As medidas para conter o crédito adotadas pelo Banco Central (BC) no fim do ano passado contribuíram para que a taxa de juros média dos financiamentos para pessoas físicas dessem um salto em janeiro e reduzissem a média das concessões de novos empréstimos nesse segmento.

Em fevereiro, com base em dados parciais, o custo do crédito para as famílias teve pequeno recuo, mas segue bem acima do vigente no ano passado e ainda no maior nível desde outubro de 2009. A média de novos créditos, contudo, retomou a trajetória de crescimento neste mês.

Segundo dados divulgados ontem pelo BC, a taxa de juros média para pessoa física subiu em janeiro para 43,8% ao ano, bem acima dos 40,6% anuais de dezembro. Em fevereiro, até o último dia 11, houve ajuste para baixo em 0,3 ponto porcentual na taxa média para as famílias, mas mesmo assim o juro segue em um patamar significativamente mais alto em comparação com o último ano.

No lado das concessões, a média diária dos empréstimos às famílias caiu 0,7%. Um dos alvos das medidas adotadas pelo BC em dezembro do ano passado, os novos empréstimos para veículos despencaram 27,2% e os para bens de consumo duráveis, 26,8%. O crédito pessoal recuou 1,7% na média de concessão.

Na parcial de fevereiro, contudo, a média diária de novos créditos para pessoa física subiu 3,6%, em comparação com os nove primeiros dias úteis de janeiro. O estoque de crédito livre para pessoa física subiu 2,7% até 11 de fevereiro, em relação ao nono dia útil de fevereiro.

Apesar de os indicadores de concessão e volume em fevereiro mostrarem recuperação da oferta de crédito, o chefe-adjunto do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, destacou que a base de comparação (janeiro) é bastante deprimida. Ele também disse que o indicador de concessões tem muita volatilidade e é preciso esperar o fim de fevereiro para se ter ideia mais clara do desempenho do mercado de crédito no mês.

Tendência

Maciel reconheceu que o segmento de veículos tradicionalmente tem desempenho ruim em janeiro, mas disse que o impacto das medidas do BC amplificou a tendência de queda nessa modalidade. O técnico afirmou que, apesar de a sazonalidade afetar negativamente as concessões às pessoas físicas em janeiro, seria "ilógico" acreditar que as ações adotadas não tiveram efeito.

Ele ressaltou que as medidas adotadas em dezembro promoveram uma "mudança permanente" nas condições de crédito à pessoa física, com um novo nível de juros. Maciel destacou que alguns efeitos das iniciativas, como a elevação do prazo médio do crédito, ainda serão capturados ao longo do tempo pelas estatísticas. Em janeiro já se observou uma redução discreta no prazo das operações de crédito para pessoa física.

A economista-chefe da consultoria Rosenberg, Thaís Zara, avaliou que os números do Banco Central mostram que realmente as medidas adotadas surtiram efeito, mas ela considera que o crédito ainda está em um nível acima do desejável, quando se olha a necessidade de esfriar a economia e combater a inflação.

 
Fonte:  O Estado de S.Paulo / Fabio Graner