Lutar pela volta do pagamento da substituição de função e pela volta do caixa executivo efetivo nomeado nas agências são 2 batalhas importantes para vencer a guerra contra as piores condições de trabalho no Banco do Brasil das últimas décadas.
E por que essas duas lutas são importantes?
A substituição de função e o caixa executivo fazem parte de uma estrutura funcional, uma lógica de carreira, que os tecnocratas do banco sempre combateram e tentaram estinguir. Nunca tiveram êxito porque focavam muito mais nos caixas, mas erravam em suas estratégias e tinham que voltar atrás
Vejamos alguns porquês e pensemos na importância de focar nesses dois pontos em uma campanha específica no BB neste 1º semestre.
Em vários momentos na última década o banco perseguiu, difamou, humilhou e tentou extinguir os caixas executivos. A função de bancário caixa vai contra a lógica de precarização da mão de obra bancária.
O BB passou a copiar a banca privada ainda na década de 90, quando tentou centralizar os serviços dos envelopes de autoatendimento e os malotes de clientes preferenciais e teve que voltar atrás porque a tentativa foi um fiasco.
Lógica da reestruturação bancária
A lógica das reestruturações bancárias contêm alguns pressupostos: terceirização dos processamentos; fim da jornada bancária de 6 horas; mudança da função ontológica do trabalho bancário (fazer banking, core business) e mudança na remuneração: redução de salários fixos, modelo tradicional de compra da força de trabalho (por jornada e função) e aumento da remuneração variável centrada na "partilha" de resultados calcados em metas impossíveis (expectativa incerta de renda/venda sem jornada alguma).
O Banco do Brasil fez 3 movimentos fundamentais nos últimos anos para entrar nesta lógica do mercado bancário privado:
1. terceirizou os envelopes de autoatendimento (as terceirizadas pagam cerca de R$ 500 por jornadas enormes e sem os demais direitos);
2. está tirando os caixas executivos das dotações das agências para as plataformas Uso (caixa volante) e tudo indica que o faz para futura terceirização; e
3. deixou de pagar a substituição de função (lateralidade) gastando parte da economia gerada na criação de milhares de vagas de escriturários com jornada de 8h (9h, 10h…) – vulgos "assistentes de negócios". É ou não é isso?
A luta por melhores condições de trabalho passa por reverter esta lógica privada que não é a melhor forma de um banco atuar, principalmente um público, para atingir os objetivos esperados. Como também não é a forma de atender aqueles objetivos tirados pelos burocratas gestores e anunciados em todos os locais onde o banco está presente.
Missão do Banco do Brasil: falsas promessas…
"Ser a solução em serviços e intermediação financeira, atender às expectativas de clientes e acionistas, fortalecer o compromisso entre os funcionários e a Empresa e contribuir para o desenvolvimento do País."
Como está hoje, reestruturado desde 2007 para não atender ao povo brasileiro e com um quadro funcional adoecido, mal remunerado e assediado, o BB não está sendo solução em intermediação financeira, faz o inverso de fortalecer o compromisso entre os funcionários e a empresa e tem contribuído muito aquém do possível para ajudar o Brasil a sair da crise.
A Terceirização do processamento de envelopes é ilegal, pois o serviço é tipificado como trabalho bancário. As empresas prestadoras de serviços bancários – terceirizadas – estão com trabalho semiescravo onde os trabalhadores ganham menos que a comissão de caixa do BB (R$ 531) para jornadas de até 12 horas ininterruptas.
Alguns colegas dentro do BB dão "Graças a Deus" pelo banco ter terceirizado parte do serviço deles mesmos. Os funcionários do BB não fazem por mal. Como estão inseridos em um processo massacrante de sobrecarga e más condições de trabalho, por falta de funcionário e assédio moral, falta-lhes a percepção do todo. Fica mais fácil vincular causa e efeito depois que vão parar em Plataformas da Uso. Percebe-se mais claramente o objetivo do BB e por que está acabando a única função de 6 horas que paga cerca de R$ 2 mil ao bancário.
O não-pagamento da substituição (lateralidade) também é ilegal porque é desvio de função e na maioria dos casos essas funções também são de 6 horas e não de 8h (9h, 10h…). O que o BB está fazendo é copiar de forma equivocada o que ele pensa que seria o mercado bancário concorrente. Mas até nisso o BB tem sido incompetente. Os concorrentes privados como Bradesco, Itaú-Unibanco e Santander-Real atuam enquanto Holding, ou seja, as empresas e seus produtos financeiros vendidos nas agências são do mesmo dono.
O BB desvia seus funcionários de sua principal função bancária para a venda de produtos financeiros dos outros. Deveria focar em atender bem os clientes e usuários (prospecção de novos clientes) e fazer banking, ajudando os clientes com funcionários bem treinados e remunerados para propor soluções e crédito para indústria, comércio, agricultura, novos empreendedores, DRS etc. Ao invés de ser líder por atuar como banco balizador do mercado em menores taxas de juros, spreads e tarifas, e maiores prazos, o BB insiste em atuar como lojinha de produtos financeiros de capitalização, previdência e seguros.
A idéia do BB é muito clara em sua proposta de estrutura e cabe aos funcionários, força social da empresa, e também à população, opinar se aceitam a forma privada de atuar imposta pela diretoria sem diálogo ou se devem propor alterações daqui adiante, com mobilização e pressão.
Se fizermos uma forte campanha exigindo a manutenção dos caixas executivos nas agências com dotação adequada à demanda para processar todo o trabalho local, o que inclui os serviços de bancários dos terminais e exigirmos que toda substituição seja paga corretamente, estaremos dialogando com a empresa e com a sociedade, e dizendo que não concordamos com a lógica atual do BB e da banca privada que expulsa os cidadãos das agências bancárias e só atuam para espoliar a população brasileira.
Os funcionários do Banco do Brasil devem lutar junto com os seus sindicatos e buscar soluções coletivas, pois são ilusórias supostas melhorias individuais, como promessas de promoções hoje que podem significar pesadelos amanhã (como está ocorrendo com muitos comissionados que querem sair das agências e serem escriturários em departamentos pelas más condições de trabalho e assédio moral – que também existem fora da rede).
Os funcionários do Banco do Brasil lutarão por um banco que valorize o Trabalho, em todos os sentidos, ou seja, valorizar tanto os bancários que prestam serviço à sociedade quanto valorizar o crédito produtivo, que gera renda e crescimento com distribuição de renda no País. É para isso que queremos um banco público, queremos um BANCO PARA O BRASIL.
Artigo de William Mendes, secretário de Imprensa da Contraf/CUT e funcionários do Banco do Brasil.