Belém – As organizações que discutem a dívida externa de países do Sul levaram para a assembléia final do Fórum Social Mundial 2009 uma convocação para que todos os governos entrem em processo de auditoria e, com base nas análises, declarem a ilegalidade das dívidas, suspendendo os pagamentos e exigindo reparação por processos abusivos de endividamento. O documento, assinado pela Campanha Jubileu Sul e pela Comissão Internacional pela Anulação da Dívida do Terceiro Mundo, também reivindica que os governos dos países do Sul se retirem do G20.

Os movimentos ainda condenaram o que chamam de campanha da imprensa contra auditores fiscais que participam dos processos de autoria da dívida em países como Equador. Foi aprovada uma moção de apoio à auditora fiscal Maria Lucia Fatorelli, cedida pelo Ministério da Fazenda para auxiliar o governo equatoriano na auditoria da dívida externa.

Os movimentos também declararam apoio à decisão do Paraguai de auditar a dívida externa binacional com o Brasil e à criação da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a dívida externa no parlamento brasileiro.

"Todos os movimentos sociais devem se unir em torno da luta contra a dívida externa, especialmente neste momento de crise do capitalismo. Não devemos, não pagamos, não queremos pagar a crise dos ricos", destacou, sob aplausos, Camille Chalmers, integrante da Campanha Jubileu Sul e relator da Assembléia sobre a Auditoria da Dívida Externa na assembléia geral do Fórum Social Mundial.

"A redução dos preços das matérias-primas e as novas condições de refinanciamento da dívida do Sul anunciam uma nova crise da dívida que vai afetar as classes exploradas e facilitar o retorno dos mecanismos que as classes dominantes usam para que os pobres paguem pela crise."

De acordo com Chalmers, a resposta das "classes dominantes" à crise econômica é "vergonhosa" e mostra a capacidade que países como Estados Unidos, França e Alemanha têm para anular a dívida externa dos países do terceiro mundo.

"A abundância de liquidez para salvar os aparatos financeiros, com US$ 700 bilhões já liberados para o capital financeiro, mostra o escândalo da dívida externa, especialmente quando comparamos com o valor da dívida externa dos países do Sul e com os recursos necessários para resolver graves problemas da humanidade, como educação, saúde e fome", disse Chalmers.

Com relação ao G20, as organizações que fizeram parte da Assembléia sobre a Auditoria da Dívida Externa consideram o grupo um novo mecanismo institucional para tentar "salvar o capitalismo" e exigem que os países do Sul não participem desse fórum de discussão. Para ressaltar essa posição, os movimentos reunidos no Fórum Social Mundial firmaram um pacto de ampla participação nos protestos programados para o final de março, durante a reunião do G20.

Fonte: Rádio Nacional da Amazônia