RIO DE JANEIRO – A intensa disputa que se avizinha por conta da criação da CPI da Petrobras no Senado já começa a influenciar a movimentação das forças políticas em todo o Brasil. Seja entre os partidos e parlamentares, seja entre as organizações representativas da sociedade civil, os atores políticos já começam a tomar posição frente a uma CPI que, nisso todos concordam, terá o efeito imediato de antecipar o debate eleitoral de 2010. Enquanto as coisas esquentam na arena política, a direção da Petrobras e o Palácio do Planalto temem que a disputa acabe por enfraquecer a importante imagem da qual a empresa desfruta hoje em nível internacional.
Com a participação de entidades como CUT, UNE, MST, CTB e OAB-RJ, entre outras, acontecerá às nove da manhã desta quinta-feira (21), na Cinelândia (Rio de Janeiro), a primeira de uma série de manifestações em defesa da Petrobras que percorrerá o país. Organizado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), o ato será seguido de uma passeata até a sede da empresa, onde os manifestantes deverão promover um abraço simbólico do edifício.
Em nota divulgada nesta quarta-feira (20), a FUP e a CUT convocam os trabalhadores a tomar parte na manifestação: “O ato público reforçará a urgência de uma nova legislação para garantir o controle estatal e social sobre as reservas brasileiras de petróleo e gás, além de defender a Petrobrás dos ataques tucanos contra a soberania nacional”, diz a nota, que não poupa o PSDB e afirma que o enquanto o partido “arma uma CPI para desestabilizar a empresa que representa a maior fonte de investimentos do país, as multinacionais avançam sobre o pré-sal, intensificando os projetos exploratórios sobre a maior reserva petrolífera descoberta no mundo nos últimos anos”.
O documento dos petroleiros acusa os tucanos de tentarem enfraquecer a Petrobras: “Não por acaso, essa CPI armada pelo PSDB surge no momento em que o governo e a sociedade discutem mudanças na Lei do Petróleo, uma das piores heranças deixadas pelos tucanos. A descoberta do pré-sal trouxe à tona a urgência de novas regras para o setor, que foi totalmente desregulamentado nos anos 90, quando o PSDB entregou às multinacionais a exploração do nosso petróleo e gás. Os tucanos e demais setores conservadores da política nacional não querem que a Petrobrás nem o Estado brasileiro voltem a controlar esse patrimônio tão estratégico para o Brasil”.
Se a disputa política parece estar prestes a ganhar as ruas, no Senado ela já está fervendo. Incapaz de evitar a criação da CPI, a base governista tenta agora ocupar os cargos-chave da comissão de inquérito para controlar as investigações sobre a Petrobras. De acordo com as regras da proporcionalidade observada entre as bancadas, a base governista tem direito a oito das onze cadeiras de titulares da CPI. Com isso, a tendência é que PT e PMDB dividam entre si a presidência e a relatoria dos trabalhos.
Oposição quer presidência – A oposição, naturalmente, tenta obter ao menos a presidência da CPI, posto para o qual até já apresentou o nome do senador Antônio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA). É uma vitória difícil, e para conquistá-la tucanos e democratas contam com uma dissidência no PMDB que venha a enfraquecer a base governista.
O ponto de rachadura em que aposta a oposição tem nome e sobrenome: Renan Calheiros (PMDB-AL). O atual líder do partido vive uma mágoa incontida com o PT desde que foi afastado da presidência do Senado, e agora vê sua margem de ação avançar graças a aparente imobilidade do líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), que estaria insatisfeito com o Planalto desde que indicados seus foram afastados de cargos na Infraero.
Outra tática da oposição é incluir na investigação o maior número possível de denúncias, tentando fazer da CPI da Petrobras uma nova edição da “CPI do fim do mundo”, como ficou conhecida a CPI dos Bingos à época das denúncias do mensalão. O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), já admitiu que os objetos de investigação listados inicialmente podem ser abandonados: “O que mais preocupa os petistas é o que ainda não foi divulgado”, disse. Autor do requerimento de CPI, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) segue a mesma linha: “A CPI é uma investigação política. Ela pode prescindir das provas factuais. Para ela, bastam os indícios”, disse, em entrevista ao programa Roda Viva.
Boa reputação – Atuando como bombeiro, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, já afirmou o compromisso de colaborar ao máximo com a CPI e entregar aos senadores todos os documentos que forem solicitados. Ele afirmou que a empresa está “preocupada” com a possibilidade de a repercussão internacional da CPI enfraquecer a marca Petrobras, mas também “tranqüila” em relação às investigações: “Vamos responder a todas as questões que aparecerem”, garantiu, antes de criticar aqueles que querem generalizar as investigações: “Trataremos os problemas de denúncias genéricas como denúncias genéricas e vamos responder a todos os fatos concretos com a maior transparência”, disse.
Gabrielli está acompanhado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em seu périplo internacional. Em Pequim, participou na terça-feira (21) da assinatura do contrato com o Banco de Desenvolvimento da China, que vai investir US$ 10 bilhões na Petrobras. Feliz com o acordo que, segundo ele, “nos dá tranqüilidade para financiar nossos investimentos”, Gabrielli lembrou que negócios como esse não seriam fechados não fosse a boa reputação da Petrobras: “A reputação de uma empresa como a Petrobras atinge também seus trabalhadores, acionistas e fornecedores. É algo que tem impacto na própria sociedade brasileira”.
Fonte: Agência Carta Maior