Balões brancos foram soltos em memória aos 231 mortos na tragédia

Milhares de pessoas fizeram uma passeata na noite desta segunda-feira (28) para homenagear as vítimas do incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Vestidos com roupas brancas, muitos com cartazes com os rostos de parentes ou amigos mortos, os participantes se concentraram em frente à Catedral Diocesana e partiram em direção à rua onde está localizada a boate.

Em frente ao local da tragédia, foi feito um minuto de silêncio, quando 231 balões brancos foram soltos em direção ao céu, em referência ao número de mortos. Flores foram colocadas no local.

A multidão aplaudiu e, logo em seguida, gritou por justiça repetidas vezes. O hino do Rio Grande do Sul foi cantado pelos participantes durante a caminhada.

Com muita gente comovida, rezando, aplaudindo, gritando por justiça, a manifestação prosseguiu pelas principais ruas da cidade até o Centro Desportivo Municipal, onde a maioria das vítimas foi reconhecida e parte, velada.

A manifestação, composta principalmente por jovens, foi organizada pelas redes sociais, principalmente pelo Facebook, e teve entre 10 mil e 15 mil pessoas.

Punição dos culpados

Acusando as autoridades e especialmente a prefeitura de omissão, os estudantes cobraram investigação transparente, punição rigorosa para os culpados e a construção de um memorial em homenagem aos mortos no lugar onde hoje existe o prédio destruído da boate.

A organização do protesto começou com uma mensagem indignada do estudante Pablo Bizzi Mahmud, de 19 anos, que postou em uma rede social um texto cobrando a responsabilização do Estado pelo acidente. "Quando vi que os sócios da boate e os integrantes da banda tinham sido presos, publiquei que o Poder Público também devia ser punido. Eles têm que responder por essa tragédia. Quanto tempo vamos precisar esperar para ver o Poder Público agir e evitar esse tipo de coisa?", cobrou o estudante.

Ao longo do percurso, diversas pessoas deram depoimentos em que lamentavam a perda de amigos, parentes e colegas de universidade. A professora Luciana Montemezzo, do curso de letras da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), lembrou dos colegas que lecionam no curso de agronomia, que reúne a maior quantidade de mortos. "Como professora da UFSM, eu perdi alunos e filhos de alunos. Fico pensando nos meus colegas da agronomia, que perderam mais de 20 alunos em uma turma de 40", disse.

O presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Daniel Iliescu, compareceu ao protesto e ofereceu apoio e solidariedade aos estudantes. "Esse potencial de futuro que foi ceifado atinge não só Santa Maria, mas toda a pátria, todo o Brasil. Santa Maria não está sozinha hoje", disse.

Os vereadores receberam carta dos estudantes em que são cobradas providências para que os responsáveis sejam punidos. O vereador Coronel Vargas (PSDB) disse que já foi feita reunião entre a Mesa Diretora da Câmara de Vereadores na qual surgiu a proposta de revisão das leis que tratam da fiscalização de casas noturnas. Ele se disse satisfeito com a mobilização da juventude.

"Julgamos que este manifesto é muito importante porque os jovens são os usuários dessas casas noturnas. Nós precisamos que eles nos ajudem a fiscalizar, eles sabem o que tem de errado lá. É importante que a gente tenha essa corresponsabilidade", disse o vereador.

Justiça

Na frente da Delegacia Regional de Polícia Civil de Santa Maria, os jovens gritaram por Justiça e pediram minúcia nas investigações. Emocionado, o delegado que cuida do caso garantiu que tudo será feito com o maior rigor possível.

"Estamos trabalhando incessantemente, quase sem dormir, desde a ocorrência. Eu também perdi uma prima lá. Vamos apurar as responsabilidades, podem ter certeza disso", disse com a voz embargada no megafone dos estudantes.

Quase ao mesmo tempo em que o protesto percorria as ruas de Santa Maria, o prefeito Cezar Schimer (PMDB) fez pronunciamento à imprensa no qual apresentou documentação que ele diz comprovar a fiscalização na casa noturna no ano passado. Ele, no entanto, não quis responder a perguntas dos jornalistas e saiu sem dar mais esclarecimentos sobre a atuação da prefeitura para evitar o acidente.

Fonte: Agência Brasil

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *