Há expectativa no mercado financeiro sobre o destino que terá a participação acionária da Administração Nacional de Seguridade Social (Anses), o INSS da Argentina, dona de 14,66% das ações. Em 2008, o governo estatizou os fundos de pensão, impedindo os associados de mudar a aplicação da futura aposentadoria.
O dinheiro não foi tocado, mas os rendimentos dos investimentos feitos pela Anses se converteram em uma importante fonte de financiamento público. Por isso, a inclusão da participação acionária da Anses na venda do Patagônia ao BB pode gerar dividendos ao governo, além de permitir uma engenharia pouco imaginada no início: manter a família Stuart Milne na sociedade, desfazendo-se apenas de parte do capital, sem atrapalhar a estratégia de fazer do BB o acionista majoritário.
Além dos Stuart Milne e da Anses, também são acionistas o empresário Emilio Carlos González Moreno, a Província de Rio Negro (cujo banco provincial foi comprado pelo Patagônia em 1996) e o grupo italiano Intesa San Paolo (por sua participação na filial argentina do Bamerindus, que se fundiu com o Patagônia em 2003). O banco também incorporou a subsidiária local do Lloyds TSB Bank.
Em 2009, segundo balanço publicado na segunda quinzena de fevereiro, o Patagônia teve lucro líquido de 448,8 milhões de pesos – pela cotação oficial de ontem, o equivalente a R$ 207 milhões. O desempenho foi 62% superior ao do ano anterior.
Atualmente, o Patagônia tem 155 agências espalhadas pelo país e 294 caixas eletrônicos próprios – na Argentina, é comum o compartilhamento dos caixas entre diversos bancos, por meio de uma única rede. São 720 mil contas de pessoas físicas, mas o grande foco está na clientela de 32 mil micro e pequenas empresas, às quais se prestam serviços de crédito, pagamento a funcionários e na área de comércio exterior. Além disso, tem 2 mil médias e grandes empresas entre seus clientes e uma carteira de empréstimos pouco superior a US$ 1 bilhão.
A maior presença do Patagônia está na capital argentina, na Província de Buenos Aires e em Rio Negro, onde atuam como agente financeiro do governo provincial, com a folha de salários, por exemplo. Nessas três regiões estão 56% das operações totais. Fundado em 1976, a marca Patagônia pode ser vista com razoável frequência em Buenos Aires, embora seja apenas o quarto maior de capital nacional.
O banco só ganhou esse nome em 2000. No início, atuou como Cambio Mildesa e depois como Banco Mildesa. O grande salto se deu em 1996, no governo peronista do ex-presidente Carlos Menem, quando as endividadas províncias argentinas resolveram vender seus bancos.
Para o BB, trata-se de um meio para entrar no varejo argentino, iniciando seu processo de internacionalização. E, principalmente, dar suporte mais firme às cerca de 200 empresas brasileiros que já atuam no país.
Em entrevista em São Paulo, na sexta-feira, o presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, disse estar avaliando inúmeras oportunidades que "façam sentido" na América Latina. Ele não quis falar sobre as negociações para compra do Banco da Patagônia, na Argentina. Mas informou que o BB está transformando seu escritório de representação no Uruguai em agência, para melhor atender as empresas brasileiras que têm cada vez mais negócios por lá. "As empresas brasileiras estão se transformando cada vez mais em multinacionais e o Banco do Brasil quer ajudá-las nessa expansão", afirmou.
Fonte: Valor Econômico / Daniel Rittner, de Buenos Aires
Colaboração de Cristiane Perini Lucchesi, de São Paulo