O Brasil registrou nesta terça-feira (21) mais um ataque à liberdade de imprensa e à Constituição. O Ministério Público Federal denunciou, por meio do procurador da República Wellington Divino Marques de Oliveira, o jornalista Gleen Greenwald por crimes relacionados à invasão de celulares de autoridades. O procurador é o mesmo que denunciou o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, por calúnia contra o Ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro.

Gleen foi o responsável pela série de reportagens Vaza Jato, publicada pelo The Intercept Brasil, no ano passado, que revelou articulações desonestas entre o ministro Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol para orientar o andamento de processos da Operação Lava Jato.

Para Gerson Carlos Pereira, secretário de Comunicação da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), a denúncia é uma perseguição à liberdade de imprensa e a democracia. “A ação do MPF é mais um ataque contra a democracia no país e tem como objetivo punir o jornalista apenas por exercer a sua profissão, que é reportar e informar”, afirmou.

A defesa do jornalista Glenn Greenwald também se manifestou acerca da denúncia, em nota assinada pelos advogados Rafael Borges e Rafael Fagundes. No texto eles afirmam que receberam com perplexidade a informação de que há uma denúncia contra o jornalista. “Trata-se de um expediente tosco que visa desrespeitar a autoridade da medida cautelar concedida na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) nº 601, do Supremo Tribunal Federal”.

De acordo com o site The Intercept Brasil, a denúncia do MPF se baseia em diálogos que já haviam sido analisados pela Polícia Federal durante a operação Spoofing -investigação sobre invasão de autoridades, lavagem de dinheiros e interceptações telefônicas – acerca dos quais a PF não imputou qualquer conduta criminosa ao jornalista.  “Causa perplexidade que o Ministério Público Federal se preste a um papel claramente político, na contramão do inquérito da própria Polícia Federal. Nós do Intercept vemos nessa ação uma tentativa de criminalizar não somente o nosso trabalho, mas de todo o jornalismo brasileiro. Não existe democracia sem jornalismo crítico e livre. A sociedade brasileira não pode aceitar abusos de poder como esse”, diz o texto distribuído à imprensa pela equipe do site.

A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirma que a denúncia tem como único propósito constranger o profissional e aponta que no texto do MPF, por duas vezes, o procurador refere-se a Greenwald com o termo jornalista entre aspas, como se ele não se qualificasse como tal – e como se coubesse a um membro do MPF definir quem é ou não jornalista”. “É um absurdo que o Ministério Público Federal abuse de suas funções para perseguir um jornalista e, assim, violar o direito dos brasileiros de viver em um país com imprensa livre e capaz de expor desvios de agentes públicos. A Abraji repudia a denúncia e apela à Justiça Federal para que a rejeite, em respeito não apenas à Constituição, mas à lógica”, diz o texto.