"As pessoas dizem que nós somos a prova de que as políticas da Espanha estão funcionando", disse Rodrigo Rato numa miniturnê de investidores em Londres na semana passada. O ex-ministro da Economia da Espanha, ex-diretor-presidente do FMI e atualmente presidente-executivo do conselho de administração da Bankia, a maior "caja" – banco de poupança – da Espanha estava na cidade para convencer os administradores de fundos a participar da Oferta Pública Inicial (IPO, pelas iniciais em inglês) da instituição em julho.

Mas o comentário de Rato envolve um pressuposto chave – o de que o IPO será bem-sucedido. Só assim a Bankia será prova de que as políticas da Espanha estão funcionando. Se ela fracassar ou for um fiasco, ou, ainda, se for cancelada antes de sua pretendida data de lançamento, em meados de julho, se tornará, pelo contrário, a imagem perfeita das deficiências do maciço esforço de reestruturação empreendido pela Espanha.

O governo socialista da Espanha lançou uma série de reformas econômicas para reconquistar a confiança dos mercados mundiais. Mas críticos dizem que as medidas não vão suficientemente longe.

"Há três grandes coisas erradas na Espanha – o mercado de trabalho, o sistema de pensões e aposentadorias e as "cajas"", diz um alto executivo de um banco espanhol. "Mas o verdadeiro marco na reestruturação das "cajas" é o IPO da Bankia. Se ela for bem, 70% dos problemas do setor estarão resolvidos. Se ela fracassar, a solução levará muito mais tempo."

Com tanta coisa vinculada à iniciativa, não é de surpreender que haja nervosismo. A imprensa espanhola estava cheia de notícias, neste fim de semana, de que a Bankia estaria prestes a retirar seu plano de IPO. Um retardamento, pelo menos, em termos de dia, parece mais provável.

Um dos investidores que vinha recebendo "dezenas" de telefonemas sobre a oferta de ações da Bankia de seus assessores em setor bancário diz estar relutante em investir devido à dificuldade de avaliar os ativos da "caja" fundidos.

Parte da polêmica em torno da avaliação da Bankia se centrou no preço das ações em relação ao valor contábil da "caja", uma medida que, segundo esse investidor, é "irrelevante".

"É quase inexpressiva, quando se tem uma demonstração de resultados de ? 250 bilhões", diz ele. "Fixar o preço do IPO num múltiplo de 0,5 [do valor contábil] ou de 0,4 não significa nada. Se os ativos caírem mais 5% ou 10%, seu capital vai virar pó."

As agruras dos bancos de poupança da Espanha preocupam cada vez mais os grandes bancos do país com ações negociadas em bolsa, que, apesar de sua presença internacional, que os protege contra novas deteriorações no nível doméstico, são obrigados a pagar muito mais para tomar empréstimos do que seus congêneres da zona do euro com a mesma classificação de risco.

O Banco Santander, o mais valioso banco espanhol por capitalização de mercado, causou grande nervosismo no mercado na semana passada, ao não conseguir vender mais de metade de uma oferta de 1 bilhão de euros em bônus cobertos, garantidos por empréstimos aos governos regionais da Espanha, o que fez com que os organizadores da venda ficassem com o restante da emissão encalhada.

Fonte: Financial Times / Patrick Jenkins e Miles Johnson

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