Nesta segunda, dia 9, Mercadante falou para cerca de 100 dirigentes sindicais e destacou dois pontos centrais para a condução da estratégia sindical: o futuro que incide sobre o presente – e que representa uma luta política que é parte da vida do Sindicato e não pode ser esquecida – e o presente que decide o futuro – a crise financeira em que o mundo está mergulhado.
O presidente do Sindicato, Luiz Cláudio Marcolino, falou da participação do senador. "É importante debater com especialistas, ministros e parlamentares para formularmos políticas de enfrentamento da crise, preservando empregos e direitos dos trabalhadores."
E foi do que falou Mercadante. "Essa é a maior crise da nossa geração, só se assemelha à de 1929", disse o senador e economista, destacando que a maior economia do mundo, a norte-americana, quebrou. "Era responsável por 25% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e chegou ao último trimestre com 6,2% e 4,5 milhões de desempregados." Mercadante citou o exemplo do Citibank para dar uma dimensão do tamanho da crise no setor. O maior banco do mundo valia US$ 650 bi e hoje está avaliado em US$ 7 bi, tendo no governo americano o maior acionista. "Na prática, já estatizou."
Protecionismo – O senador destacou os perigos do protecionismo que muitos países vêm como solução para a crise. "Foi o pior na crise de 1929." Para Mercadante, integração regional é a resposta. "O Mercosul é metade do superávit comercial do Brasil e muitos desses países, como a Argentina, têm problemas que estão se agravando. Se a Argentina toma medidas protecionistas e o Brasil retalia – como sugeriu Skaf (Paulo Skaf, presidente da Fiesp) – os dois vão perder. A saída é o Brasil ajudar a financiar essas economias", disse Mercadante, lembrando que quando Lula assumiu, 25% das exportações brasileiras iam para os EUA. Hoje, em razão da ampliação e diversificação da pauta de exportações, essa relação é de 15%, proporcionando impacto menor da crise.
Prudência – "O Brasil era o primeiro a entrar e o último a sair nas outras crises. Essa é a primeira em que o Estado brasileiro não quebra", salientou Mercadante, elencando razões para tanto. "Acumulamos US$ 200 bi em reservas cambiais, compramos mais US$ 30 bi em reservas (swap reverso) o que nos permitiu rolar dívidas das empresas brasileiras diante da escassez do crédito. Enquanto o comércio mundial caiu 45%, as exportações brasileiras caíram menos, 20%." Além disso, a dívida pública diminuiu e o país pode dar mais prioridade a gastos sociais para proteger os mais pobres e distribuir renda.
Mercadante ressaltou, ainda, que há espaço para a queda da taxa de juros. "Cada ponto que cai são R$ 8 bi que possibilita manter investimento sem endividar o país." O sistema financeiro sólido e a presença de bancos públicos fortes também foi lembrado como um ponto positivo para o Brasil. "A ausência de prudência, de regulação e de controle no sistema financeiro são os responsáveis pela crise."
O economista defendeu a unidade sindical para fortalecer a resistência dos trabalhadores diante da crise, mas ressaltou que tem de haver limites "como fez a CUT", que se recusou a negociar de forma generalizada a redução de jornada e de salários.
Otimismo – O Brasil do pré-sal, de forte potencial agrícola, de indústria diversificada, menos endividado e de bancos públicos fortes vai conseguir amortecer a crise. Na opinião do economista Mercadante, vamos ter desemprego, mas nos setores mais afetados, como os exportadores. "O Brasil vai sair na frente e ganhar espaço internacional. E o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) é um grande instrumento de enfrentamento da crise com mudanças estruturais nos padrões de transporte, de energia, programas habitacionais."
Mercadante finalizou sua exposição sobre o presente e o futuro, lembrando do passado. "Quando olho para trás e me lembro da nossa luta contra a repressão, contra a ditadura, da fundação do Partido dos Trabalhadores e de tudo que nós fizemos, história da qual esse Sindicato faz parte, sinto muito orgulho de tudo que ajudei a construir."
Fonte: SEEB – SP / Cláudia Motta