brasileira tem a educação como um fator fundamental e as escolas são um espaço privilegiado de luta contra o machismo e a misoginia. Mas para que isso aconteça é preciso valorizar as educadoras e educadores e oferecer condições dignas de trabalho, ação que inclui formação, bons salários e liberdade a quem está à frente da sala de aula.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) levará às ruas como uma das bandeiras em defesa de um país mais justo e igualitário a efetiva implementação da Lei Nacional do Piso, uma conquista ainda em disputa no Brasil e que afeta majoritariamente as trabalhadoras.

Segundo o Censo Escolar, em 2020, 81% das 2,2 milhões de pessoas que exercem a profissão na educação básica são professoras. Porém, o levantamento aponta que os homens recebem 12% a mais do que as mulheres.

Isso ocorre porque, conforme os níveis escolares avançam, a presença feminina cai: são 96% dos professores da educação infantil, 88% no ensino fundamental I, 67% no fundamental II e 58% no ensino médio.

Para reverter esse processo, a CNTE defenderá nas mobilizações em todo o país a implementação do ajuste do Piso em toda a carreira (incluindo Professores/as e Funcionários/as da Educação) como forma de ampliar o investimento, equilibrar as condições para as educadoras e educadores e combater a desigualdade.

Além da medida, a confederação aponta outras bandeiras que se somarão às pautas de combate ao machismo em todo o país, conforme destaca a Secretária de Relações de Gênero da entidade, Berenice Jacinto.

“As centrais sindicas e os movimentos populares e feministas estão se organizando para uma luta conjunta e o piso na carreira é uma das bandeiras, ao lado de outras questões fundamentais como o fim das escolas militarizadas, que são uma afronta à democracia e à pluralidade da educação. Sabemos que as mulheres são as mais afetadas quando a liberdade está ausente, porque só nos ambientes democráticos conseguimos lutar e avançar em direitos iguais”, avalia.

Pluralidade para igualdade

A dirigente aponta ainda os prejuízos que dois retrocessos recentes ligados à onda conservadora que tomou o país trazem para elas. O primeiro deles é a reforma do ensino médio. Implementado durante o governo do golpista Michel Temer (MDB), o projeto apresenta como proposta aulas complementares que não incentivam a autonomia e o empoderamento feminino ao ignorarem noções de desenvolvimento coletivo e da consciência de classe, fundamentais para reverter a lógica machista.

“A fragmentação dos complementos curriculares do ensino médio tirou a qualidade do ensino e adotou uma perspectiva de baixa qualidade de formação para o mercado de trabalho. Como base da pirâmide social, as mulheres perdem duas vezes, porque as disciplinas básicas caem em qualidade e prejudicam nossa formação e nossa ascensão, e porque as aulas que se propõem a ser de formação técnica ficam restritas a um modelo de trabalho baseado na lógica privatizante e tecnicista que não nos favorece”, explica.

Berenice destaca também projetos como o Escola Sem Partido, que vive uma perspectiva de retomada mesmo após a derrota no campo jurídico, e busca estrangular qualquer discussão sobre igualdade de gênero no país.

O antídoto a essas investidas, define, é aprimorar o processo de formação em espaços como as organizações sindicais para que um olhar plural se faça presente também nas escolas.

Para isso, a CNTE apresenta ferramentas como a recém-lançada revista Mátria que visa contribuir com o debate sobre o empoderamento feminino e mostrar bons exemplos e caminhos para a divisão de poderes. “A Mátria tem um papel muito importante de trazer o olhar das trabalhadoras da educação para o modelo que queremos, com a valorização das dirigentes sindicais e das lideranças que vemos ocupar espaços. Nossa publicação pretende ser um instrumento valioso no processo de formação das nossas companheiras e companheiros”, reforça a secretária da CNTE.

Fonte: CUT / CNTE