O rebaixamento das notas de alguns dos maiores bancos brasileiros anunciado pela Moody’s é decorrente das mudanças nos parâmetros da agência usados para classificar instituições financeiras em todo o mundo. Segundo Ceres Lisboa, analista do setor bancário da Moody’s no Brasil, os cortes não ocorreram por causa de uma possível deterioração da condição de cada banco.

Desde fevereiro, a agência traçou um novo guia de análise de instituições financeiras válido para todo o mundo. De acordo com os novos parâmetros, a nota soberana do país-sede do banco passou a ter peso muito maior na avaliação da instituição, assim como alguns aspectos macroeconômicos que têm reflexo direto na geração de receitas dos bancos.

 

A partir da instituição das novas regras pela agência, cerca de 85 bancos no mundo foram colocados sob revisão – a maior parte em países emergentes, onde as notas das instituições costumavam ser muito mais altas que os ratings soberanos. Com isso, a Moody’s começou um processo de "aproximação" das notas dos bancos com a de seus países.

"Todo banco usa papel de dívida de seus governos como principal instrumento de liquidez, que afetam o patrimônio e o capital de nível 1, o de melhor qualidade, dos bancos", aponta a especialista. "Os grandes bancos brasileiros sempre tiveram ratings muito acima da nota de dívida do governo brasileiro e percebemos que a correlação do risco de crédito dos bancos com as dívidas locais é muito maior do que se imaginava."

No Brasil, foram reduzidos ao nível da nota soberana ("Baa2", grau de investimento) os ratings de Banco do Brasil, Safra, Santander Brasil e HSBC Brasil. Apenas três instituições ficaram um degrau acima desse patamar: Bradesco, Itaú Unibanco e Itaú BBA.

Os três bancos permaneceram com notas superiores ao rating soberano porque apresentam melhor diversificação de receita e de geração de capital, que permitem enfrentar de forma mais tranquila um cenário de forte aperto econômico no país, segundo a Moody’s.

No caso do Bradesco, diz a analista, o banco tem cerca de um terço de suas receitas vinda da operação de seguros, incluindo saúde e previdência. "São atividades extrabancárias importantes, que permitem uma resistência em caso de queda de geração de receita com operações de crédito ou de tesouraria, por exemplo."

No caso de Itaú Unibanco e Itaú BBA, são as duas instituições com maior exposição internacional, especialmente na prestação de serviços. "Isso dá maior resiliência aos bancos", diz ela.

Ceres ressalta a desconexão do Santander Brasil com a matriz espanhola, "especialmente por causa da capacidade de funding própria do banco, que independe da matriz". Mas ela ressalva que, caso a nota do banco na Espanha sofra um corte acentuado, é inerente que haja uma revisão por aqui também.

As notas dos bancos brasileiros também foram colocadas em perspectiva positiva, em parte por causa da probabilidade forte de a nota soberana ser elevada.

Ceres explica que o rebaixamento nada tem a ver com o "pacote" de cortes anunciado pela agência na semana passada, que incluiu alguns dos grandes nomes financeiros de presença global, como Bank of America, Citi e Goldman Sachs.

 
Fonte: Valor EconômicoFilipe Pacheco

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