"Todo banco usa papel de dívida de seus governos como principal instrumento de liquidez, que afetam o patrimônio e o capital de nível 1, o de melhor qualidade, dos bancos", aponta a especialista. "Os grandes bancos brasileiros sempre tiveram ratings muito acima da nota de dívida do governo brasileiro e percebemos que a correlação do risco de crédito dos bancos com as dívidas locais é muito maior do que se imaginava."
No Brasil, foram reduzidos ao nível da nota soberana ("Baa2", grau de investimento) os ratings de Banco do Brasil, Safra, Santander Brasil e HSBC Brasil. Apenas três instituições ficaram um degrau acima desse patamar: Bradesco, Itaú Unibanco e Itaú BBA.
Os três bancos permaneceram com notas superiores ao rating soberano porque apresentam melhor diversificação de receita e de geração de capital, que permitem enfrentar de forma mais tranquila um cenário de forte aperto econômico no país, segundo a Moody’s.
No caso do Bradesco, diz a analista, o banco tem cerca de um terço de suas receitas vinda da operação de seguros, incluindo saúde e previdência. "São atividades extrabancárias importantes, que permitem uma resistência em caso de queda de geração de receita com operações de crédito ou de tesouraria, por exemplo."
No caso de Itaú Unibanco e Itaú BBA, são as duas instituições com maior exposição internacional, especialmente na prestação de serviços. "Isso dá maior resiliência aos bancos", diz ela.
Ceres ressalta a desconexão do Santander Brasil com a matriz espanhola, "especialmente por causa da capacidade de funding própria do banco, que independe da matriz". Mas ela ressalva que, caso a nota do banco na Espanha sofra um corte acentuado, é inerente que haja uma revisão por aqui também.
As notas dos bancos brasileiros também foram colocadas em perspectiva positiva, em parte por causa da probabilidade forte de a nota soberana ser elevada.
Ceres explica que o rebaixamento nada tem a ver com o "pacote" de cortes anunciado pela agência na semana passada, que incluiu alguns dos grandes nomes financeiros de presença global, como Bank of America, Citi e Goldman Sachs.