Passados dez meses do anúncio de que pretendia profissionalizar sua gestão e colocar fim ao tradicional sistema de rodízio entre banqueiros, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) está próxima de concluir o processo que indicará seu novo comandante, em substituição a Fábio Barbosa, do Santander.

Depois de um arrastado processo, que chegou a dar sinais de que poderia não prosperar, os bancos mais poderosos do país estão próximos de alcançar um consenso em torno da indicação de Murilo Portugal, que já ocupou diversos cargos na área econômica do governo e é funcionário do Fundo Monetário Internacional (FMI) desde 2006, no cargo de vice-diretor-gerente, terceiro na hierarquia da entidade.

O nome de Portugal foi apresentado pela empresa de "head hunting" Spencer Stuart, contratada no primeiro semestre de 2010 pela Febraban para encontrar o executivo para a função, e passou por um funil. Segundo o Valor apurou, no estágio atual do processo, são pequenas as chances de que outro indicado venha a desbancá-lo.

Mas o processo não está encerrado. A decisão final está nas mãos de Roberto Setubal, presidente do Itaú Unibanco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco, e do próprio Fábio Barbosa, que até fevereiro preside o Santander Brasil, quando passará à presidência do conselho do banco, conforme anunciado pela instituição antes do Natal.

Embora formalmente a indicação do presidente da Febraban tenha que ser aprovada em assembleia dos associados da Febraban, na prática, quem decide são os três maiores bancos privados do país e eles ainda não teriam dado a palavra final.

Pela complexa fórmula matemática que define a quantidade de votos a que tem direito cada banco, o tamanho do patrimônio líquido da instituição é o fator decisivo. Historicamente, os maiores bancos privados (Bradesco, Itaú, o antigo Unibanco e, mais recentemente, ABN-Amro Real, hoje Santander) sempre se revezaram para ocupar a cadeira que poderá vir a ser em breve de Murilo Portugal.

Sua nomeação ainda depende de uma negociação para seu desligamento do FMI. Procurado, Portugal não retornou o pedido de entrevista.

A Febraban informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "o processo de escolha do presidente da entidade, que vem se desenvolvendo há vários meses, deverá ser concluído ainda neste primeiro semestre, assim, a entidade nada tem a comentar sobre nomes cogitados pela imprensa".

Embora sem experiência no setor bancário propriamente, Murilo Portugal ganhou força em relação a outros candidatos que chegaram a ser analisados em função do trânsito político. Esse era um dos pré-requisitos mais difíceis de ser atendido, do ponto de vista dos bancos.

As instituições queriam um executivo com peso suficiente para ser respeitado pelos banqueiros como alguém que irá representá-los e, ao mesmo tempo, em condições de ser bem-recebido pelo primeiro escalão do governo para encaminhar as demandas do setor.

A equação era complicada e em meados do ano passado os bancos chegaram a pensar em abandonar a ideia de profissionalização e voltar ao sistema de rodízio.

Murilo Portugal nasceu no Rio de Janeiro em 1948, é bacharel em direito pela Universidade Federal Fluminense e mestre em Economia na Universidade de Manchester. Ocupou cargos estratégicos da área econômica no governo Fernando Henrique Cardoso e, apesar da grande identificação com os tucanos, na era Lula, ganhou a confiança de Antonio Palocci. Foi seu braço direito, como secretário-executivo do Ministério da Fazenda, entre 2005 e 2006.

O nome de Portugal havia sido cogitado para presidir a Brain, entidade criada em março do ano passado por Febraban, Anbima e BM&FBovespa com o propósito de transformar o Brasil num dos principais centros financeiros do mundo. O cargo foi ocupado por Paulo Oliveira, executivo vindo da bolsa.

Paralelamente à presidência, que tem peso político, a Febraban tem um diretor-geral, Wilson Levorato. O cargo foi criado para assumir funções do dia a dia com a entrada de Gabriel Ferreira na presidência, em 2001. Ainda não está claro o que acontecerá com essa função a partir da profissionalização da presidência.

A decisão de profissionalizar foi tomada no início do ano passado. Como o processo de escolha de um executivo demandaria tempo, o mandato de Fábio Barbosa foi prorrogado por mais um ano e expira agora em março.

Fonte: Valor Econômico / Vanessa Adachi

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