É chegada a hora do povo brasileiro ir às ruas e dar um basta nos juros altos e no parasitismo do sistema financeiro sobre a sociedade, estancando a sangria de recursos do Orçamento para favorecer banqueiros e especuladores. Essa foi a principal decisão da 10ª Plenária Nacional da Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), realizada nesta quinta-feira (12), no Sindicato dos Bancários de São Paulo, com a participação de mais de 50 dirigentes de entidades de vários estados do país.
"Sem colocarmos o bloco na rua, continuarão as tragédias do superávit primário e do fator previdenciário, enquanto a saúde e a educação públicas continuarão à míngua, a reforma agrária não se efetivará, a jornada de trabalho não será reduzida, e tudo ficará mais difícil", declarou Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação da CUT e da direção da CMS, que coordenou a mesa de abertura do evento.
Na avaliação de Rosane, "os juros altos e o câmbio sobrevalorizado têm sido o foco dos recentes protestos que tomam as ruas das principais cidades do país, ecoando um sentimento cada vez mais generalizado contra a sangria de recursos ao exterior". A sobrevalorização artificial do real e a consequente desvalorização das moedas estrangeiras, destacou a dirigente da CUT, "vêm encarecendo a produção nacional e barateando as importações, que acabam desindustrializando e tirando os nossos empregos".
CRISE ABRE OPORTUNIDADES
Para Valter Pomar, dirigente nacional do PT e secretário-executivo do Foro de São Paulo (coordenação de partidos de esquerda da América Latina e do Caribe), que fez uma exposição histórica bastante rica sobre os desafios colocados no cenário internacional e seus desdobramentos internos, a crise dos países capitalistas centrais abre a possibilidade de um novo ciclo de crescimento para o Brasil e para a América Latina, que possibilita enfrentar a brutal desigualdade ainda existente com o fortalecimento do papel do Estado e o incentivo a políticas públicas redistributivas.
Pomar alertou para a gravidade da crise em que se vê mergulhada a Europa, "onde o passivo externo da Espanha é igual à dívida externa de todo o Terceiro Mundo, impagável". Na sua avaliação, a Alemanha, com alta tecnologia e investimentos em bens de capital, com uma indústria pesada e de alta produtividade, está subordinando as economias menores que compravam com o dinheiro que os bancos alemães emprestavam.
"O problema é que agora a periferia europeia não tem como pagar e, para os bancos alemães não falirem, precisam cobrar dos países", disse. É desta forma, denunciou, que estão sendo impostos governos de ocupação. "Na prática, é um governo supranacional, que não é eleito".
O exemplo do aposentado grego que se suicidou aos 77 anos, após ter contribuído por 35 anos com a Previdência, pois se negava a viver revolvendo as lixeiras, foi citado por Pomar para dar a dimensão do esfacelamento do Estado de bem-estar social europeu.
Em relação ao Brasil, acredita, a crise internacional abre condições concretas para um crescimento sustentado do mercado interno, desde que haja independência política e ideológica frente às chantagens dos banqueiros. Para efetivar o compromisso da última campanha presidencial de "continuar e aprofundar as mudanças", ressaltou o líder petista, é essencial que o governo enfrente de uma vez por todas o sistema financeiro, sem o que continuará refém de uma lógica perversa, jogando no ralo parte superlativa da riqueza nacional.
Os debates da tarde foram coordenados por Luiz Lafetá, da União Nacional dos Estudantes (UNE), e Carlos Rogério, da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), que reiteraram a importância do enfrentamento ao sistema financeiro e a mobilização contra os juros altos para que o país volte a crescer.
Luiz acredita que está mais do que na hora do Brasil romper com a lógica excludente e parasitária do sistema financeiro, "que consome 49% do Orçamento da União, deixando setores estratégicos para o nosso desenvolvimento, como são a educação, a saúde, a ciência e a tecnologia nacional em situação muito difícil".
Para ele, a realização da Cúpula dos Povos no Rio de Janeiro, em junho, será uma excelente oportunidade para dialogar com a população sobre a irracionalidade da manutenção de uma política econômica excludente.
Carlos Rogério alertou que, como resultado de vários aumentos sucessivos na taxa de juros, o crescimento do PIB em 2011 foi de somente 2,7%, após um crescimento de 7,5% em 2010, com sérias repercussões na indústria. A principal causa da desindustrialização do país, disse ele, está localizada no câmbio, na valorização excessiva do real, que atrai capital especulativo para a obtenção de lucros fáceis e seguros. "É preciso dar um basta nesta situação para que o país volte a caminhar para frente", enfatizou.
MST PROTESTA CONTRA CORTES
Se a situação para os trabalhadores da cidade vem piorando, no campo não é diferente, alertou Igor Felipe, do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). "Nesta semana, para manter a política de domínio e hegemonia do sistema financeiro, foram cortados 70% dos recursos do Incra, dinheiro da assistência técnica, da educação no campo. Se o ano passado foi o pior dos últimos 16 anos, estamos caminhando para 2012 ser o pior dos últimos 17 anos", condenou Igor.
No próximo dia 17, os sem terra realizarão mobilizações e ocupações em todo o território nacional para lembrar a data em que 21 pessoas foram assassinadas em Eldorado dos Carajás. "Vamos paralisar algumas das principais rodovias do país por 21 minutos para homenagear os 21 caídos na luta pela reforma agrária", acrescentou Joba Alves, do MST.
Citando a manifestação que reuniu 90 mil pessoas em frente à Assembleia Legislativa de São Paulo no ato contra a desindustrialização, "que concentrou foco num inimigo comum, que são os juros", o presidente da União de Negros pela Igualdade (UNEGRO), Edson França, defendeu "que é esta a bandeira que devemos levar as ruas do Brasil inteiro".
Edson também reiterou a importância da luta pela democratização da comunicação, "uma vez que a grande mídia atua em favor dos interesses do sistema financeiro".
A mobilização capitaneada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) por um novo marco regulatório que garanta a efetiva liberdade de expressão, esclareceu Renata Mielli, do Centro de Estudos de Mídia Barão de Itararé, "precisa ser amplamente respaldada e ser uma das nossas prioridades". Afinal, lembrou Renata, "os meios de comunicação privados são os principais aliados do sistema financeiro".
Entre outras definições aprovadas pela plenária da CMS estão a participação na Campanha "Brasil com Chávez", de solidariedade à luta do povo venezuelano e de denúncia da campanha midiática da direita em prol do candidato opositor ao presidente bolivariano; a participação na Cúpula dos Povos "como espaço de luta e denúncia contra o capitalismo e suas falsas soluções para o problema da crise ambiental" e a realização de uma assembleia massiva da CMS, no dia 19 de junho, no Rio de Janeiro.
Fonte: CUT