O conselho de administração do HSBC continua inflexível em sua posição de que Michael Geoghegan, que ocupa o cargo de executivo-chefe há quatro anos, está sendo mal pago "por uma ampla margem". Muitos dos principais investidores do banco pensam o contrário.
Depois de perder a primeira batalha com os acionistas – que forçaram o HSBC a recuar nos planos de aumentar o salário de Geoghegan em até 36% -, Stephen Green, o presidente do conselho de administração do banco, está se preparando para o segundo "round" da luta. Uma agenda de novas reuniões com os acionistas está sendo elaborada.
Mas no começo da semana passada, ao anunciar os resultados anuais do banco, Green disse que os diretores não-executivos concordaram "por unanimidade" que o salário de Geoghegan precisa ser alinhado aos de seus colegas globalizados dentro dos próximos 12 meses. "Não há uma equipe de administração melhor no setor. Nosso compromisso é fazer justiça", disse ele.
Comenta-se nos bastidores que os executivos da cúpula do HSBC ficaram irritados com a rejeição do plano de aumento de salário pelos acionistas.
O HSBC disse aos investidores que pretendia mudar a remuneração variável para os pagamentos fixos, uma medida que elevaria o salário de Geoghegan para quase 1,5 milhão de libras e o de Douglas Flint, diretor financeiro, de 700 mil libras para cerca de 900 mil libras. Mas o banco foi forçado a recuar depois de consultar investidores.
Geoghegan recusou um aumento de salário – relutantemente, segundo fontes do banco -, enquanto Flint acabou recebendo um aumento de 100 mil libras.
Entretanto, Geoghegan vai se beneficiar de uma série de incentivos generosos relacionados à sua mudança recente para Hong Kong, incluindo aí um ajuda de custo anual de 300 mil libras, além do pagamento de despesas de moradia, seguro e trabalho de contabilidade, que poderão representar outras 500 mil libras por ano.
Seu salário também foi fixado no que agora parece ser uma taxa de câmbio favorável – os US$ 13,5 milhões de Hong Kong agora representam 1,15 milhão de libras – e os impostos menores cobrados em Hong Kong poderão elevar seu salário-base em 340 mil libras, segundo um contador.
Green observou que o banco possui 300 mil funcionários em 88 países. "Temos que pensar internacionalmente e nossa política de remuneração não é diferente."
O banco compara o salário de Geoghegan ao de executivos como John Stumpf do Wells Fargo, James Dimon do J.P. Morgan e Alfredo Sáenz do Santander, que ganharam, cada um, mais de US$ 10 milhões no ano passado.
No ano passado, o salário de Geoghegan foi menor que o de Stephen Hester do Royal Bank of Scotland, que recebeu 1,2 milhão de libras, e o de John Varley do Barclays, que recebeu 1,075 milhão de libras. O banco diz que ele também deveria ser recompensado por ter assumido mais responsabilidades este ano.
Os investidores rebatem o argumento do HSBC de que não precisou ser socorrido com dinheiro dos contribuintes britânicos, alegando que ele se beneficiou dos esforços do governo para melhorar a liquidez e que o banco levantou 12,5 bilhões de libras por meio de subscrição de ações um ano atrás.
Os acionistas também questionam o momento em que o HSBC se esforça para aumentar o salário, em razão do ultraje público em relação à remuneração dos banqueiros e a pressão política para que os acionistas sejam duros com os pacotes de remuneração exagerada.
No cerne da questão, segundo um consultor, está o sentimento entre os executivos do HSBC de que eles não conseguiram grandes pagamentos dos esquemas de incentivo porque o desempenho do banco não atingiu as metas estabelecidas.
Esta não é a primeira vez que o HSBC entra em choque com os investidores por causa da remuneração do conselho. Dois anos atrás, uma briga estourou quando o banco tentou aumentar a remuneração variável e introduzir os planos de incentivos que poderiam aumentar os salários em até sete vezes.
Essas brigas foram também manifestações de preocupações mais profundas com a estratégia do conselho, sua força, o equilíbrio entre os diretores não-executivos e os executivos, e o desempenho de longo prazo da instituição.
Fonte: Financial Times / Kate Burgess e Sharlene Goff