Sem concorrência, os bancos cobram o quanto querem. Quem precisa de crédito paga cada vez mais caro Um estudo mostra que o número de instituições bancárias caiu nos últimos anos. Ao todo, 505 municípios não têm agência bancária. A ausência é percebida também nas periferias de grandes cidades. Quem precisa de um serviço bancário tem de pegar a estrada.

Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que o sistema bancário brasileiro tem de mudar para incluir as populações mais pobres e que precisam ter acesso a empréstimos.

Está tudo certo para o analista de sistemas André Tofanello fechar negócio: trocar o apartamento por um maior, melhor e mais caro. Mas isso depois de ele percorrer vários bancos tentando provar que tem como pagar a dívida.

"Temos uma dificuldade imensa para obter o financiamento. Quando obtém o financiamento, os juros acabam comendo o salário da gente", comentou o analista de sistemas.

Com pouco crédito no mercado, os bancos determinam quanto querem cobrar pelos empréstimos. O consumidor vira refém. No Brasil, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os juros são quase dez vezes mais altos do que os cobrados no exterior. No ano passado, a taxa média no Brasil era de 60,4% ao ano. Nos países onde a moeda é o euro, a taxa é de 6,38%.

"Não tem jeito de fugir desse disparate de juros que nós temos hoje no Brasil quando se trata de um financiamento", disse o analista de sistemas André Tofanello.

No Brasil, filiais de bancos estrangeiros têm taxas muito maiores do que aquelas que são cobradas nos países de origem. Ainda de acordo com o estudo, trata-se de um reflexo da falta de concorrência. O número de instituições financeiras no país caiu mais de 30% nos últimos 11 anos.

Hoje, 505 municípios brasileiros – ou seja, quase 10% do total – não têm sequer uma agência bancária. A pesquisa aponta que os bancos se concentram principalmente no Sul e no Sudeste, as regiões mais ricas, onde o risco de inadimplência é menor.

Bom para os bancos, ruim para a economia brasileira neste cenário de crise, de acordo com o professor de economia da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli. O dinheiro não circula, e o crédito não chega às mãos de quem mais precisa.

"Se não baratearmos o crédito para estimular a retomada do desenvolvimento econômico, nós vamos levar muito mais tempo seguramente. Vamos ter muito mais dificuldade para recuperação", afirmou o professor Roberto Piscitelli.

Baratear o crédito é o desafio do governo. Algumas medidas estão sendo preparadas para driblar a crise e diminuir o custo do dinheiro emprestado. Uma delas é um cadastro positivo, que estaria à disposição de bancos e instituições com o histórico de bons pagadores.

Fonte: G1

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